Digitalização na saúde pública exige persistência e estratégia

Por Wilian Josué

Transformar a saúde pública por meio da digitalização não é apenas uma mudança de ferramentas, mas uma nova forma de cuidar das pessoas. No Brasil, onde desigualdades regionais, infraestrutura precária e sobrecarga no sistema público ainda são obstáculos diários, apostar na informatização das unidades de saúde é um desafio tão complexo quanto necessário. Quando bem conduzido, esse processo pode significar uma revolução silenciosa e altamente eficiente na vida dos cidadãos.

Um dos principais entraves da digitalização nas redes municipais de saúde é a infraestrutura deficiente. Dados do IBGE mostram que apenas 36% dos estabelecimentos públicos de saúde no Brasil possuem acesso à internet por banda larga, e mais de 60% ainda realizam registros em papel. Ou seja, o país ainda está distante de uma cobertura mínima que permita a gestão integrada de informações, essencial para o funcionamento de qualquer sistema digital.

Diante desse cenário, algumas cidades estão encontrando caminhos viáveis. Em vez de tentar digitalizar tudo de uma só vez, o que gera alto custo, resistência interna e falhas técnicas, gestores têm adotado abordagens progressivas, priorizando unidades-piloto. Essa estratégia permite testar o sistema, capacitar as equipes e corrigir falhas antes da expansão. Em experiências relatadas por prefeituras que optaram por esse modelo, os custos de implementação chegaram a ser até 40% menores em comparação com tentativas de digitalização em larga escala e sem preparação adequada. Além disso, a adesão dos profissionais aumentou justamente por terem tempo e suporte para se adaptar.

Exemplos concretos mostram que a mudança é possível. Em Rio Claro, a digitalização do agendamento e do prontuário eletrônico permitiu reduzir o tempo de espera por consultas, além de integrar os dados do paciente em toda a rede municipal. Isso significa que qualquer atendimento, em qualquer ponto da cidade, parte de um histórico unificado, algo impensável nos modelos baseados em papel. Em Curitiba, a digitalização dos dados de saúde permitiu identificar em tempo real os bairros com maior incidência de síndromes gripais durante a pandemia, otimizando o envio de equipes e insumos. Já em Fortaleza, o monitoramento digital da fila de cirurgias reduziu em 30% o tempo de espera para procedimentos eletivos, segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde.

É comum que gestores hesitem em embarcar em projetos digitais por receio de falhas técnicas, dificuldade de adesão ou falta de retorno imediato. Mas esse é um erro estratégico. O impacto da digitalização na saúde não deve ser medido apenas em economia, mas na capacidade de prever demandas, evitar desperdícios e cuidar melhor da população. Além disso, dados digitais bem estruturados permitem ao poder público identificar gargalos com precisão, redirecionar recursos e planejar políticas públicas com base em evidências, e não em achismos.

Mais do que um projeto tecnológico, a digitalização da saúde pública é uma política de transformação estrutural. Mas ela exige visão de longo prazo. É preciso paciência para lidar com os obstáculos, comprometimento para sustentar o projeto e coragem para desafiar modelos obsoletos. A experiência de quem avança mostra que, mesmo com limitações, é possível transformar o caos administrativo em inteligência pública, e isso começa por onde sempre deveria: cuidando melhor de quem mais precisa.


*Wilian Josué é diretor e fundador da UniCidades.

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