Elevando a Qualidade e Segurança na Saúde por meio das HROs
Por Wilson Pedreira
O setor de saúde tem sido colocado a prova como nunca nos últimos anos. Os desafios enfrentados durante a pandemia e no pós-pandemia, evidenciaram a urgência de se tratar questões como a qualidade assistencial e a sustentabilidade do sistema, ao mesmo tempo que a busca pela excelência e segurança do paciente tornou-se uma prioridade inegociável.
Em um ambiente complexo e dinâmico como o da saúde, a capacidade de operar com buscando o “erro zero” é essencial. Neste sentido, é natural associar o modelo de Organizações de Alta Confiabilidade (HROs) à saúde. Conceito nascido na década de 1980, na Universidade de Berkeley, Califórnia, nos EUA, as HROs, por meio de seus pilares – preocupação com falhas, resistência à simplificação, sensibilidade às operações, deferência à especialização e compromisso com a resiliência – oferecem um caminho para a excelência.
A aplicação desse modelo não é apenas uma questão de boas práticas, mas sim uma necessidade estratégica. Na saúde, sistemas e hospitais em todo o mundo já adotam os princípios das HROs e se destacam pela redução de eventos adversos, fortalecimento da cultura de segurança e melhoria contínua da qualidade assistencial.
Um exemplo reconhecido vem dos Estados Unidos, onde o conceito de HRO é mais difundido. A Administração de Saúde dos Veteranos (VHA) o maior sistema de saúde dos EUA, embarcou em uma ampla transformação para se tornar uma HRO. Eles investiram em treinamento extensivo, padronização de cuidados, redução de erros e fortalecimento da segurança do paciente, incorporando os princípios HRO em todas as suas operações. Eles também têm se associado a consultorias para avaliar a maturidade das práticas HRO em seus hospitais e desenvolver planos de implementação.
No Brasil, podemos citar o trabalho realizado pelos hospitais filantrópicos privados que estão liderando as mudanças no setor. Ao adotar os mesmos padrões de confiabilidade dos melhores hospitais do mundo, a iniciativa eleva o nível da assistência prestada aos pacientes e contribui para a sustentabilidade financeira das instituições. Ao priorizar a segurança do paciente, otimizar processos e investir em inovação, está sendo construído um sistema de saúde mais eficiente, sustentável e confiável.
Dentro da AHFIP (Associação dos Hospitais Filantrópicos Privados) existe um grupo de trabalho específico sobre Qualidade e Segurança, composto pelos líderes da área de todos os hospitais da Associação, que trabalham continuamente nas ferramentas que potencializam os princípios das HRO (melhores práticas dos associados, indicadores de qualidade, segurança e pertinência, modelos de auditoria etc.)
Como vimos, o conceito de Organizações de Alta Confiabilidade (HROs) transcende a mera gestão de riscos; ele representa uma filosofia operacional profunda, enraizada na preocupação constante em mitigar falhas, na relutância em simplificar, na sensibilidade às operações, na deferência à expertise e no comprometimento com a resiliência. Não se trata de um destino a ser alcançado, mas sim de uma jornada contínua de aprendizado, adaptação e aprimoramento, especialmente em ambientes de alta complexidade e com potencial para consequências catastróficas, como a saúde.
A adoção dos princípios HROs tem demonstrado ser um caminho eficaz para mitigar erros, otimizar processos e, fundamentalmente, salvar vidas. Em um mundo cada vez mais volátil, incerto, complexo e ambíguo (VUCA), a capacidade de operar com alta confiabilidade não é apenas uma vantagem competitiva, mas uma necessidade imperativa. É um investimento no futuro, na sustentabilidade e, acima de tudo, na segurança e no bem-estar de todos os envolvidos.
Os hospitais associados a AHFIP tem esta abordagem como missão e expressão de seus valores, no objetivo de ser referência de qualidade no Mercado de Saúde.
*Wilson Pedreira é CEO da Ahfip – Associação dos Hospitais Filantrópicos Privados.