Estudo aponta que só 15% dos jovens médicos utilizam alguma tecnologia para buscar emprego
Apenas 15% dos médicos brasileiros utilizam algum tipo de tecnologia para procurar emprego. Um estudo realizado pela DocSolution apontou que a principal porta de entrada no mercado de trabalho ainda é a indicação direta de colegas (quase 80%), seguida pelos plantões compartilhados em grupos de WhatsApp (70%).
O levantamento, que traça um panorama da entrada de médicos no mercado de trabalho, revela um cenário descentralizado, pouco profissionalizado e ainda muito analógico, baseado em relações pessoais, o que acaba resultando em insegurança, falta de previsibilidade e desigualdade de acesso a oportunidades. E o preço disso é alto.
A pesquisa mostrou que mais da metade dos entrevistados afirmou já ter enfrentado situações problemáticas ou inseguras ao tentar conseguir oportunidades, incluindo dúvidas sobre a estrutura do local, medo de não receber o pagamento, aceitação de plantões sem saber exatamente onde ou em quais condições iriam trabalhar, ou saber a própria veracidade da vaga anunciada.

A sondagem indica que a busca de oportunidades no mercado médico ainda opera de maneira informal e sem regulação adequada, abrindo espaço para insegurança e falta de suporte aos profissionais em início de carreira. “Esse cenário ajuda a entender por que quase 74% dos jovens médicos afirmam já ter recusado oportunidades por medo ou falta de respaldo no trabalho, segundo Vanessa Conte, diretora da DocSolution e responsável pelo levantamento.
Apesar dos plantões pagarem relativamente bem, a oferta é irregular (tanto em periodicidade, quanto em localização – 52% dizem que não encontram oportunidades em sua região). Isso torna a renda variável e instável e pressiona 56% dos jovens médicos a estarem o tempo inteiro online e atentos ao WhatsApp para não perder oportunidades.
Os jovens médicos ainda disseram que:
- 31,7% dizem que as oportunidades existem, mas difíceis de encontrar
- 29,6% dizem que a concorrência é muito alta.
- 33,2% considerarem o mercado desorganizado e pouco acessível.
Segundo Vanessa, o maior obstáculo para o médico iniciante, além da falta de oportunidade, é o medo de atuar sem suporte. “É um mercado onde a confiança ainda é pessoal, e não sistêmica. Isso aprofunda desigualdades e afasta o médico daquilo que deveria ser o foco: cuidar das pessoas”, completa.
A desconexão digital e seus efeitos
A falta de plataformas seguras e dedicadas ao público médico explica por que apenas 15% dos profissionais afirmam usar tecnologia para buscar oportunidades. Enquanto outras áreas já contam com ferramentas estruturadas de recrutamento, a medicina ainda depende da confiança pessoal, e não de processos baseados em transparência e competência profissional.
Isso reforça outro achado importante do levantamento: quase 75% dos jovens médicos dizem não contar com um espaço digital confiável para apresentar currículo, certificações ou trajetória profissional, e 80% afirmam não saber (ou sentem-se inseguros) como montar um portfólio. O reflexo disso é uma classe jovem, sobrecarregada e desassistida em termos de suporte técnico, emocional e de carreira.
A pesquisa
O levantamento “Entrada de Médicos no Mercado de Trabalho”, realizado pela DocSolution entre 18 de setembro e 13 de outubro de 2025, ouviu 206 médicos. O estudo investigou temas como remuneração, canais de busca por vagas, segurança emocional, visibilidade profissional e o uso (ainda baixo) da tecnologia na empregabilidade médica.
 
								