Só 21% das empresas têm ações apoiadas na atenção primária
A pandemia do novo coronavírus trouxe um importante aprendizado às empresas: a necessidade de fazer a gestão de dados sobre a saúde de seus colaboradores e desenvolver programas de prevenção às doenças e de promoção à qualidade de vida aos funcionários. Os objetivos são claros: minimizar os afastamentos, o absenteísmo, o controle de doenças crônicas e até mesmo para atender demandas de fortalecimento de processos e gerenciamento de crises com mais êxito.
No entanto, uma pesquisa sobre saúde corporativa realizada pela TM Jobs, com gestores de Saúde e Recursos Humanos de 155 empresas de todo o país, mostrou que a maioria das organizações ainda atua de maneira reativa e não preventiva em relação à saúde de seus colaboradores.
Quando perguntado sobre possuir programas de promoção à saúde e prevenção às doenças, apenas 21,1% das empresas respondentes disseram ter ações com apoio da atenção primária, que, por definição do Ministério da Saúde, é fundamental na prevenção, promoção, cura e reabilitação dos indivíduos. Também é a partir dela que o colaborador é direcionado a serviços especializados para o cuidado quando necessário.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), desde 1979, a atenção primária é a principal estratégia para o alcance da promoção e da assistência à saúde e ao bem-estar das pessoas, inclusive dos trabalhadores. Além disso, instituições que assumem seus princípios obtém melhores resultados e aumento da eficiência do conjunto de ações dos programas de saúde.
A maioria dos gestores respondentes ao estudo ainda informou que suas organizações se apoiam na medicina do Trabalho (71,1%), na oferta de convênios médicos (67,8%) e em saúde ocupacional (64,4%) para promover os cuidados com a saúde de seus colaboradores, o que mostra que poucas empresas possuem projetos integrados de prevenção às doenças e programas de qualidade vida.
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), cuidar da saúde e do bem-estar dos funcionários vai além de ofertar o benefício de um plano de saúde e processos de segurança e melhorias nas condições de trabalho. Segundo a entidade internacional, é preciso que as organizações ofereçam uma rede de atenção integral à saúde do trabalhador, que o proteja, controle os danos à sua vida, previna doenças e promova o seu bem-estar.
Recursos Humanos
Ainda 58,9% das participantes do estudo disseram se apoiar na área de Recursos Humanos em seus programas de promoção e prevenção às doenças aos colaboradores, mostrando o quanto é importante um novo olhar para a gestão deste setor e o quanto ele terá de se adaptar aos novos cenários. “O ano de 2020 mostrou que a lista de desafios para os RHs é grande e os profissionais desta área vão precisar de habilidades para conduzir situações que podem trazer grande impacto às empresas”, destaca Tania Machado, CEO da TM Jobs e vice-presidente de Saúde Corporativa da Associação Brasileira de Profissionais de Recursos Humanos (ABPRH).
Ela explica que a comunicação interna tem um papel extremamente importante nesse processo e que o RH precisa estar alinhado e na mesma direção desta interlocução para que possa gerar benefícios aos colaboradores e às empresas. O estímulo à inovação para lidar com tantas mudanças é um desafio que o setor terá que adotar, com valores mais humanos e com o engajamento dos colaboradores no autocuidado.
“Algum tempo atrás, saúde corporativa se resumia a empresa contratar um plano de saúde e disponibilizá-lo aos seus colaboradores. Hoje, o conceito ganhou novas perspectivas e o RH precisa investir muito em propostas educativas contínuas que estimulam a adoção de hábitos saudáveis”, ressalta Tania, que afirma que a comunicação interna não é commodity e a colaboração e a cooperação são fundamentais nesse novo normal. “As organizações, o RH, os departamentos de marketing e a comunicação, medicina do Trabalho e saúde ocupacional devem estar prontos para avançar e desempenhar o importante papel de promotores dos cuidados e da qualidade de vida. A integração dessas áreas faz toda a diferença, pois, atuando como agentes de mudança, irão recuperar a confiança das pessoas no retorno ao trabalho, nas atividades cotidianas e na promoção da saúde”, garante.
O objetivo da pesquisa realizada pela TM Jobs, que contou com a participação em sua maioria (78,8%) de grandes empresas (entre mil e 3 mil funcionários), com filiais (68,8%), dos setores da construção civil, indústria, varejo, saúde, serviços e outros, foi exatamente entender a cultura de saúde e bem-estar nas organizações nacionais. A maioria dos gestores responderam ao questionário do estudo informou ter controle sobre a sinistralidade (76,7%). O mesmo percentual (76,7) afirmou controlar o absenteísmo.
