Futuro dos hospitais conectados começa no capital humano
Por Leandro Oliveira
Nos últimos doze meses, o sistema de saúde brasileiro registrou mais de 295 mil falhas na assistência ao paciente. Erros de diagnóstico, cirurgias em locais incorretos e administração equivocada de medicamentos são eventos trágicos que, embora multifatoriais, apontam para uma causa raiz frequentemente subestimada: a fragilidade na gestão de pessoas. Em um setor onde cada segundo conta, a falta de digitalização no RH hospitalar não é mais uma questão de eficiência, mas um risco direto à segurança do paciente.
A área de gestão de pessoas é o pilar que garante que médicos, enfermeiros e toda a equipe assistencial estejam não apenas qualificados, mas também engajados, comunicados e operando sob jornadas de trabalho equilibradas. É o RH quem zela pela conformidade dos treinamentos, proteção de dados sensíveis e, em última análise, pela criação de um ambiente onde o cuidado ao paciente possa florescer. Ou seja, os desafios do setor vão muito além da mera burocracia de contratação, especialmente no ambiente hospitalar.
Ainda assim, a dificuldade operacional de grandes organizações de saúde é uma realidade global. Historicamente, a informação flui de maneira hierárquica e ineficiente, perdendo-se em canais informais e inseguros, como grupos de mensagens. Em um hospital com milhares de colaboradores distribuídos em dezenas de unidades, por exemplo, esse modelo fragmentado não apenas cria silos operacionais e problemas de rastreabilidade, mas também dilui o senso de pertencimento e a coesão da cultura corporativa.
O impacto é direto e inevitável. Uma gestão de pessoas desestruturada gera um efeito dominó negativo: equipes desengajadas e sobrecarregadas são mais propensas a cometer erros. Por outro lado, quando a gestão é bem executada (e sobretudo com o auxílio da tecnologia) o ciclo se inverte. Profissionais que se sentem apoiados, bem informados e com processos claros desenvolvem melhor suas atividades. Esse bem-estar operacional reflete-se diretamente na qualidade do atendimento e, consequentemente, na segurança e satisfação dos pacientes.
É nesse contexto que a tecnologia se insere como um pilar indispensável para a gestão hospitalar e automação no RH. Porém, o Mapa da Transformação Digital dos Hospitais Brasileiros 2024 revela um paradoxo alarmante: 62% das instituições reconhecem a importância do digital, mas apenas 18% possuem estratégias definidas para implementá-lo. Já a maturidade digital média nos hospitais avaliados foi de apenas 46,19%, indicando que ainda há um longo caminho a percorrer.
Contudo, temos exemplos claros de que a mudança é não apenas possível, mas transformadora. Em um setor marcado por turnos rotativos e rigor regulatório, plataformas que automatizam processos como comunicação interna, gestão de documentos, fluxos de onboarding e métricas de engajamento são cruciais. Elas liberam a equipe de RH de tarefas operacionais para que possam focar no que realmente importa: a estratégia de capital humano e segurança do paciente.
A conclusão é inevitável. A consciência sobre a necessidade da tecnologia existe, mas ainda não se traduz em ação prática na gestão de pessoas. É hora das lideranças hospitalares entenderem que investir em um RH digital e automatizado não é um custo, mas um investimento direto na qualidade da assistência. A segurança do paciente não começa na sala de cirurgia, mas na forma como cuidamos de quem cuida.
*Leandro Oliveira é Diretor do Brasil e de EMEA da Humand.
