O impacto da tecnologia na jornada da fertilidade
Por Mariana Ribeiro
A tecnologia tem provocado mudanças significativas em todas as áreas e a medicina é uma das que mais se beneficia desses avanços. Já conseguimos observar melhorias expressivas tanto nos processos de diagnóstico quanto nos tratamentos oferecidos aos pacientes. Na reprodução assistida, essa transformação não é diferente.
Ao longo da minha carreira como biomédica atuando diretamente com fertilização, tenho acompanhado de perto uma verdadeira revolução silenciosa dentro dos laboratórios. A forma como realizamos a fertilização in vitro (FIV) mudou nos últimos anos. Com o apoio de novas tecnologias, conseguimos tornar os procedimentos mais precisos, seguros e eficazes, reduzindo riscos e aumentando as chances de sucesso. Além dos ganhos técnicos, essas inovações também têm proporcionado mais conforto e esperança para os casais que enfrentam o desafio da infertilidade.
Quando olhamos para alguns anos atrás, ainda era difícil imaginar que chegaríamos a esse nível de avanço. Muitos processos ainda dependiam bastante da intervenção manual e tinham limitações claras.
Um bom exemplo dessa evolução é a incubadora time-lapse, que mudou a forma como acompanhamos os embriões durante o seu desenvolvimento. Diferente das incubadoras tradicionais, que exigem a retirada do embrião para avaliação, a time-lapse permite o monitoramento contínuo, 24 horas por dia, por meio de imagens automáticas. Com isso, o embrião permanece o tempo todo em um ambiente estável, o que aumenta as chances de sucesso e traz mais segurança ao processo.
Além disso, a incubadora permite que o embrião permaneça em um ambiente com controle de temperatura, umidade e pH, o que é fundamental para seu desenvolvimento. Outro diferencial é a possibilidade de acompanhar em detalhes o tempo de cada fase da divisão celular, definida como morfocinética, algo que antes não era possível. Dentro desse contexto, o uso de softwares avançados no apoio à escolha dos embriões também merece destaque. