Avanços que mudam a história da cirurgia oncológica no Brasil
Por Alexandre Ferreira Oliveira
De dois em dois anos, o Congresso Brasileiro de Cirurgia Oncológica se consolida como o maior evento da especialidade no mundo, reunindo milhares de profissionais para compartilhar experiências e projetar o futuro. E é justamente neste intervalo que o Brasil acaba de registrar duas conquistas históricas para os pacientes com câncer no Sistema Único de Saúde (SUS): a incorporação da videolaparoscopia e o parecer final favorável da CONITEC para inclusão da cirurgia robótica em câncer de próstata.
A videolaparoscopia, oficializada em dezembro de 2024, trouxe ao SUS a principal modalidade de cirurgia minimamente invasiva, incluindo gastrectomia, colectomia, histerectomia e pancreatectomia. Esse passo propicia a redução de complicações pós-operatórias, tempo de internação, dor e cicatrizes, além de permitir recuperação até 35% mais rápida. Pacientes, famílias e o próprio sistema de saúde passam a colher os benefícios de uma prática que une qualidade assistencial e sustentabilidade.
Em agosto de 2025 a CONITEC recomendou a prostatectomia radical assistida por robô no tratamento do câncer de próstata localizado ou localmente avançado. A decisão abre caminho para padronizar um procedimento de alta complexidade que alia precisão, segurança e melhores resultados funcionais e oncológicos. Estudos internacionais confirmam sua maior custo-efetividade frente às técnicas aberta e laparoscópica, especialmente em centros de referência, com menor morbidade perioperatória e melhores taxas de margens cirúrgicas.
Esses dois avanços, obtidos justamente no período de dois anos que separam cada edição do Congresso, ambos na gestão de Rodrigo Nascimento Pinheiro como presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), ilustram, de forma inequívoca, a importância da especialidade como principal ferramenta de cura do câncer. Cerca de 60% dos pacientes têm a cirurgia como primeiro tratamento e até 80% passam por algum procedimento cirúrgico durante sua jornada, seja curativo, paliativo ou reconstrutivo. Garantir acesso universal e equitativo a esses procedimentos é assegurar o direito fundamental ao cuidado oncológico de qualidade.
Essas conquistas estarão no centro das discussões do XVII Congresso Brasileiro de Cirurgia Oncológica, que será realizado de 5 a 8 de novembro, no Rio de Janeiro. O evento reunirá mais de 450 palestrantes de 20 países e será palco de um marco inédito: a fundação da World Society of Surgical Oncology (WSSO). A nova sociedade nasce da necessidade de dar uma voz unificada à cirurgia oncológica no mundo. Estudo publicado no The Lancet em 2023 revelou que 75% dos pacientes globalmente não têm acesso adequado a tratamento cirúrgico oncológico, cenário que reforça a urgência dessa articulação internacional.
Celebrar avanços, refletir sobre desafios e projetar o futuro é o espírito que norteia a edição de 2025. O Brasil chega ao congresso do Rio de Janeiro com conquistas concretas que melhoram a vida dos pacientes e mostram ao mundo que é possível alinhar inovação, equidade e compromisso social. Mas a caminhada está apenas começando. É preciso avançar ainda mais na ampliação do acesso, no treinamento de equipes, na incorporação de tecnologias com base em evidências e na integração de especialidades.
Os últimos dois anos provaram que é possível transformar ciência em política pública e progresso em benefício real para o paciente. Que o congresso de novembro seja não apenas um espaço de celebração, mas também de renovação do compromisso de todos nós com o futuro da cirurgia oncológica.
*Alexandre Ferreira Oliveira é cirurgião oncológico, presidente da Comissão Organizadora do XVII Congresso Brasileiro de Cirurgia Oncológica e diretor científico da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO).