A criopreservação pode mudar a perspectiva populacional

Por Cláudia Navarro

Uma pesquisa divulgada recentemente pela revista The Lancet mostrou que, em 2100, a população mundial será menor do que prevíamos anteriormente. Isso porque, segundo o estudo, o mundo deve atingir um pico de 9,7 bilhões de pessoas em 2065 e começará a declinar chegando a 8,8 bilhões em 2100. Um dos fatores apresentados para a provável causa disso é queda da taxa de natalidade, causada pela conscientização sexual feminina e o planejamento familiar. E é sobre esse último item que gostaria de falar.

O planejamento familiar, pouco concebido décadas atrás quando a mulher assumia o papel único de progenitora e administradora da casa, é parte da sociedade moderna. Sociedade essa que conta com homens e mulheres no mercado de trabalho tendo, ambos, como agentes da economia.

Sabemos que muitas mulheres tendem a pensar primeiro em suas formações e carreiras. E, depois, somente quando ela e o parceiro ou parceira se veem num bom momento, planejam aumentar a família. E a tendência que se percebe é de que os casais tenham cada vez menos filhos.

O problema é que a biologia feminina não acompanha a modernidade. A capacidade reprodutiva da mulher começa a cair de forma acentuada aos 35 anos. E essa idade pode coincidir muito com o exato momento em que milhares de mulheres estão no auge de suas carreiras e ainda sem planejamento para maternidade.

Um caminho para que esse atraso para ter o primeiro filho não interfira no desejo de ser mãe e, consequentemente, nas taxas de natalidade (pensando num comportamento parecido em um grupo de milhares de mulheres) é a criopreservação.

Essa técnica consiste no congelamento de óvulos ou sêmen saudáveis, coletados antes dos 35 anos, ou mesmo embriões fertilizados In Vitro, para posterior uso no momento escolhido pela futura mãe. Essa transferência deve ocorrer preferencialmente até os 50 anos de idade (observadas as condições de saúde da mulher).

Importantes estudos na área mostram que a criopreservação traz boas taxas de sucesso. A Reprodução Assistida é um campo que tem ajudado a melhorar a fertilidade no mundo inteiro. O Brasil, por exemplo, é o país que mais completou ciclos de fertilização na América Latina.

Muito mais que planejamento familiar, técnicas como a criopreservação podem ser também um alento às pessoas que não podem ter filhos. A infertilidade atinge entre 50 e 80 milhões de pessoas no mundo, segundo a OMS. Milhares de casais se beneficiam das diversas técnicas existentes. Além disso, eles podem recorrer à doação de gametas, quando seu próprio material genético não estiver em condições de uso.

A ciência mostra que é possível planejar e acompanhar o mundo moderno e as novas práticas da sociedade. No futuro, acredito, a Reprodução Assistida, por meio das atuais e das próximas descobertas científicas, irá contribuir ainda mais.


*Cláudia Navarro é especialista em reprodução assistida, diretora clínica da Life Search e membro das Sociedades Americana de Medicina Reprodutiva – ASRM e Europeia de Reprodução Humana e Embriologia – ESHRE.

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