Saúde ocular: como impulsionar o setor da oftalmologia no Brasil
A saúde ocular é um pilar fundamental para a nossa qualidade de vida, aprendizado e relacionamentos. No entanto, embora seja um direito essencial, os cuidados com a visão se mantêm como um privilégio distante para milhões de brasileiros em situação de vulnerabilidade social. O que testemunhamos é que este problema não é apenas uma questão de saúde, mas o início de um ciclo vicioso de exclusão social e educacional.
O acesso à atenção oftalmológica é prejudicado por barreiras estruturais. Para a população de baixa renda, as implicações vão desde a dificuldade para agendar consultas especializadas, com longas filas para atendimento no sistema público, até a impossibilidade financeira de adquirir um par de óculos. Quando essa dificuldade atinge crianças e adolescentes, o impacto é particularmente devastador.
Em um paradoxo, o Brasil é um polo de excelência em oftalmologia na América Latina, contando com formação de alta qualidade e centros de referência que aplicam tecnologia de ponta, contribuindo significativamente para a pesquisa na área.
Contudo, essa excelência coexiste com um desafio. Segundo o IBGE, há mais de 6,5 milhões de pessoas com algum grau de deficiência visual no país. Além disso, uma pesquisa apoiada pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) revelou que 34% da população adulta nunca consultou um oftalmologista.
No ambiente educacional, a falta de um diagnóstico precoce e a ausência dos óculos necessários transformam a sala de aula em um ambiente desconfortável. A criança, incapaz de enxergar o quadro ou de ler os livros, perde o interesse e a motivação, resultando em queda do desempenho escolar, estigmatização e, muitas das vezes, na evasão escolar.
É essa urgência que deu origem ao ‘Em Um Piscar de Olhos’. Não lidamos apenas com estatísticas, trabalhamos para resgatar vidas que estão sendo limitadas. Ao longo de nossa trajetória, identificamos inúmeros jovens que jamais haviam passado por uma triagem oftalmológica. A invisibilidade dos problemas de refração em comunidades menos favorecidas é, na prática, um catalisador da desigualdade.
A boa notícia é que as ações de impacto social voltadas para a oftalmologia podem ser um caminho estratégico e sustentável para promover uma transformação. Ao identificar e encaminhar milhares de pacientes que estavam à margem do sistema, projetos como o nosso criam uma demanda organizada e significativa.
Isso impulsiona a necessidade de mais consultas especializadas, gerando fluxo para clínicas e oftalmologistas. Igualmente, fomenta o mercado com a aquisição de equipamentos e movimenta a cadeia produtiva das óticas, que passam a fornecer óculos em grande volume, muitas vezes por meio de acordos com o setor público ou corporativo.
Dessa forma, a responsabilidade social se estabelece como um impulsionador econômico, beneficiando simultaneamente a saúde pública e o desenvolvimento do setor privado. Prova disso é o nosso alcance: em menos de quatro anos, nossa metodologia já atendeu mais de 189 mil crianças e adolescentes em mais de dez estados brasileiros.
Por meio de uma triagem rápida e não invasiva nas escolas, seguida pelo encaminhamento imediato para consultas e doação de óculos, demonstramos que a visão é a porta para o conhecimento e abri-la para a população é o maior investimento que podemos fazer em um futuro mais justo e promissor.
*Leonardo Figueiredo é CEO da H&Care Brasil e criador da metodologia Em Um Piscar de Olhos.
