Tecnologia brasileira para diagnóstico de leucemia é adotada em 50 países
Uma ferramenta de diagnóstico para leucemias e linfomas, hoje, utilizada em mais de 50 países, incluindo três mil laboratórios, através de um software conhecido como Infinicyt, tem também tecnologia brasileira. O software é distribuído por uma empresa espanhola e a modelagem matemática no processamento de dados é uma parceria de grupo da Coppe da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade de Salamanca e o consórcio EuroFlow. Os resultados renderam artigos publicados e patentes.
O EuroFlow é um consórcio que inclui 12 universidades, 11 europeias e mais a UFRJ. O responsável pelo software é o engenheiro e pesquisador da Coppe, Carlos Eduardo Pedreira, que contou com a parceria da médica Elaine Sobral da Costa, do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira, também da UFRJ.
Ele conta que foi desafiado pelos parceiros do consórcio a criar modelos matemáticos para aplicação em diagnóstico de câncer através do uso da citometria de fluxo – um equipamento há muito utilizado e que permite aplicações clínicas e de pesquisa tanto para o diagnóstico como prognóstico de doenças, de forma mais precisa. Daí, o projeto de mineração de dados em saúde surgiu e possibilitou, além do depósito de patentes, diagnósticos rápidos e precisos para leucemias e linfomas e, mais recente, para tumores sólidos, além de informações úteis sobre a resposta dos pacientes ao tratamento e o avanço da doença.
Antes da concepção desses modelos matemáticos, os diagnósticos por citometria eram muito dependentes de um excelente especialista, analisando os resultados. Com o modelo matemático, a medicina diagnóstica oferece resultados muito mais confiáveis e menos dependente do especialista.
No Brasil, a tecnologia foi aplicada inicialmente no tratamento de crianças atendidas no hospital pediátrico da UFRJ e, em seguida, nos hospitais da Lagoa, da Criança e Servidores do Estado, todos no Rio de Janeiro, e nas universidades federais da Bahia, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul e no Hospital Amaral de Carvalho, em Jaú, São Paulo.
A inteligência artificial aplicada neste projeto contribuiu também para a classificação dos diversos tipos de tumores sólidos.
“Temos mais de 350 casos de tumores sólidos estudados por citometria, e o grande impacto do trabalho é diminuir o tempo de espera pelo diagnóstico. Os resultados de alguns exames demoravam até 15 dias, enquanto a citometria dá o resultado em algumas horas”, explica Pedreira.
No caso dos cânceres hematológicos, o grupo já fez mais de três mil exames em crianças, no Rio de Janeiro, cujos resultados dão suporte à formulação de novos modelos matemáticos.
O projeto conta com recursos da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj) desde 2005, o que possibilitou, entre outros apoios, a compra do citometro de fluxo, instrumento essencial no diagnóstico de linfomas e leucemias. A aquisição possibilitou que as crianças tratadas em hospitais públicos no Rio de Janeiro tenham o que há de mais moderno no mundo em diagnóstico de leucemias. O uso dos citômetros modernos contribuiu para o aumento de forma exponencial da capacidade de gerar dados, que podem ser usados para diagnóstico e prognóstico.
“O desafio é transformar informação em conhecimento útil”, afirma Pedreira. Segundo ele, no Brasil não existe nenhum outro grupo que se dedique à análise de dados de citometria, visando construir novos modelos matemáticos e computacionais para fins de diagnósticos.