4 entre 10 tumores ginecológicos são de colo do útero, aponta SBCO
Setembro é o mês de conscientização sobre câncer ginecológico (colo do útero, ovário, endométrio e outros mais raros, como vagina e vulva) e ele chega com boas notícias para o Brasil, principalmente para o tipo mais comum entre todos que acometem o sistema reprodutor feminino, que é o câncer de colo do útero. O avanço mais recente é o início da realização do exame HPV-DNA no Sistema Único de Saúde (SUS), o que potencializa o rastreamento da doença no país. Além disso, foi anunciado pelo Ministério da Saúde que o Brasil aumentou a taxa de cobertura da vacina contra o vírus HPV, causador de diversos tipos de câncer, como o de colo do útero. A cobertura vacinal em meninas de 9 a 14 anos atingiu 82%, enquanto a média no mundo é de 12%.
No mundo, o câncer de colo do útero corresponde a 662 mil dos 1,4 milhão de casos anuais de tumores ginecológicos, o que representa 45% de todos os cânceres no sistema reprodutor feminino, aponta levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) feito na base Globocan, da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer da Organização Mundial da Saúde (IARC–OMS). No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA), estima que em 2025 sejam diagnosticados 17.010 casos de câncer de colo de útero, 7.840 de câncer de endométrio e 7.310 de câncer de ovário. Outros tipos, mais raros, como câncer de vulva e vagina, estão classificados como outras neoplasias na base estatística, sem divulgação de números específicos.
Quando diagnosticado precocemente, o câncer de colo do útero tem chances de cura superiores a 90%. “O tratamento pode incluir cirurgia para remoção da lesão, radioterapia e/ou quimioterapia e, quanto mais precocemente o tumor foi descoberto, menos extensa e com menor impacto físico e emocional será a abordagem terapêutica”, explica o cirurgião oncológico Rodrigo Nascimento Pinheiro, presidente da SBCO e supervisor da Residência Médica em Cirurgia Oncológica no Hospital de Base do Distrito Federal.
Pela eliminação do câncer de colo do útero
Os dados INCA mostram que o câncer de colo do útero é o mais comum entre as neoplasias ginecológicas e o terceiro entre todos os tipos de câncer nas mulheres, atrás apenas de colorretal e mama (excluindo o câncer de pele não melanoma). Essa alta ocorrência, por sua vez, pode ser revertida com maior adesão e otimização de fluxo para tecnologias que estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (vacina que protege contra o vírus HPV e o exame HPV-DNA).
O exame HPV-DNA é uma tecnologia para rastreamento do câncer de colo do útero que começou a ser implementada no Sistema Único de Saúde (SUS), chegando a 12 estados e ao Distrito Federal. Essa abordagem permite identificar 14 genótipos do papilomavírus humano antes que ele provoque lesões. A diferença, em relação ao Papanicolau, é que enquanto o Papanicolau busca alterações celulares já provocadas pelo vírus, o DNA-HPV rastreia diretamente o material genético do vírus no colo do útero, mesmo em mulheres sem sintomas.
“O principal benefício é a redução de resultados inconclusivos. Isso permite intervalos maiores entre os exames, passando a ser de a cada cinco anos, ao vez de três. Além disso, reserva o papanicolau para casos em que já houve detecção prévia de alteração identificada no DNA-HPV”, explica o cirurgião oncológico Reitan Ribeiro, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica e coordenador de protocolos de pesquisa em tumores ginecológicos no Hospital Erasto Gaertner, em Curitiba.
Vacina contra HPV avança no Brasil
O Ministério da Saúde anunciou no dia 23 de agosto que o país atingiu mais de 82% de cobertura vacinal contra o HPV entre meninas de 9 a 14 anos em 2024, superando a média global de 12%, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre os meninos da mesma faixa etária, a cobertura chega a 67%. A vacina protege contra diversos tipos de câncer associados ao HPV, incluindo colo do útero, ânus, pênis, garganta e pescoço, além de verrugas genitais. Em 2022, a cobertura era de pouco mais de 78%. O avanço na vacinação faz parte do compromisso do Brasil com a Organização Mundial da Saúde (OMS) para chegar a 90% até 2030, o que faz parte das metas para erradicar o câncer de colo do útero.
Além de impulsionar a vacinação entre as meninas de 9 a 14 anos, o país adota outras estratégias, como a inclusão de meninos no público-alvo. A cobertura entre eles saltou de 45,46% para 67,26% em dois anos. Outra forma de ampliar o número de pessoas vacinadas é o chamado resgate vacinal. O Ministério da Saúde identificou que, em 2024, o Brasil tinha 7 milhões de adolescentes de 15 a 19 anos que não tinham se vacinado contra o HPV.
A meta global: eliminação
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu três pilares para erradicar o câncer do colo do útero como problema de saúde pública até o ano de 2030:
- Vacinar 90% das meninas de 9 a 14 anos contra o HPV;
- Rastrear 70% das mulheres de 35 e 45 anos com teste DNA-HPV;
- Tratar 90% das mulheres com lesões iniciais.
Com a combinação de vacina, rastreamento eficiente e tratamento adequado, o Brasil tem condições de ser exemplo internacional no controle da doença.
Tratamento para pacientes com câncer ginecológico
O tratamento envolve diferentes estratégias como cirurgia, radioterapia, quimioterapia, terapias-alvo e imunoterapia, sendo a escolha definida caso a caso. “Os avanços recentes incluem novas técnicas cirúrgicas, terapias medicamentosas modernas e recursos que ampliam as chances de cura, preservação da fertilidade e melhor qualidade de vida para as pacientes”, contextualiza Reitan Ribeiro.
Entre as inovações cirúrgicas, destacam-se a traquelectomia radical, que permite a retirada do colo uterino preservando o útero em casos iniciais e a transposição uterina, ainda experimental, indicada para pacientes que precisam de radioterapia após cirurgia e desejam manter a fertilidade. Além das técnicas operatórias, as terapias neoadjuvantes, como a quimioterapia para reduzir tumores antes da cirurgia, também têm sido utilizadas com bons resultados.
No campo medicamentoso, as terapias-alvo e a imunoterapia representam um salto importante. Drogas que bloqueiam proteínas associadas ao crescimento tumoral ou que impedem a formação de novos vasos sanguíneos têm mostrado eficácia em casos selecionados. Já a imunoterapia estimula o sistema imunológico a atacar as células cancerosas e é uma alternativa para pacientes em estágios avançados.