A evolução silenciosa das UTIs e o futuro do cuidado intensivo

Por Paulo Lins

Há três décadas, adentrar uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) era sinônimo de ingressar em um ambiente de intervenções heroicas, mas muitas vezes limitadas pela tecnologia disponível. Pacientes com falência de múltiplos órgãos enfrentavam prognósticos difíceis, e o suporte à vida era, em grande parte, reativo e segmentado. Hoje, quando olhamos para a evolução do tratamento intensivo nos últimos anos, testemunhamos uma revolução silenciosa, impulsionada por avanços tecnológicos que transformaram as UTIs em centros de cuidado mais precisos, proativos e, acima de tudo, eficazes.

Onde antes a falência renal significava partir para uma diálise convencional, com remoção rápida de fluidos que frequentemente desestabilizava pacientes críticos, hoje já é possível contar com sistemas capazes de oferecer terapias contínuas que, de forma muito mais gradual e fisiológica, permitem estabilidade ao paciente e, consequentemente, melhores desfechos clínicos. Ou seja, na prática, já é possível que o organismo do paciente se adapte sem quedas bruscas de pressão, um benefício inestimável para aqueles já em estado hemodinamicamente instáveis

Mas a grande virada, e talvez a mais significativa, se refere à possibilidade de transição de um suporte focado em órgãos isolados para uma abordagem integrada. A tecnologia não parou nos rins. A abordagem multi-órgãos, possível graças aos novos sistemas e protocolos, permite que uma mesma plataforma ofereça ao mesmo tempo suporte renal contínuo aliado a cuidados respiratórios, hepáticos, de purificação sanguínea, dentre outros.

Toda essa versatilidade, fruto de uma engenharia sofisticada, foi fundamental no contexto da pandemia de covid-19, por exemplo, onde as unidades de terapia intensiva foram colocadas ao limite e precisaram utilizar de todas as ferramentas possíveis para suportarem a demanda e a pressão daquele momento. A pandemia escancarou a necessidade de aceleração da adesão tecnológica nas UTIs e a importância do olhar holístico ao paciente.

Contudo, a tecnologia, por mais avançada que seja, é apenas uma ferramenta. Seu verdadeiro potencial é liberado pelas mãos e mentes dos profissionais de saúde. Por isso, a evolução dos tratamentos de UTI exige também uma constante atualização das equipes médicas, a partir de um compromisso inabalável com a educação continuada. Além, é claro, do trabalho multidisciplinar, que contribui de forma integrada e conjunta para garantir o melhor prognóstico aos pacientes.

As últimas décadas foram transformadoras do ponto de vista tecnológico para os ambientes hospitalares, sobretudo aqueles de terapia intensiva. Mas ainda há um longo caminho a ser percorrido. É imperativo pensar em estratégias para ampliar o acesso às ferramentas de ponta e garantir que a capacidade de oferecer um suporte integrado e abrangente não seja um privilégio de poucas instituições, mas uma realidade em todas as UTIs.

Ao investir em equipamentos modernos e na capacitação das equipes, garantimos que mais pacientes críticos tenham a chance de recuperação, com menos sequelas e uma melhor qualidade de vida. É neste caminho que devemos mirar os próximos 30 anos. Para garantir que o futuro dos centros de cuidado possa contar com cada vez mais precisão, personalização e eficácia nos tratamentos. Com o objetivo final de salvar vidas e restaurar a saúde com a máxima dignidade.


*Paulo Lins é nefrologista, intensivista e gerente médico da Vantive.

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