Inclusão e representatividade: a nova fronteira da pesquisa clínica
Por Amanda Novaes
A aprovação da lei 14.874/2024, em vigor desde agosto de 2024, estabelece um marco importante para o avanço da pesquisa clínica no Brasil. O principal diferencial dessa legislação é a aceleração dos processos e a maior previsibilidade de prazos de aprovação, o que deve atrair mais estudos clínicos para o país.
No contexto científico, a representatividade nos estudos clínicos não é apenas uma questão ética, mas também uma estratégia essencial para garantir que os tratamentos desenvolvidos sejam eficazes em todas as populações. Incorporar pessoas de diferentes origens raciais, étnicas e socioeconômicas nos estudos assegura que eles reflitam melhor a realidade epidemiológica e as variações genéticas da população global. Esse foco é fundamental para o desenvolvimento de medicamentos que atendam às necessidades de diferentes grupos, garantindo que os avanços médicos sejam inclusivos e representativos.
Embora o Brasil seja um dos países com maior diversidade populacional, a representatividade nos estudos clínicos no país ainda enfrenta desafios. A implementação de práticas que assegurem a inclusão de populações sub-representadas requer uma adaptação significativa nas operações de pesquisa, desde a seleção de centros de estudo até o recrutamento de pacientes.
Uma estratégia que tem se mostrado eficaz localmente tem sido a expansão dos centros de pesquisa para regiões historicamente menos representadas, como o Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Nos estudos clínicos da GSK, 34% dos centros incluídos em 2024 foram provenientes dessas regiões. Ao ampliar a presença nessas áreas, é possível ter uma representatividade maior, com participantes de diferentes origens raciais e étnicas. Para isso, investir cada vez mais na colaboração com redes especializadas em mapeamento de centros de pesquisa clínica, tem sido essencial para identificar os locais mais adequados para condução de estudos clínicos que reflitam a diversidade da população brasileira.
Em um estudo da GSK com recrutamento já finalizado no país na área de hepatite B, o Brasil contribuiu com 33% do total da população categorizada como raça preta incluída nesse estudo. Para outro estudo na área de oncologia com recrutamento ainda em andamento, o Brasil vem contribuindo com 56% do total de participantes incluídos pertencentes à raça preta.
Com sua população diversificada e vasta geografia, o Brasil oferece um cenário único para a pesquisa clínica global. A agilidade e a capacidade de recrutar participantes em diferentes regiões têm colocado o país em uma posição estratégica no cenário global de pesquisa. O desafio agora é garantir que essas oportunidades sejam expandidas, ampliando ainda mais a inclusão de diferentes grupos populacionais nos estudos.
O fortalecimento da pesquisa clínica no Brasil também contribui para o desenvolvimento da ciência e inovação no país. A expansão das atividades de pesquisa para regiões menos representadas não só promove a inclusão, mas também fortalece o ecossistema de saúde, criando oportunidades para novas parcerias e avanços científicos.
Investimentos contínuos em infraestrutura de pesquisa e capacitação de profissionais são fundamentais para consolidar o Brasil como um hub de inovação em saúde. Ao integrar centros de pesquisa de diversas regiões, o país pode se posicionar como um dos principais países na condução de estudos clínicos globais que priorizam a representatividade e a inclusão, garantindo que os avanços científicos beneficiem a todos.
*Amanda Novaes é diretora de Pesquisa Clínica da GSK Brasil.