Gestão inteligente de dados tem potencial para revolucionar a saúde
Por Paulo Watanave
Quando falamos em avanços tecnológicos na área da saúde, geralmente, as pessoas imaginam operações automatizadas, como cirurgias precisas realizadas por robôs, ou o uso de realidade virtual para treinamento de profissionais. Apesar de serem ferramentas promissoras, grande parte dos desafios do sistema de saúde ainda está relacionada à infraestrutura e à gestão de dados. Metade dos estados brasileiros, por exemplo, fornece informações incompletas ao governo. Esse apagão cria uma lacuna que dificulta a formulação de políticas públicas eficazes. A falta de integração entre os sistemas, outro problema comum no Brasil, resulta em diagnósticos imprecisos, atrasos no atendimento e aumento nas filas.
Na contrapartida, as tecnologias disponíveis hoje permitem que o uso estratégico de dados se torne uma solução poderosa para a saúde no País. Com um data lake completo, preciso e integrado, hospitais e órgãos de saúde podem antecipar surtos de doenças, otimizar a alocação de recursos e reduzir o tempo de espera para consultas e procedimentos. Análises preditivas, por exemplo, podem identificar regiões com maior risco de epidemias, permitindo ações preventivas, enquanto dashboards centralizados ajudam os gestores a monitorarem, em tempo real, o desempenho das unidades de saúde.
A transformação da saúde baseada em dados depende de um conjunto articulado de frentes que se complementam. O primeiro passo é assegurar a padronização e a qualidade das informações. Sem registros consistentes, estruturados e submetidos a validações automáticas, não é possível gerar análises confiáveis nem orientar decisões estratégicas. A unificação de formatos para nomes, códigos de doenças, resultados de exames e demais registros clínicos reduz erros, elimina redundâncias e estabelece uma base sólida para todo o ecossistema informacional.
Essa base precisa estar conectada por sistemas que conversem entre si. A integração entre prontuários eletrônicos, plataformas laboratoriais e ferramentas administrativas permite construir uma visão única do paciente e eliminar a fragmentação que dificulta o atendimento. Padrões de interoperabilidade, como HL7 e FHIR, são essenciais para garantir essa comunicação de maneira segura, eficiente e sustentável.
Uma vez que os dados estejam padronizados e integrados, a centralização em repositórios como data warehouses ou data lakes torna possível consolidar informações de múltiplas fontes em um único ambiente. Isso viabiliza análises profundas e facilita o acesso de profissionais e gestores, sempre com mecanismos rígidos de segurança que protegem a privacidade do paciente e asseguram o uso responsável das informações.
Com essa estrutura estabelecida, a inteligência de dados assume um papel central. A capacidade de identificar padrões, tendências e riscos de saúde permite antecipar problemas, orientar ações preventivas e otimizar fluxos assistenciais. Dashboards e indicadores em tempo real ampliam a visibilidade sobre o desempenho dos serviços, enquanto técnicas avançadas, como inteligência artificial e machine learning, apoiam diagnósticos mais precisos e decisões clínicas mais embasadas.
A segurança e a conformidade são fundamentos que sustentam todas essas camadas. Em um setor que lida com informações sensíveis, aderir às normas de privacidade e proteção, como a LGPD, é indispensável. Políticas claras de acesso, monitoramento contínuo e práticas robustas de governança reduzem riscos e garantem integridade e ética no uso dos dados.
Por fim, nenhuma dessas transformações se efetiva sem profissionais preparados e uma cultura orientada a evidências. A capacitação constante para registrar, interpretar e aplicar informações de modo eficiente é o que torna as organizações capazes de inovar, enfrentar desafios e oferecer atendimento de maior qualidade. Incentivar o uso estratégico de dados em todos os níveis institucionais consolida a evolução digital e fortalece uma saúde mais inteligente, integrada e humana.
O cenário ideal para o setor de saúde combina tecnologias de ponta, automação e uso estratégico de dados clínicos e operacionais. Para alcançar esse nível, é indispensável construir uma base sólida de processos, infraestrutura e informações confiáveis, ampliando o acesso ao atendimento, reduzindo filas e apoiando decisões médicas mais precisas. Coleta, integração e análise inteligente de dados são os pilares fundamentais para garantir eficiência, qualidade assistencial, segurança do paciente e evolução contínua dos serviços de saúde.
Todo esse aparato tecnológico, entretanto, deve ter como premissa a ampliação e equalização do cuidado. Deve estar centrado no uso de insights para melhorar a jornada dos pacientes e direcionar o atendimento de maneira eficiente e humanizada.
*Paulo Watanave é Diretor de Operações de Data & AI na Nava.
