A democratização da saúde nas mãos do atendimento remoto

Por Pablo Juan Morais da Cruz

Diante de todo o caos gerado pelo novo coronavírus, a saúde enfrenta altos e baixos. Enquanto hospitais, clínicas e laboratórios assistiram à debandada de pacientes que temiam a contaminação e, por isso, deixaram de realizar seus procedimentos e exames eletivos, um movimento, que não é recente, mas que ainda precisava ser desbravado ganhou mais relevância.

Durante a pandemia, a telessaúde ficou em evidência, visto que a telemedicina foi aprovada em caráter de emergência e instituições, médicos e pacientes tiveram de se adaptar ao atendimento à distância. Pensar em medicina remota rapidamente se tornou uma realidade.

Mesmo que, para os pacientes, o atendimento à distância pareça “coisa do futuro”, para quem está diariamente envolvido com as demandas da saúde essa é uma realidade que há décadas já se solidifica no nosso país. A telemedicina não caminha sozinha. Ela está se desenvolvendo sobre uma base já consolidada e formada pela teleoperação e pelo telemonitoramento, que auxiliam a medicina diagnóstica a driblar as inúmeras barreiras geográficas construídas em um país continental como o Brasil.

De certa forma, todos os conceitos de saúde à distância são formados com o objetivo de utilizar a tecnologia disponível para atender mais e melhor. E, nos nossos 8,5 milhões de quilômetros quadrados de território, ocupados por quase 210 milhões de pessoas, esse “mais e melhor” é desafiador.

Justamente por isso que enxergamos que a telessaúde tem um viés social de inclusão magnífico. Por meio desses caminhos virtuais, a população consegue o tão sonhado atendimento, garantido, inclusive, pela nossa constituição. É a tecnologia sendo democrática. As “teles” surgem com a missão de ampliar a atuação dos profissionais da saúde, não só no diagnóstico, mas em todo o restante da cadeia.

E temos muitas ferramentas à disposição para implementar esses sistemas. Hoje, com a inteligência artificial, a robótica, as plataformas digitais e a internet das coisas, temos inúmeras possibilidades para criar e investir.

Associada à medicina diagnóstica, a teleoperação permite, por exemplo, que ressonâncias magnéticas e tomografias computadorizadas sejam feitas à distância. Além da vantagem geográfica, visto que nem sempre temos profissionais disponíveis em todas as regiões do país para operar esses sistemas, há todo um compilado de benefícios desse modelo: redução do risco de exposição à radiação, melhoria da performance, aumento da produtividade, padronização dos protocolos e eficiência operacional. É um modelo de negócio que pode se expandir para outros tantos exames como, por exemplo, o Raios X.

O segredo da inovação muitas vezes está em adaptar, à nossa realidade, soluções já existentes aplicadas por outros setores estratégicos. Nem sempre inventar a roda é necessário. A teleoperação, mesmo, quantas vezes já foi utilizada na história? Hoje em dia, trens são controlados remotamente, veículos marinhos que vasculham as profundezas do mar também. Por que não controlar as máquinas da saúde?

Quando mergulhamos nas interfaces do telemonitoramento, temos soluções capazes de monitorar todas as ultrassonografias que estão sendo feitas oferecendo suporte técnico aos médicos que realizam o exame. E, atrelado a isso, temos a tele-educação. Por meio da plataforma digital de monitoramento, um médico residente com dúvidas durante a realização de um exame ou elaboração de um laudo, pode acionar outros profissionais especialistas que estão, em tempo real, monitorando a produção. Assim, conseguem receber orientação para a melhor abordagem, qualificando o profissional médico em pontos técnicos para um diagnóstico mais preciso.

No âmbito dos negócios em saúde, monitorar os equipamentos à distância também é indispensável. Quando um serviço depende totalmente do acesso manual realizado por um profissional, precisamos prever um plano de monitoramento e gestão dos impactos, já que controles manuais podem gerar riscos à operação. De forma automatizada e controlada, podemos acessar equipamentos de engenharia clínica, medindo níveis de gás hélio, temperatura da sala, funcionamento do chiller, entre outras benesses. À distância, de forma segura e confiável. Hoje também já é possível.

Com as ferramentas adequadas para teleoperar e telemonitorar, os resultados se perpetuam além do diagnóstico daquele paciente especificamente. Se atrelarmos a todos esses processos, mecanismos de inteligência artificial, somos capazes de gerar dados inteligentes que podem melhorar os próprios processos, predizer desempenho de equipamentos e até mesmo traçar detalhes epidemiológicos, contribuindo para a saúde populacional.

Esse não é o futuro da saúde. É o presente. E a COVID-19 fez com que a telemedicina entrasse na casa dos brasileiros, modificasse a forma de trabalho dos médicos, e mostrasse a todos que o caminho da tecnologia é profícuo, interessante e viável.


* Pablo Juan Morais da Cruz é head de Tecnologia e Plataformas digitais na NESS Health. 

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