Instituto D’Or investe R$ 8 milhões em laboratório de biologia molecular

O IDOR Ciência Pioneira, iniciativa do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino em apoio à ciência de fronteira, vai inaugurar em 26 de novembro um novo e moderno laboratório para impulsionar estudos em biologia molecular, edição genética, virologia e neurociência. Localizado na sede do IDOR em São Paulo, o laboratório terá área de 467m² e 93 equipamentos, incluindo tecnologias de ponta que permitem operações completas de manipulação de genes e caracterização celular. Também receberá pesquisadores que estavam no exterior, oferecendo condições competitivas para desenvolverem seus projetos no Brasil. O valor de investimento na nova estrutura foi de R$ 8 milhões.

O diferencial será o foco em pesquisas de fronteira, ou seja, capazes de impulsionar grandes transformações em suas áreas. Na prática, o laboratório vai explorar perguntas ainda não resolvidas em biologia e desenvolver tecnologias de base, como sistemas de edição genômica com o uso do método CRISPR, espécie de “tesoura genética” de alta precisão, e plataformas de entrega molecular – nome dado a sistemas desenvolvidos para transportar moléculas específicas, como proteínas, RNA e medicamentos, a um local de ação pré-determinado no organismo. O objetivo é ampliar o que se sabe nessas áreas e abrir caminho a terapias futuras.

“Com este laboratório, o IDOR Ciência Pioneira dá um passo estratégico para posicionar o Brasil na fronteira da biotecnologia e da edição genética. Queremos que talentos formados nas melhores instituições do mundo encontrem no nosso país o ambiente ideal para pesquisar e inovar. As alianças que estamos estruturando — como com o IGI (Innovative Genomics Institute/UC Berkeley, nos EUA) — nos conectam ao estado da arte da ciência mundial e ampliam nosso acesso a conhecimento, métodos e treinamento avançado”, afirma o médico e neurocientista Jorge Moll Neto, idealizador do IDOR Ciência Pioneira.

Entre os cientistas que vão atuar no local, estão nomes que acabam de retornar ao Brasil após uma temporada em instituições de ponta no exterior. É o caso do biologista molecular Thyago Calvo, que estuda ferramentas de edição genética para frear a doença de Alzheimer; do médico e especialista em terapia celular e genética Bruno Solano; e do biólogo e geneticista molecular Victor Geddes, que pesquisa novos antivirais para doenças como a dengue com uso de terapia de RNA. Também haverá estudos na área de biofísica e neurociência da visão, liderados por Gustavo Rohenkol.

Calvo e Solano passaram uma temporada no IGI, instituto liderado por Jennifer Doudna, que recebeu o Nobel de Química em 2020 com Emmanuelle Charpentier pelo desenvolvimento do método CRISPR de edição genética. Já Victor Geddes fez pesquisas na Universidade Stanford, reconhecida na área de virologia, e Gustavo Rohenkol passou pelo treinamento avançado na Universidade de Oxford e no Instituto Max Planck, em Frankfurt, e agora ambos continuarão seus trabalhos no Brasil. A aliança estratégica e de longo prazo do IDOR Ciência Pioneira com essas instituições possibilita o intercâmbio e treinamento avançado de brasileiros no exterior.

Para Solano, o diferencial da nova estrutura está na busca por novas descobertas. “Hoje, o laboratório do IDOR no Rio de Janeiro tem foco em neurociências aplicadas, e o de Salvador em terapias avançadas – ou seja, ambos são voltados à ciência aplicada. Já o novo laboratório em SP vai focar em ciência fundamental e inovação radical em biotecnologia e edição genômica”, afirma. “É um espaço criado para pensar o que ainda não existe, conectando-se aos demais laboratórios para transformar descobertas em aplicações clínicas. No contexto brasileiro, essa infraestrutura se diferencia por reunir, em um único laboratório, recursos normalmente dispersos entre diferentes centros.”

A infraestrutura integra, em um só ambiente, múltiplas plataformas tecnológicas – desde biologia molecular e cultura celular até edição genômica e análises multiômicas (abordagem de pesquisa biológica que combina e integra dados de múltiplas “ômicas”, como genômica e outras). “Em vez de apenas testar aplicações específicas, vamos investigar os princípios e mecanismos que tornam uma intervenção genética eficiente e segura, criando plataformas que poderão ser aplicadas a diferentes doenças no futuro”, explica Solano.

Contra fuga de cérebros

O lançamento representa um novo passo para consolidar a missão da iniciativa, de proporcionar o retorno de pesquisadores ao Brasil, em um movimento que vai na contramão da “fuga de cérebros” – quando cientistas brasileiros migram ao exterior devido à falta de oportunidades de atuação no país.

Para Sérgio Ferreira, diretor científico do IDOR Ciência Pioneira, três estratégias colaboram para isso: as parcerias com instituições internacionais de ponta, o investimento em estrutura – caso do novo laboratório – e o apoio ao custeio dos projetos de pesquisa para que cientistas apoiados continuem a realizá-los no Brasil. Entre as parcerias, ele cita o exemplo do Innovative Genomics Institute, que recebe no momento também outros pesquisadores brasileiros.

“Ao consolidar uma aliança estratégica com o IGI e outras instituições reconhecidas no mundo todo, mostramos que é possível construir, no Brasil, um caminho de carreira competitivo para quem faz ciência de fronteira. Esse alinhamento garante que nossos pesquisadores sejam treinados nos melhores protocolos e que as plataformas desenvolvidas aqui estejam compatíveis com padrões internacionais.”

Jennifer Doudna, líder do IGI, afirma que “tem sido inspirador ver a criatividade e o rigor que os fellows do IDOR Ciência Pioneira têm trazido ao nosso trabalho conjunto no Innovative Genomics Institute. A inauguração do novo laboratório em São Paulo reflete a força dessa parceria e nosso compromisso compartilhado em avançar uma ciência de edição genômica de alto impacto”, afirma.