Abordagem personalizada melhora evolução clínica de pacientes com choque séptico
Quando se está com infecção e pressão arterial muito baixa cada minuto conta. E cada decisão da equipe médica pode fazer a diferença entre a vida e a morte. Esse é o cenário do choque séptico, a fase mais aguda da sepse, uma infecção generalizada que compromete órgãos vitais. A mortalidade nessa condição pode chegar a 40%, mesmo com tratamento rápido e adequado.
Para oferecer um atendimento mais efetivo, pesquisadores de 19 países, sob liderança de pesquisadores da Pontificia Universidad Católica de Chile (PUC-Chile), da Fundação Vale del Lili, na Colômbia, e do Hcor, desenvolveram e testaram um protocolo personalizado de ressuscitação de sinais vitais. O resultado do estudo, chamado ANDROMEDA-SHOCK-2, acaba de ser publicado no JAMA e apresentado no Congresso Anual da Sociedade Europeia de Medicina Intensiva (ESICM), reforçando a relevância científica da pesquisa.
Único hospital brasileiro a participar do estudo, o Hcor teve papel relevante no planejamento estatístico, sendo responsável pela gestão de dados dos pacientes envolvidos. “Estamos muito orgulhosos por apoiar a Pontificia Universidad Católica de Chile e a Fundação Vale del Lili na liderança deste estudo. Foi muito gratificante ter atuado em colaboração com tantos países dispostos a encontrar um melhor tratamento para uma questão tão séria como a sepse”, explica o Superintendente Médico, de Ensino e Pesquisa do Hcor, Alexandre Biasi.

No total, foram analisados 1.467 pacientes. “Em comparação ao tratamento padrão, seguir um protocolo personalizado de ressuscitação hemodinâmica trouxe benefícios significativos para os pacientes com choque séptico — principalmente por reduzir o tempo de uso de terapias invasivas, como ventilação mecânica, hemodiálise e medicamentos vasopressores”, destaca.
O protocolo personalizado avalia sinais simples à beira do leito, como o tempo de enchimento capilar (como o sangue volta a circular nas extremidades do corpo), pressão arterial, pulso, saturação de oxigênio e ultrassom básico, permitindo que o tratamento seja adaptado à resposta de cada paciente em tempo real. O objetivo é recuperar a perfusão dos órgãos nas primeiras seis horas de atendimento do choque séptico, justamente quando há maior chances de reverter as consequências negativas desta síndrome. Diferente do método tradicional, que segue etapas padronizadas para todos, essa abordagem individualiza cada decisão médica, aumentando a chance de recuperação.
Para o especialista, esses resultados demonstram que observar sinais simples e aplicar protocolos individualizados tornam o atendimento mais eficiente e sustentável. “Cada decisão é baseada na condição real do paciente, e isso faz toda a diferença”, reforça.
O estudo abre novas perspectivas para o cuidado crítico em todo o mundo, mostrando que mesmo sinais simples, quando avaliados de forma estruturada e personalizada, podem transformar o desfecho de pacientes com choque séptico, diminuindo complicações e acelerando a recuperação.
