A IA no centro da transformação dos cuidados em saúde
Por Bruno Campello
A Inteligência Artificial vem ganhando tração nos mais diversos elos da cadeia econômica mundo afora. Passado o receio inicial provocado pelo surgimento dessa tecnologia, sua utilização tem permitido aprimorar processos e fluxos de trabalho para, a partir disso, possibilitar que os profissionais foquem seus esforços diários em questões cada vez mais estratégicas. O setor de saúde lidera movimentos relevantes na adoção da IA, com o olhar direcionado para que os profissionais que atuam diariamente nos cuidados em saúde possam ter, cada vez mais, o paciente no centro de seus esforços.
Dados da consultoria Precedence Research apontam que o mercado de soluções e serviços baseados em IA para a saúde deve movimentar mais de US$ 180 bilhões globalmente até 2030, com uma fatia significativa desse montante chegando às instituições brasileiras públicas e privadas.
Uma das frentes de operações em que a IA tem sido utilizada com bastante êxito é nos setores de diagnóstico de clínicas e hospitais, assim como nos players que atuam especificamente nesse nicho. Essa tecnologia possibilita, por exemplo, uma análise preliminar de grandes volumes de exames por imagem que, posteriormente, serão avaliados por especialistas já com indicações sobre possíveis diagnósticos.
Além disso, exames com imagens ainda mais nítidas e detalhadas geradas por equipamentos com conexão à IA contribuem com a acurácia clínica e, consequentemente, com melhores desfechos para os pacientes. Esse tipo de diagnóstico possibilita detectar alterações neurológicas sutis, em estágios iniciais, muitas vezes invisíveis a olho nu, o que pode levar à antecipação de intervenções com benefícios positivos para o prognóstico dos pacientes.
Outra especialidade em que a IA pode ter um impacto extremamente significativo é na detecção do câncer de pâncreas. Nesse tipo de doença, a identificação precoce é determinante para ampliar as chances de tratamento dos pacientes. Na grande maioria dessas situações, cerca de 80% a 85%, a patologia é diagnosticada, infelizmente, em estágio em que não há mais a possibilidade de cura.
A IA também já é realidade também no monitoramento de pacientes com problemas neurológicos como esclerose múltipla, demência ou lesão cerebral. Para além disso, o uso da tecnologia permite automatizar todo um processo atualmente feito de maneira manual, desde a identificação e marcação até a quantificação de volumes de estruturas cerebrais através de informações disponíveis em exames de tomografia e ressonância.
É preciso que a IA seja incorporada de maneira coordenada a dispositivos, equipamentos, insumos, soluções e outras tecnologias já utilizadas. A interoperabilidade é a chave para o acesso a dados precisos e em tempo real dos pacientes para que sejam efetivos no suporte às decisões clínicas e, consequentemente, resultem em melhores desfechos para os pacientes.
Alguns dos desafios na utilização da IA estão relacionados a questões regulatórias e ao desenvolvimento de estratégias nacionais. Outro ponto de atenção fundamenta-se no acesso ao maior número de pessoas, não somente aos que contam com serviços privados de saúde.
A Inteligência Artificial está transformando a saúde e outros setores, mas é preciso avançar em diferentes aspectos de maneira estratégica e coordenada para que profissionais de saúde e pacientes sejam beneficiados de maneira plena.
*Bruno Campello é CEO da Guerbet.