Quantos desafios valem uma grande conquista?
Por Hugo Borges
Temos dito e ouvido que 2019 foi um ano dificílimo. Humanos que somos, vez ou outra exageramos nas expressões, mas neste caso, seguramente, passa longe de ser um exagero. A vivência de mais de quatro décadas na medicina e, tempos depois, também na gestão em saúde me dão a certeza de que “enfrentar um leão por dia” era bem mais simples do que os desafios de agora. Na saúde suplementar não é diferente.
De 2014 até aqui, os planos de saúde perderam mais de 3 milhões de clientes. Um grande impacto para o setor? Sim, mas é muito mais do que isso. É o retrato de uma economia frágil, repleta de incertezas. Quando observamos atentamente, os pontos vão se conectando. Hoje, cerca de 75% dos contratos de saúde são do tipo coletivo ou empresarial. A conta é simples (e cruel): retração econômica diminui geração de renda, enfraquece negócios, aumenta o desemprego e a informalidade. Resultado? Além da insegurança quanto ao presente e o futuro, menos brasileiros estão tendo acesso à saúde suplementar, muitas das vezes um benefício assegurado pela carteira de trabalho, agora não assinada.
Se, por um lado, o número de beneficiários vive declínio, os custos assistenciais seguem na contramão. Em 2018, as operadoras movimentaram R$ 200 bilhões e, desse montante, 80% foram consumidos pelo pagamento de despesas com cuidado. Em termos nominais, a alta dos custos já supera em 20,8% a inflação dos últimos quatro anos. O problema não é caseiro, é uma característica mundial, na qual pesam a incorporação de novas tecnologias, maior frequência de utilização dos serviços e recursos, o desperdício, o envelhecimento populacional, o aumento de preços de insumos e procedimentos e a judicialização. Sobre alguns desses elementos, não há como interferir, são naturais, já para outros, não só podemos como devemos desenvolver soluções. Não à toa o Sistema Unimed tem investido tanto na atenção primária e na prevenção. Cuidar para evitar o adoecimento e promover qualidade de vida. Essa tem de ser a lógica, saudável e sustentável em todos os aspectos.
Somado aos desafios do cenário macro e àqueles inerentes à própria operação dos planos, mais um ingrediente traz mudanças estratégicas no setor: o investimento de capital nacional e até mesmo estrangeiro. Companhias têm pago bilhões para incorporação de outros grupos médico-hospitalares, desequilibrando a balança da concorrência. O caso mais recente e emblemático foi uma transação de R$ 5 bilhões que expandiu atuação de marca que cresce vertiginosamente na região Nordeste. Um modo de operar bem diferente do praticado pela Unimed. Enquanto os grupos mercantis buscam incessantemente o lucro de capital (a que preço?), nosso sistema se apoia no cooperativismo, ou seja, no lucro social, que beneficia toda a sua cadeia de prestação de serviços. Enquanto o mercado transforma saúde em valor monetário, o Sistema Unimed faz o oposto: criamos formas de agregar valor à saúde, ao cuidado que entregamos às pessoas.
Sim, foi um ano difícil e, por isso mesmo, é preciso valorizar ainda mais toda a superação. E me salta aos olhos o trabalho dedicado de todo o time da Unimed Juiz de Fora. A nossa cooperativa pode, sim, dizer que venceu 2019. A muitas mãos, realizamos o sonho de entregar à cidade (e região!) o Hospital Unimed Juiz de Fora, uma estrutura diferente de tudo o que já vimos aqui. Tenho muito orgulho do que construímos juntos, em colaboração com tantos profissionais que acreditam no real valor do cuidado. Se os tempos são difíceis, enfrentaremos fazendo aquilo em que acreditamos: cooperar e cuidar.