Oftalmologia em tempos de coronavírus
Por Jonathan Lake
Relatos recentes têm demonstrado a presença do coronavírus na conjuntiva de pacientes internados. A conjuntivite foi reconhecida como um dos sinais que podem ser manifestados na síndrome respiratória aguda grave causada pelo coronavírus. Ainda não é possível saber com exatidão quais são as incidências de conjuntivite em pacientes contaminados, devido aos imensos desafios nessa pandemia sem precedentes. No entanto, mesmo antes de ser declarada a pandemia, as principais associações de oftalmologia, entre elas o Conselho Brasileiro de Oftalmologia e a Academia Americana de Oftalmologia, estavam atentas à disseminação do vírus e às suas repercussões sistêmicas e oculares. Como oftalmologistas, temos que estar alertas à identificação de pacientes com risco de coronavírus para auxiliar os dados de coleta e informação sobre a doença. Além disso, é nosso dever tomar os devidos cuidados para minimizar os efeitos – em todos os aspectos sociais e sanitários – sobre algo extremamente importante: a preservação da visão.
O oftalmologista convive com diversas doenças oculares infecciosas, que apresentam manifestações em outras partes do organismo. A ceratoconjuntivite epidêmica, um tipo de conjuntivite que afeta a córnea e a conjuntiva, é a principal causa de conjuntivite infecciosa no mundo. Ela é causada por adenovírus e está frequentemente associada a quadros gripais. Uma das principais características das conjuntivites causadas por vírus é a sua transmissibilidade. Existem diversos surtos históricos no Brasil de conjuntivites que se espalharam de maneira assombrosa por diversos estados. Embora não seja de notificação compulsória, esse comportamento fez com que o oftalmologista já esteja muito familiarizado com as práticas de proteção individual dos pacientes e dos profissionais de saúde.
Para evitar a contaminação pelo coronavírus – ou outros agentes patológicos – deve-se redobrar os cuidados com a higienização das mãos e evitar o máximo possível levá-las aos olhos. Óculos devem ser lavados frequentemente com água e detergente neutro. É bom não usar álcool para higienizar esse acessório, pois a composição química do produto pode danificar as lentes e a armação. Quem usa lentes de contato está familiarizado com os cuidados necessários para evitar contaminação, e o líquido usado para higienizar e armazenar as lentes será o suficiente para matar o vírus, caso ele entre em contato com as lentes. Também é importante frisar que não há comprovação científica que lágrimas possam transmitir o vírus.
A onipresença nas redes sociais e dos aplicativos de mensagem fez com que a disseminação de informações sobre a Covid-19 – falsas, verdadeiras, positivas e negativas – tenha ocorrido de maneira vertiginosa. O filtro sobre esse tipo de informação se tornou um desafio imenso e a orientação para a população sobre dados reais de maneira serena se assemelha a enxugar gelo.
Um exemplo bem contundente é o uso da cloroquina e azitromicina. Os oftalmologistas conhecem há muito tempo os efeitos imunomoduladores destes medicamentos. Conhecem também as doses de segurança e seus efeitos deletérios. No entanto, sabemos como são importantes os critérios clínicos e científicos rigorosos na abordagem e tratamento de qualquer doença, e reforçamos constantemente a importância da ciência no combate à desinformação.
Nas clínicas do Grupo Opty foram instituídos processos rigorosos para auxiliar o diagnóstico e acompanhamento de problemas oculares de maneira ultrassegura. Além da abertura controlada de unidades, espaçamento de atendimento e protocolos de prevenção para todos os pacientes e profissionais de saúde, implantamos plataformas diversas de teleorientação e telemedicina.
Um paciente com irritação ocular e suspeita de conjuntivite pode entrar em contato com a clínica, realizar uma primeira consulta de teleorientação e telemedicina em casa. A gravidade do caso é avaliada pelo médico à distância. De acordo com a avaliação, o paciente pode receber orientações em casa ou ser encaminhado para o atendimento presencial. Ao chegar à clínica, recebe máscaras e álcool gel e é atendido de maneira rápida, em ambiente preparado. Nossos pacientes crônicos e graves, já em acompanhamento, também recebem atenção especial e monitoramento à distância.
A pandemia marca um momento de transformação. Mesmo fisicamente separados, estamos em um momento em que a união é mais importante do que nunca. Juntos, sairemos mais fortes e mais preparados, apesar das perdas muitas vezes irreparáveis. Temos que nos apoiar nesse momento de crise que afeta a nós e a nossos entes queridos. Isso vale não somente para família e amigos, mas para todos nós, independentemente de fronteiras.