Quando questionado sobre uso de People Analytics – processo de coleta, organização e análise de dados voltados para a gestão de pessoas em empresas, a partir da ideia de big data, aplicando os preceitos do business intelligence à área de RH – para suporte na gestão do seu colaborador, 61,1% disseram não fazer uso do método, conhecido como estratégia de reconhecimento de que os trabalhadores são o mais valiosos recursos de uma empresa e que, portanto, é necessário mensurar para entender o que os torna engajados, produtivos e felizes no ambiente de trabalho, segundo a McKinsey & Company, consultoria empresarial americana.
Além disso, 57,8% das empresas que possuem ferramentas de gerenciamento sobre os colaboradores não possuem informações que direcionam para a captação de dados de saúde.
Sobre ter programas de teleatendimento e telemonitoramento com profissionais de saúde, a maioria dos respondentes (66,7%) afirmou possuir a presença desses agentes nas organizações. No entanto, 58,9% disseram que não existe integração de projetos de saúde entre as áreas da empresa.
Mais atenção à saúde mental
Segundo a OMS, mais de 18 milhões de brasileiros sofrem de ansiedade; e de acordo com dados oficiais do Ministério da Saúde, os transtornos psicológicos são a terceira maior causa de afastamento dos colaboradores nas empresas ao solicitarem o auxílio-doença pelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS). Em um contexto de tamanha tensão, ainda mais com a pandemia, acredita-se que as organizações estão alertas sobre este problemas e estão buscando ações para impedir e/ou minimizar que esses distúrbios emocionais evoluam para uma depressão.
Mas, a pesquisa da TM Jobs mostrou que ainda falta efetividade por parte das empresas quando o assunto é saúde mental.
Quando questionado aos gestores que participaram do estudo se a instituição possui um plano estratégico de bem-estar que inclui programas de saúde mental, apenas 36,7% disseram que sim. Número muito próximo dos que afirmaram ter ações em prol das doenças crônicas (37,8%).
68,9% ainda disseram não possuir área de descompressão e atendimento psicológico e psiquiátrico e 50% não tem parceria com academias e prática de ginástica laboral.
Programas de sobrepeso (25,6%), de diabetes (24,4%), de controle de pressão arterial e AVC (21,1%) e de natalidade (18,9%) também estão pouco presentes no plano estratégico das organizações. 31,1% disseram não ter nenhuma ação específica de saúde e 48,9% tem programas de promoção e prevenção não específicos.
A presença ou ausência dessas ações mostram a cultura das organizações e o diagnóstico do nível da abordagem sobre a saúde na seleção, integração, admissão e demais processos que envolvem os colaboradores.
Isso fica evidenciado quando na integração do colaborador existe a apresentação de gestão de saúde colaborador apenas para 26,7% das instituições participantes do estudo e empoderamento do funcionário no autocuidado acontece em apenas 14,4% das empresas.
E quando perguntado a nota que o gestor de Saúde e de RH daria à sua organização em relação à promoção em saúde e prevenção de doenças 22,2% deram nota 7, a maioria dos respondentes. Para 15,6%, as notas dadas foram 6 e 8; 8,9% deram nota 5; 7,8% foi o percentual para as notas 9 e 2, assim como 6,7% para as pontuações 10 e 4. Nota 3 foi dada por 5,6% dos que participaram da pesquisa e 3,3% deram 0 para sua empresa.
Para a CEO da TM Jobs, uma forma de mudar este cenário é a criação de Grupos de Melhoria de Saúde Continua (GMSC) para auxiliar a no desenvolvimento de ações que identifiquem ameaças, problemas, oportunidades e traga inovação e estratégias para medir e mensurar os resultados.
Tania Machado também afirma que a comunicação em saúde corporativa é fundamental, acessível e eficiente, assim como ações preventivas em relação aos cuidados com a saúde, pois gera resultados duradouros e reputação de confiança.
As vantagens trazidas às organizações essas medidas são diversas: melhora da saúde física e mental e da energia do colaborador; aumento do nível de satisfação; melhora no desempenho e no clima organizacional; redução do estresse dos funcionários e pressão, da incidência de acidentes de trabalho, do o absenteísmo, dos atrasos, dos custos com doenças e seguro saúde, da taxa de erros operacionais e retrabalho e de turnover (alta rotatividade de funcionários). “A saúde dos colaboradores impacta diretamente na motivação, no rendimento e na produtividade da empresa, e sempre é melhor prevenir do que remediar”, garante Tania.