Popularização de terapias com IA expõe limites do atendimento analítico

A utilização de chatbots em contextos terapêuticos vem ganhando espaço no cenário global. A promessa de acessibilidade, rapidez e disponibilidade permanente tem atraído diferentes públicos. Contudo, especialistas apontam que tais recursos operam dentro de restrições intransponíveis quando comparados ao trabalho clínico tradicional.

O funcionamento de algoritmos está baseado na manipulação sintática de símbolos, sem apreensão efetiva de sentido. Como demonstrado no experimento do “Quarto Chinês” de John Searle, a máquina pode produzir respostas adequadas a uma instrução, mas não compreende o significado que está em jogo. Tal distinção revela o limite entre a simulação de diálogo e a experiência da linguagem enquanto construção de significados.

A psicanálise, em particular, depende de condições humanas insubstituíveis. O processo analítico se estabelece a partir da transferência entre sujeitos, da escuta do inconsciente que extrapola o plano literal da linguagem e do manejo do desejo. Esses elementos não se deixam reduzir a padrões estatísticos ou combinações pré-programadas.

Enquanto um chatbot organiza saídas textuais a partir de bancos de dados e probabilidades, o campo clínico opera na incerteza, no silêncio e na criação compartilhada de sentidos. A experiência do divã não se limita à troca de informações, mas ao atravessamento de afetos e à produção singular de narrativa.

Para a neuropsicóloga Maria Klien, a popularização de assistentes virtuais no campo terapêutico deve ser acompanhada de reflexão crítica. “É preciso compreender que a análise envolve encontro de subjetividades. A máquina não deseja, não afeta e não se deixa afetar. Sem esses elementos, não há processo analítico propriamente dito”, ressaltou.

A expansão das chamadas terapias digitais, portanto, não elimina a necessidade da escuta humana. O risco reside na ilusão de que uma arquitetura computacional seja capaz de abarcar a complexidade do psiquismo. A inteligência artificial (IA)  pode se configurar como instrumento auxiliar, mas não como substituta.

De acordo com Maria Klien, a confusão entre simulação e compreensão compromete o discernimento sobre o que se pode esperar da tecnologia. “O que está em jogo não é a utilidade dos algoritmos, mas a crença de que eles possam ocupar um lugar que pertence ao humano. A análise é inseparável do desejo, e este permanece fora do alcance da máquina”, concluiu.

A fronteira entre utilidade tecnológica e prática clínica deve, assim, ser mantida com rigor. Reconhecer os limites da inteligência artificial não significa negar sua relevância, mas situá-la em seu campo específico de ação. A função do analista continua a demandar presença viva, abertura ao inesperado e compromisso ético com o sujeito em análise.

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