Claudia Toledo: a pandemia e o desafio da informação baseada em evidência
A pandemia do Coronavírus já é o maior desafio da área de saúde em décadas. Na linha de frente do combate à pandemia, cientistas e profissionais de medicina de todo o mundo realizam estudos, trocam informações e realizam testes para chegar, o mais rápido possível, a uma cura ou tratamento. Com novas informações surgindo a todo momento, o desafio é disponibilizar informação segura, baseada em evidências e atualizada constantemente com comprovação científica.
Visando justamente colaborar com a comunidade médica e científica, a Elsevier disponibilizou recursos de pesquisa gratuitos desde o início da Covid-19 – com o lançamento do Hub de Informações Gratuitas do Coronavírus.
Para falar sobre o impacto do uso das tecnologias de informação e comunicação no atual cenário, Claudia Toledo, Diretora de Clinical Solutions da Elsevier Brasil, conta como as soluções digitais estão contribuindo para que o trabalho médico seja realizado de forma mais segura e efetiva.
Como você vê a atual situação em relação à Covid-19 e o uso das tecnologias? Estamos vivendo um momento de disruptura?
Estamos. A primeira, mais rápida e mais significativa mudança é relativa à adoção da telemedicina. A modalidade médico-médico, que já era realidade no Brasil, foi ampliada para a medicina interativa com a relação médico-paciente em tempo real, bem como o telemonitoramento que se dá através do monitoramento dos pacientes com dispositivos médicos móveis (biossensores) como oxímetro, balança, etc. Um misto de incentivos para que isto ocorra inclui a necessidade, a disponibilidade de tecnologia, a disponibilidade de médicos para teleconsulta, a permissão legal. A grande discussão atual é se após a COVID-19 a telemedicina permanecerá como uma opção de tecnologia disponível para a saúde.
A Elsevier criou um Centro de Informações sobre o Coronavírus, que reúne essencialmente informação baseada em evidência. Você pode falar sobre a iniciativa?
A Elsevier está muito comprometida com todos os profissionais de saúde no apoio ao combate à COVID-19 e colocou disponível para pesquisadores, médicos e acadêmicos uma série de informações gratuitas para os diferentes desafios da saúde. Isso porque a informação científica e baseada em evidências é crítica para o segmento da saúde. Profissionais dessa área lidam com dados e informações confiáveis. Os pacientes não podem ser objeto de estudo.
Para a prática clínica de médicos e profissionais da saúde criamos um site com informações para ajudar no dia a dia (Elsevier Healthcare Hub).
Para médicos pesquisadores criamos outro site com informações sobre pesquisas clínicas, vacinas e drogas (Elsevier Research Hub), com mais de 20 mil artigos do ScienceDirect, além do acesso às aclamadas revistas científicas The Lancet (The Lancet Hub) e Cell Press (Cell Press Coronavirus Resource Hub).
Para médicos professores foi criado um site com recursos que apoiam professores e alunos com conteúdo e recursos interativos, gratuitos e em plataforma online, que é fundamental durante este momento de restrição de contato e isolamento (Health Education Faculty Hub) e ainda mais de 256 títulos de textbooks (nas mais distintas áreas de conhecimento) através do ScienceDirect.
Com as informações confiáveis, atuais e abrangentes os profissionais da saúde podem acelerar as pesquisas, reduzir o risco de erros e burnout e continuar o processo de ensino e aprendizagem. Temos a abordagem completa que a dinâmica atual exige.
Como as Soluções de Apoio à Decisão Clínica podem colaborar neste sentido? É possível uma integração com o prontuário eletrônico de instituições?
Os recursos de apoio à decisão clínica e farmacológica da as informações em formato de checklist de forma que o médico e enfermagem não precisam preencher (basta clicar) e toda a evidência aparece, permite que as equipes multidisciplinares trabalhem juntas, evitando perda de informação sobre o tratamento do paciente porque trabalham em um único plano terapêutico guiado com checklist para garantir a qualidade do cuidado e a segurança do paciente e dos próprios profissionais.
Podemos afirmar que a implantação destas ferramentas pode colaborar para a diminuição de eventos adversos e erros médicos?
Totalmente. À medida que os pacientes passam de um cuidador para outro, em diferentes locais e disciplinas, sua história e plano de cuidados podem ser abandonados. Por exemplo: estudos apontam que a falta da intervenção de fazer o paciente caminhar aumenta o risco de infecções e pneumonia, o que pode levar ao aumento do tempo médio de permanência (US$ 3 mil por dia) e infecções hospitalares (US$ 6 a 15 mil por dia). A implementação de planos terapêuticos integrados no prontuário (Care Planning) com adoção na prática consegue reduzir taxas de “Never Events” de 32% em úlcera por pressão, 18% em ITUACS, 16% em quedas e a lista segue. A lacuna de conhecimento certo na hora certa pode causar inconsistências no atendimento, redundâncias e definitivamente erros clínicos.
Dessa maneira, os hospitais economizam em recursos?
Não apenas economizam em recursos, mas ganham em eficiência. Podem ser registradas redução no tempo médio de permanência, eliminação de superprescrição e de subprescrição, aumento de aderência a planos de cuidados em conformidade com as boas práticas de qualidade e segurança do paciente, redução do tempo gasto com preenchimento de prontuário e mais tempo para atendimento do paciente. Esses são alguns dos exemplos.
A telemedicina também tem tido um papel fundamental no apoio em casos de pandemia. Como você analisa a utilização destas plataformas no Brasil?
