Dados não curam sozinhos: é o uso inteligente que redefine a saúde

Por Ana Beatriz Pereira

Nos últimos anos, falar sobre dados virou quase um clichê. Todos repetem que eles são importantes, mas poucos entendem que o valor não está em acumular planilhas, relatórios e dashboards coloridos. O ponto central é transformar esse conhecimento em ações que mudem a realidade das pessoas e gerem resultados práticos, seja no cuidado individual, seja na gestão dentro das empresas.

Lembro do episódio do ConecteSUS, em 2021, quando milhares de brasileiros ficaram sem acesso ao comprovante de vacinação. O que parecia “apenas” uma falha técnica virou um caos: pessoas perderam voos, estados ficaram sem registros confiáveis e a vacinação foi prejudicada em diversos pontos. O que isso ensina? Que informações não são apenas números em um sistema; elas são a base que garante a continuidade da vida em sociedade. Quando não estão disponíveis ou não são usadas de forma correta, o impacto é imediato e profundo.

O desafio das organizações diante de dados dispersos

Dentro das organizações, a situação se repete em outra escala. Companhias com milhares de funcionários produzem uma enxurrada de registros sobre saúde, como exames admissionais, ausências, plano médico, campanhas de bem-estar, programas de saúde mental. Mas, quando tudo fica disperso em sistemas que não se conectam, a gestão vira um jogo de adivinhação. Decisões tomadas no escuro, custos assistenciais inflados e equipes que percebem a falta de cuidado integral com sua saúde.

É aqui que o RH precisa assumir um papel de liderança. Não mais como um setor operacional, restrito à folha de pagamento ou ao controle de benefícios, mas como protagonista da transformação da saúde corporativa. O desafio está em integrar registros, cruzar informações e antecipar riscos. É preciso coragem para encarar indicadores de saúde mental, presenteísmo ou risco ocupacional de frente. Não basta esperar relatórios prontos de terceiros, é hora de se tornar verdadeiramente data-driven — orientado por dados —, usando os números como ferramenta de gestão humana.

Na minha visão, o que diferencia companhias competitivas hoje é justamente a capacidade de transformar conhecimento em decisões que beneficiem efetivamente os colaboradores. O sucesso não se resume à redução de custos ou a balanços mais enxutos. A métrica real está no equilíbrio entre cuidado e desempenho. Organizações que entendem isso se destacam no mercado e ainda criam ambientes de trabalho nos quais as pessoas querem permanecer, crescer e dar o seu melhor.

Tecnologia e integração como pilares estratégicos

E a tecnologia tem um papel essencial nesse movimento. Ferramentas de Inteligência Artificial e machine learning (aprendizado de máquina) já são capazes de identificar padrões que o olhar humano dificilmente perceberia sozinho. Um aumento dos atestados de saúde mental pode ser correlacionado a indicadores de estresse ou de clima organizacional. Daí pode surgir uma intervenção preventiva que evita adoecimentos, afastamentos e até mesmo crises maiores.

As implicações estratégicas também não podem ser ignoradas. Cada centavo investido em prevenção pode gerar múltiplos ganhos em engajamento e eficiência. O oposto também é verdadeiro: quando as informações permanecem fragmentadas, o resultado é perda de visibilidade objetiva, mais retrabalho administrativo e maior vulnerabilidade jurídica, especialmente em tempos de LGPD. Integrar diferentes fontes deixou de ser um luxo — tornou-se uma necessidade estratégica para quem quer gerir equipes de forma inteligente.

Por isso, defendo que o futuro da saúde corporativa não será escrito por quem se limita a coletar registros, mas sim por quem souber interpretá-los e agir sobre eles. As organizações que compreenderem essa lógica estarão à frente, não porque gastam menos, mas porque cuidam melhor das pessoas que fazem seus negócios acontecerem. E, no fim, é sempre isso que diferencia uma empresa comum de uma instituição verdadeiramente transformadora: a capacidade de colocar as pessoas no centro, usando informações como meio, nunca como fim.


*Ana Beatriz Pereira é diretora de Dados da HealthBit.

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