Saúde e pesquisa como áreas estratégicas de defesa do país
Por Benisio Ferreira da Silva Filho e Alessandro Castanha
A pandemia da Covid-19 evidenciou alguns fatos importantes em nosso país, como o baixo investimento em saúde e ciência. Atualmente, a renda per capita em saúde anual é de apenas R$ 555,00, o que mostra uma queda do montante aplicado em outros anos. Isso tem resultado catastrófico, pois, como apresenta o próprio governo, é um prejuízo de mais de 400 milhões ao longo de 20 anos de congelamento. Tal situação tem se mostrado na quantidade de mortes causada pelo coronavírus, números que passam de 100 mil desde março deste ano.
Não é alarde sensacionalista, mas é certo e a comunidade científica sabe que em breve teremos outra pandemia. Quando? Não sabemos. Sabemos apenas que existem outros patógenos (vírus, bactérias e fungos) que podem começar a infectar humanos. Quando isso ocorrerá? Não sabemos.
Sendo esta uma verdade, nosso país deve enxergar o setor de saúde e ciência como parte estratégica para o desenvolvimento, e a partir de hoje fazer parte dos planos de defesa do país. O Coronavírus SARS-CoV-2, além das mortes que causou, provocou um abalo econômico no mundo. Os países independentes cientificamente são os que menos sofreram com o impacto. Países como o Brasil que dependem de outros para ter equipamentos, reagentes laboratoriais e material para proteção dos profissionais, teve seu problema potencializado pela inexistência de recursos próprios, mesmo possuindo excelentes profissionais em todas as áreas.
Torna-se obvio que os recursos empregados na área são insuficientes perante os processos pandêmicos, que valores como os que são fornecidos por pessoa são irrisórios de acordo com a necessidade. É um grave problema de saúde pública, pois deixa-se de pensar em prevenção e passa-se a pensar em remediação do problema. A medicina preventiva sempre foi e sempre será a medida mais econômica para os sistemas de saúde, pois é fato comprovado pela própria história que temos a capacidade de erradicar doenças do nosso meio, reduzir comorbidades e gerar prognósticos melhores para a saúde da população.
Da mesma forma que temos a saúde desprovida de recursos, não podemos deixar de analisar a ciência, tecnologia e inovação em nosso país. Estas, tanto quanto, a área de saúde vem ano após ano sofrendo com a decadência de investimento. Atualmente no Brasil, a aplicação de recursos gira em torno de 1,8% do PIB segundo o Ipea (Institude de Pesquisa Econômica Aplicada), enquanto países como EUA, Inglaterra e Alemanha investem 4%, 11% e 12%, respectivamente, em ciência e tecnologia.
Temos conhecimento e mão de obra especializada para produzir todos os equipamentos necessários. Temos conhecimento também para produzir reagentes, insumos laboratoriais, vacinas e fármacos. No entanto, sofremos com o não conhecimento dos números reais de pessoas infectadas, só contabilizamos infelizmente os mortos, não fizemos desde o início a testagem da população do jeito que deveria ser porque não tínhamos testes suficientes. Ficamos em pânico com a ideia da superlotação dos hospitais pois não há equipamentos para tantas pessoas, tivemos que comprar de outros países. Máscaras? Importamos milhares.
De fato, a falta de incentivo, fomento e políticas eficientes para áreas de saúde, pesquisa e desenvolvimento, acaba limitando muito o desenvolvimento tecnológico e inovações na linha de frente do combate de pandemias. A capacidade das instituições de pesquisa em superar as dificuldades de investimento ficou evidenciada na atual situação, foram inúmeros esforços na produção de respiradores de baixo custo para suprir a necessidade das UTIs para melhorar a sobrevida de pacientes com a Covid-19.
O fato de empregarmos parcos recursos é preocupante, pois enquanto países como EUA aplicam US$ 6 bilhões de dólares na ampliação do desenvolvimento de pesquisa em saúde e despontando na frente da descoberta de medicamentos e vacinas, nós brasileiros, não participamos diretamente como desenvolvedores ou parceiros em esforço conjunto internacional para tal e assim ficamos cada vez mais para trás, o que nos coloca numa posição final quando estes recursos tornarem-se disponíveis.
Sabendo que iremos enfrentar isso no futuro, acreditamos que a área de saúde, ciência e tecnologia deve a partir deste ano, fazer parte do programa de defesa do país, caso contrário estaremos de joelhos na próxima grande pandemia. Se continuarmos com os pequenos recursos investidos em saúde, ciência, pesquisa e desenvolvimento enfrentaremos os mesmos problemas sempre. Será que 2020 não é suficiente para mostrar que isso deve mudar?
*Benisio Ferreira da Silva Filho é biomédico, doutor em Biotecnologia e coordenador do curso de Biomedicina do Centro Universitário Internacional Uninter.
*Alessandro Castanha é biólogo, especialista em Microbiologia clínica e professor do Centro Universitário Internacional Uninter.