Terapia melhora eficácia do tratamento de câncer de pulmão
O tratamento de câncer de pulmão pode ganhar uma importante aliada: a combinação de imunoterapias administradas antes da cirurgia de câncer de pulmão de células não pequenas em estágio inicial. É o que demonstra um ensaio clínico randomizado fase 2, idealizado pelo médico William Nassib William Júnior, diretor de Oncologia Clínica e Hematologia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, e conduzido pela equipe do MD Anderson Cancer Center, da Universidade do Texas (EUA), publicado na Nature Medicine nesta quinta-feira, 18 de fevereiro. Os médicos Tina Cascone e Boris Sepesi, ambos da universidade norte-americana, são co-investigadores do estudo junto com o profissional brasileiro.
Intitulado Neostar, o estudo mostrou que a terapia com uma dupla de drogas estimuladoras do sistema imune, o nivolumabe e o ipilimumabe, é capaz de erradicar uma maior quantidade de células tumorais quando administradas antes da cirurgia, indicando que esse pode ser um caminho para enfrentar precocemente essa doença.
“Esse é um importante passo no tratamento de câncer de pulmão, pois durante muito tempo essas medicações eram usadas apenas em pacientes com câncer avançado, de forma a oferecer aumento de sobrevida, porém de maneira limitada. Agora, estamos desenvolvendo estudos usando essas drogas em estágios mais precoces da doença, antes mesmo da cirurgia, quando existe possibilidade de se eliminar o tumor. E os resultados indicam que, no futuro, a imunoterapia possa ser usada para aumentar substancialmente a chance de erradicação do câncer de pulmão inicial e aumentar as taxas de cura”, afirma William.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o câncer de pulmão é hoje o tumor que mais mata no mundo e, por isso, detectá-lo em fases iniciais é importante para um melhor prognóstico. Assim como mulheres devem fazer a mamografia periódica para detecção precoce de câncer de mama, fumantes e ex-fumantes também devem se submeter ao rastreamento do câncer de pulmão com a realização, por exemplo, de tomografias computadorizadas de baixa dose, que podem detectar a doença quando a cirurgia ainda pode ser realizada. Por isso, estudos como o Neostar são tão importantes, já que essas estratégias podem melhorar os resultados obtidos com a cirurgia isoladamente. “As taxas de sucesso com a cirurgia e a quimioterapia tradicional ainda estão longe do ideal, mesmo no câncer de pulmão em estágio inicial. O uso da imunoterapia pré-cirurgia está ganhando respaldo científico e deve se tornar um tratamento padrão mais eficaz para o câncer de pulmão em breve”, avalia William.
A pesquisa
O estudo Neostar foi realizado de junho de 2017 a novembro de 2018 com 44 pacientes, que foram divididos em dois grupos: um recebeu apenas o nivolumabe e o outro recebeu nivolumabe e ipilimumabe durante 6 semanas antes da operação. A idade mediana dos participantes era de 66 anos e 64% eram do sexo masculino. A maioria dos participantes tinha histórico de tabagismo: 23% foram identificados como fumantes atuais e 59% como ex-fumantes.
Os resultados do ensaio demonstraram que a terapia dupla (com nivolumabe e ipilimumabe) levou a maior estimulação da resposta imunológica, o que pode se traduzir em menor risco de recidiva do tumor a longo prazo. Os pacientes continuam sendo acompanhados para que esses resultados sejam avaliados anos após a realização das cirurgias.
Os pesquisadores também analisaram o microbioma intestinal dos participantes do estudo e descobriram que a eficácia da terapia combinada estava associada à presença de algumas bactérias específicas no intestino, demonstrando o impacto do meio ambiente e dos hábitos dos pacientes no sucesso do tratamento.
O estudo Neostar acabou se transformando em uma plataforma de pesquisa, permitindo adicionar novos esquemas de tratamento com outras combinações de drogas que possam ser rapidamente testadas. “Já estão em avaliação abordagens com o nivolumabe e ipilimumabe associados à quimioterapia, cujos resultados podem sair ainda este ano, e também com o nivolumabe sozinho associado à quimioterapia, cujas análises estão em andamento. Tudo isso é muito promissor para a evolução do tratamento dessa doença que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo todos os anos”, conclui o médico da BP.