Muitas empresas que não tinham nenhuma solução se movimentaram rapidamente para encontrar uma, e aquelas que já estavam caminhando com a telemedicina tiveram que acelerar. A Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS) está mapeando as tecnologias de telemedicina atualmente disponíveis no Brasil, e a Folks, que é uma das consultorias que certificam HIMSS no país, lançou o Telehealth Maturity Index (TMI) que avalia o nível de adoção das tecnologias e serviços de telessaúde, bem como mede o grau de preparação da instituição para ter maior segurança e sustentabilidade dos seus serviços de telessaúde. Sem dúvida, haverá nos próximos meses uma série de plataformas e soluções para apoiar melhor esta modalidade que só tende a crescer em adoção e aperfeiçoamento.
Pensando na experiência de outras países, como o Brasil está posicionado hoje em termos de aderência tecnológica na saúde?
O Brasil está muito atrasado em relação a outros países. No sistema NHS da Inglaterra nós implantamos um sistema de triagem de autoatendimento que orienta a população para emergência, ambulatório ou agendamento, a Espanha inteira usa uma solução nossa para guiar os profissionais de atenção primária em algoritmos de decisão e tratamento, nos Estados Unidos são mais de 1500 cancer centers que usam nossos algoritmos de decisão que recomendam o tratamento mais eficaz, menos tóxico e mais econômico para o paciente. Nos Estados Unidos também quase todos os hospitais usam nossos suportes à decisão clínica e medicamentosa, além dos Order Sets e Care Planning. Estamos trazendo soluções de apoio à decisão clínica em português para elevar o patamar das ferramentas disponíveis para os médicos e equipes multidisciplinares também no Brasil.
Como as soluções de suporte à decisão clínica podem contribuir na saúde pública? O que os gestores devem ter em mente?
Os governos devem procurar atender mais pessoas com mais eficiência. A tecnologia na saúde ajuda muito a atingir este objetivo e não é tão complicado. Em primeiro lugar é preciso informatizar o sistema de saúde colocando prontuários eletrônicos em todos os locais e interligar estes sistemas entre si. Não faz sentido o paciente fazer diversos exames repetidos porque o sistema não armazena os dados do seu histórico. Não é possível também que o paciente que tem marca-passo fique sem entrar no banco porque tem medo de ter algum problema quando passar pela porta giratória: um sistema de teleatendimento deveria permitir facilmente uma consulta em um app no celular do paciente. Sistemas de triagem em autoatendimento trazem muito conforto ao paciente e desobstruem postos de atendimento e hospitais. A lista é longa.
De que outras maneiras a Elsevier tem colaborado com a atual situação pandêmica e com a saúde no Brasil?
Além da abertura de todas as nossas soluções e informações sobre a COVID-19 gratuitamente e para todos, a Elsevier também criou protocolos em formato de prescrição e planos terapêuticos interdisciplinares, específicos para a COVID-19 em português que estão disponíveis gratuitamente para todos os hospitais clientes dos sistemas MV, Philips Tasy e Pixeon. Assim permitimos que a informação esteja pronta e fácil para uso, o que é crítico em ambientes de alto estresse e com profissionais que estão sobrecarregados em plantões de 60 horas.
Quem são os principais clientes da Elsevier? Em que segmentos a empresa pretende avançar em termos de mercado?
São hospitais, operadoras de saúde, universidades, governos, corporações que investem em saúde, bem-estar e pesquisa. A Elsevier ainda tem um grande desafio pela frente e pensa em melhores soluções para contribuir ainda mais com este público a quem servimos.
Em relação à pandemia, houve algum impacto para a empresa em termos de reestruturação de serviços, produtos ou negócios?
Trabalhamos em benefício de profissionais de saúde, pesquisadores médicos e o público em geral. Somos uma empresa de informações e análise de dados especializada em ciência e saúde. Era impossível não ter toda uma especial mobilização neste momento especial em que vivemos. A Elsevier criou um Centro de Informações sobre Coronavírus com informações gratuitas em inglês e mandarim para ajudar a acelerar e facilitar a vida e as experiências das pessoas às quais servimos. Este Centro de Informações é um site público e reúne conteúdo relevante dos periódicos médicos, livros didáticos, especialistas clínicos e soluções de informação da Elsevier, além de recursos de outros provedores de informações e principais organizações de saúde.
Também estão disponíveis informações normalmente usadas por enfermeiros e médicos, além de recursos projetados especificamente para pacientes e familiares. Como membro da comunidade de pesquisa e saúde, queremos ajudar os profissionais, pesquisadores clínicos e formuladores de políticas a entender como esse novo vírus funciona e, portanto, reunimos as melhores informações disponíveis neste centro de informações gratuito e completo. Este site é atualizado diariamente e está alinhado ao compromisso da Elsevier de fornecer acesso gratuito às principais pesquisas e informações médicas e científicas confiáveis e de alta reputação para pacientes e seus cuidadores.
Pensando em um cenário futuro, como você enxerga o panorama pós-pandemia?
Uma pandemia como a COVID-19 pode ser um catalisador para que mudanças mais amplas nos cuidados de saúde aconteçam rapidamente; e para que empresas de tecnologia entrem no setor. A pandemia pode acionar um movimento de assistência equitativa, particularmente em áreas de níveis socioeconômicos mais baixos, e trazer maior foco em desenvolvimento de soluções para atender à demanda futura de assistência médica (envelhecimento da população, doenças crônicas etc.). Também pode colaborar com uma melhor preparação para eventualidades futuras e gerar mudança na relação de atendimento presencial para remoto (como no caso das indústrias farmacêuticas e relacionamento com médicos). Essas são algumas das mudanças que vejo.
*Entrevista publicada no Guia de Plataformas e Soluções para o Combate à Covid-19, edição especial da Medicina S/A. Faça o download gratuito da publicação clicando aqui.
Saiba mais sobre o Hub da Elsevier em https://covid-19.elsevier.health/pt-BR