IA: saúde vive revolução que o marketing digital trouxe há 10 anos
Por Eduardo Barros
A transformação da inteligência artificial (IA) nos negócios lembra o que aconteceu há dez anos quando o marketing digital chegou às empresas. Estratégias para redes sociais, parcerias com influenciadores e planos SEO revolucionaram a maneira de atrair, converter e fidelizar clientes. Entre os segmentos que mais vêm se transformando em razão do avanço da IA está o setor de saúde: especialmente em clínicas e hospitais, tudo será diferente, da triagem de pacientes à gestão de suprimentos, passando pelo acompanhamento de tratamentos. O que antes era manual será automatizado por agentes autônomos e inteligentes.
Deve impulsionar esse movimento o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), lançado pelo governo federal, que prevê cerca de R$ 23 bilhões em investimentos até 2028, sendo R$ 98 milhões aplicados diretamente em saúde em iniciativas como prontuários inteligentes e automação de compras do Sistema Único de Saúde (SUS). Embora o montante ainda pareça modesto diante da dimensão do setor, o investimento marca um ponto de inflexão ao inserir a IA na modernização do sistema público.
Assim como a digitalização obrigou empresas a reverem estratégias, a automação inteligente exige que clínicas e hospitais repensem seus modelos de operação antes que se tornem obsoletos. O marketing digital mostrou como a integração entre dados e automação pode criar novas formas de operar em grande escala. Esse paralelo ajuda a compreender como a próxima etapa da IA aplicada à saúde pode cumprir tarefas e combinar diferentes sistemas em cooperação. No campo clínico, o modelo de multiagentes surge como próximo passo evolutivo: em vez de depender de um único sistema de decisão, diferentes agentes de IA colaboram entre si, validam diagnósticos e reduzem falhas, atingindo níveis de precisão superiores aos de médicos em estudos recentes.
A pesquisa TIC Saúde 2024, conduzida pelo Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação), reforça esse avanço ao apontar que 17% dos médicos e 16% dos enfermeiros no Brasil já utilizam ferramentas de IA generativa em suas rotinas. Nos estabelecimentos públicos, o índice é de 14% entre médicos e 11% entre enfermeiros; nos privados, 20% e 26%, respectivamente. Estudo realizado pela consultoria Allied Market Research, aponta que é esperado um crescimento anual de 41,7% no mercado global de IA em saúde, impulsionado por soluções de monitoramento remoto, diagnósticos automatizados e análise preditiva (Allied Market Research). No entanto, para a adoção em escala é necessário atentar-se à qualidade dos dados, integração entre plataformas e a criação de uma regulação que assegure privacidade e ética no uso das informações dos pacientes que ficam armazenadas.
O Brasil está acompanhando esse movimento da inovação na saúde, basta olhar para a quantidade de empresas em atuação. Segundo o relatório HealthTech Recap 2024, produzido pela Distrito — plataforma de inovação e monitoramento do mercado de startups —, o país já abriga 602 startups de saúde, o que representa 64,8% do total da América Latina. A combinação de investimentos públicos, adoção crescente no setor privado e avanço tecnológico cria as bases para um salto histórico para o futuro da saúde brasileira. A diferença em relação ao marketing digital de uma década atrás é que, desta vez, não se trata apenas de atrair mais clientes e gerar mais receita, mas de redefinir o cuidado, a experiência do paciente e a sustentabilidade do sistema.
*Eduardo Barros é especialista em IA e CEO da WorkAI.