A redefinição do cuidado em saúde no Brasil passa pela IA
Por Jeferson Sá
A área da saúde vive uma transformação concreta e em ritmo acelerado, impulsionada por soluções de Inteligência Artificial (IA) cada vez mais especializadas. Mais do que uma promessa futurista, essas tecnologias já estão redefinindo diagnósticos, tratamentos, a gestão hospitalar e, principalmente, abrindo caminho para um sistema de saúde mais acessível, preciso e sustentável.
Um dos exemplos mais impactantes é o AI Diagnostic Orchestrator (MAI-DxO), da Microsoft, que alcançou 85,5% de acurácia em diagnósticos complexos em testes controlados com 304 casos, desempenho muito superior à média de 20% entre médicos experientes em situações semelhantes, segundo publicação no New England Journal of Medicine. Modelos de IA treinados para medicina como esse demonstram um potencial disruptivo: reduzir significativamente os custos com exames complementares ao mesmo tempo em que ampliam a precisão diagnóstica. Este é um avanço especialmente valioso em regiões com acesso limitado a especialistas, onde a carência de profissionais qualificados é um desafio crônico.
A aplicação da IA já apresenta resultados relevantes em áreas como radiologia, cardiologia e urologia, atingindo até 94% de precisão na identificação de patologias específicas. Em cirurgias de alta complexidade, algoritmos já atuam para minimizar riscos e aumentar a eficiência, reforçando o papel da tecnologia como apoio à decisão médica e não como substituto.
O mercado reflete esse movimento. Segundo projeção do GlobeNewswire, o setor de IA em saúde deve crescer de US$ 21,66 bilhões em 2025 para US$ 110,61 bilhões em 2030. Mais do que uma tendência, trata-se de um imperativo estratégico: 94% das organizações de saúde já veem a IA como essencial para suas operações, e 86% utilizam essas ferramentas extensivamente, de acordo com estudo da SS&C Blue Prism.
No Brasil, o cenário começa a avançar. A TIC Saúde 2024 mostra que 17% dos médicos já utilizam IA generativa, enquanto um levantamento da Anahp com a ABSS aponta que 62,5% dos hospitais privados pesquisados aplicam IA em suas rotinas. A adesão ainda é incipiente, mas a curva é positiva, impulsionada pela busca por eficiência e melhoria no atendimento.
Na prática, a IA especializada já tem transformado não apenas o diagnóstico clínico, mas toda a jornada do cuidado. Em projetos estratégicos, já foram implementadas soluções que otimizam a gestão hospitalar, integram assistentes inteligentes e personalizam tratamentos com base em análises genômicas, entregando ganhos concretos em tempo, precisão e experiência do paciente.
É essencial reforçar que a IA é uma aliada estratégica, não um substituto. Sua função é potencializar a atuação médica, liberando os profissionais de tarefas repetitivas para que possam se concentrar em análises clínicas mais complexas e em um cuidado mais próximo e humano. A colaboração entre a expertise humana e a capacidade analítica da IA é o caminho para um sistema de saúde mais robusto.
Mais do que adotar tecnologia, o setor de saúde brasileiro precisa avançar em mentalidade e cultura. Integrar a IA de forma estratégica é o caminho para reduzir desigualdades no acesso à saúde, otimizar recursos e oferecer um cuidado mais eficiente e empático em todas as regiões do país. A pergunta que precisa ser feita é: “como a inteligência artificial pode ampliar a capacidade de cuidado e transformar a experiência do paciente, garantindo um futuro mais equitativo e inovador para a saúde brasileira?”. É essa integração inteligente e humana que guiará o futuro da saúde no Brasil.
*Jeferson Sá é Diretor de Inovação da V8.Tech.