Envelhecimento populacional e o desafio da prevenção de quedas

Por Amanda Costa

O Brasil envelhece em ritmo acelerado. Temos desafios urgentes para a saúde pública e para a organização da sociedade. Entre eles, destaca-se a prevenção de quedas, um dos eventos mais comuns e devastadores na terceira idade. Em pouco mais de duas décadas, a população com 60 anos ou mais passou de 15,2 milhões para 33 milhões de pessoas. As projeções do IBGE para 2070 indicam que o país poderá ter 75,3 milhões de idosos, representando 37,8% do total da população. A média de idade também está em transformação no Brasil. Hoje é de 35,5 anos, contra 28,3 anos em 2000, e deve chegar a 48,4 anos até 2070.

A velhice chega para todos, mas as condições do envelhecer variam drasticamente de acordo com o contexto socioeconômico de cada um. A falta de infraestrutura e o acesso limitado a serviços de qualidade nas periferias agravam essas condições, elevando os riscos de saúde, financeiros e sociais. Para os idosos, as desvantagens são claras e interligadas: moradia inadequada, transporte difícil, restrição no acesso à saúde, fragilidade financeira e maior isolamento. O resultado direto dessa disparidade é uma expectativa de vida reduzida em comparação com áreas mais centrais.

Embora não sejam uma consequência inevitável do envelhecimento, as quedas podem sinalizar fragilidade ou indicar doenças agudas. Diferentes pesquisas mostram que o problema é mais frequente do que se imagina. O Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil), realizado entre 2019 e 2021, apontou prevalência de 25% de quedas entre idosos que vivem em áreas urbanas. O Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into) estima que 40% das pessoas com mais de 80 anos sofrem quedas todos os anos. Em instituições de longa permanência, como asilos e casas de repouso, esse índice chega a 50%.

Vivemos uma pandemia silenciosa com o número de quedas de idosos. Dados do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SUS) mostram que em entre 2000 e 2020, o Brasil registrou R$ 2,3 bilhões em custos com autorizações de internação hospitalar por quedas de idosos no SUS. O gênero feminino e as faixas etárias mais elevadas, como 80 anos ou mais, apresentaram maior participação nas despesas.

As quedas não provocam apenas fraturas. Elas podem levar à perda de autonomia, aumento da dependência e até institucionalização. Muitas vezes, também desencadeiam medo de cair novamente, o que reduz a mobilidade, favorece a atrofia muscular e eleva o risco de novos acidentes. O impacto é amplo, com custos sociais, econômicos e psicológicos significativos.

A boa notícia é que existem estratégias eficazes para reduzir o risco de quedas. Exercícios voltados tanto para força como para o equilíbrio são fundamentais. Manter a aptidão física, combater o sedentarismo e estimular a mobilidade também são medidas fundamentais. Outro ponto importante é a atenção à saúde mental, oferecendo apoio para que o idoso não se isole por medo.

Mas a prevenção vai além das iniciativas individuais. O envelhecimento populacional exige que o Brasil repense a forma como organiza suas cidades. Vias públicas seguras, calçadas bem cuidadas e iluminação adequada são medidas básicas para garantir mobilidade, autonomia e dignidade à população mais vulnerável.

No Mês do Idoso, devemos encarar as quedas não como simples acidentes, mas como um sintoma do despreparo social frente ao envelhecimento. Elas revelam a fragilidade da população idosa. Precisamos ir além dos números. Cada queda exige atenção, pois representa uma vida vulnerável, afeta uma família e expõe o desafio estrutural da nossa comunidade.

Enfrentar esse problema requer ação integrada entre gestores públicos, profissionais de saúde, familiares e a própria comunidade. Afinal, envelhecer com segurança é um direito que precisa ser garantido a todos.


*Amanda Costa é educadora física, fundadora e diretora do Instituto Sempre Movimento.

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