Estudo global analisa perfil mais comum entre as pessoas que recebem o diagnóstico de câncer de pulmão
Homem, tabagista e com mais de 60 anos. Esse continua sendo o perfil mais comum entre as pessoas que recebem o diagnóstico de câncer de pulmão. No entanto, está sendo registrado um crescimento preocupante de casos de adenocarcinoma, o tipo mais comum de câncer de pulmão, entre não fumantes, especialmente mulheres. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), em alusão ao Agosto Branco, mês de conscientização sobre câncer de pulmão, faz esse alerta com base no estudo global publicado em abril deste ano na revista The Lancet Respiratory Medicine, liderado por pesquisadores da Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer (IARC/OMS).
Os pesquisadores destacam que há evidências crescentes de uma relação causal entre a poluição ambiental por material particulado e um risco aumentado de adenocarcinoma, tipo mais comum de câncer de pulmão, principalmente entre não fumantes e com maior tendência de crescimento entre as mulheres. O estudo mostra que mais de 80 mil novos casos anuais de câncer de pulmão no sexo feminino no mundo são atribuíveis à poluição do ar.
Tabagismo, em todas as suas formas, segue como principal causa
Com estimativa de mais de 32 mil novos casos em 2025, o câncer de pulmão é a terceira neoplasia mais comum entre os homens e a quarta entre as mulheres. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), mais de 18 mil brasileiros e 14 mil brasileiras devem receber o diagnóstico da doença este ano. Embora a doença também acometa não fumantes, o principal fator de risco é o tabagismo em todas as suas formas, incluindo cigarro tradicional, cigarro eletrônico e narguilé. Outros fatores de risco para câncer de pulmão incluem sedentarismo, consumo excessivo de álcool, além da exposição passiva ao cigarro, condições ocupacionais (como inalantes tóxicos) e hereditariedade.
Além de alertar sobre a importância de não fumar e sobre evitar outras potenciais causas para desenvolvimento da doença, a SBCO, por meio da campanha Agosto Branco, também busca informar a população sobre os sintomas, muitas vezes inespecíficos, como tosse persistente e falta de ar, além de reforçar a importância do diagnóstico precoce. O cirurgião oncológico e presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), Rodrigo Nascimento Pinheiro, explica que o câncer de pulmão é uma doença evitável. “O tabagismo está relacionado a 85% de casos de câncer de pulmão e não fumar é o melhor caminho. Para quem fuma, nunca é tarde para parar. Além disso, medidas favoráveis ao meio-ambiente, incluindo a redução de emissão de poluentes, também contribuirá para a redução da incidência de câncer de pulmão no mundo”, afirma Pinheiro.
O especialista reforça que, além do cigarro, outros dispositivos de fumo estão cada vez mais populares e são nocivos. “Principalmente entre os jovens, os cigarros eletrônicos (também chamados de vapes) e narguilés se tornam populares com a falsa ideia de que são menos prejudiciais. Porém, são altamente viciantes e carregam concentrações elevadas de nicotina e outras substâncias tóxicas. Representam um risco concreto à saúde, inclusive com potencial de provocar diferentes tipos de câncer, não apenas de pulmão”, alerta.
Diagnóstico
O diagnóstico precoce do câncer de pulmão continua sendo um dos grandes desafios no combate ao tumor. “Estamos falando de um câncer que ainda não possui um método decisivo de rastreamento. Além disso, muitas vezes é silencioso em seus estágios iniciais, o que contribui para que os casos sejam identificados tardiamente, quando as chances de cura já estão significativamente reduzidas. Entre os sinais de alerta mais comuns estão tosse persistente, dor no peito, falta de ar, perda de peso sem causa aparente e presença de sangue no escarro. Reconhecer esses sintomas e buscar avaliação médica o quanto antes é essencial para aumentar as possibilidades de tratamento efetivo e sobrevida do paciente”, explica Pinheiro
O diagnóstico do câncer de pulmão combina exame clínico, exames de imagem (radiografia de tórax, tomografia computadorizada e ressonância magnética), broncoscopia (exame das vias respiratórias que permite a coleta de amostra de tecido para análise histopatológica e identificação do subtipo específico), biópsia guiada e a realização de testes moleculares para detectar mutações genéticas específicas ou biomarcadores para direcionar a melhor opção terapêutica.
Cirurgia — A cirurgia em casos de câncer de pulmão é frequentemente empregada quando o tumor ainda não se disseminou para regiões além do pulmão. A lobectomia, cirurgia que remove inteiramente o lobo pulmonar onde o tumor está localizado, ainda é o procedimento mais indicado para os casos iniciais. No entanto, nas situações em que os tumores medem até 2 centímetros e estiverem em área propícia, existe a possibilidade de uma retirada parcial do lobo, por meio de uma cirurgia chamada segmentectomia pulmonar anatômica. “São decisões tomadas caso a caso”, diz. Segundo o cirurgião, os procedimentos minimamente invasivos e a cirurgia robótica para a retirada de tumores e gânglios linfáticos na região intratorácica estão mudando o panorama das cirurgias de câncer de pulmão.
A chegada de medicamentos inovadores das classes das terapias alvo e imunoterapia, em associação ou não com a quimioterapia, além da evolução das técnicas e equipamentos de radioterapia, aumentam as chances de controle e remissão da doença. Há, ainda, estudos de modalidades de radioterapia novas, chamadas de radiocirurgia, que possivelmente poderão ser aplicadas para tratamento de cânceres de pulmão iniciais.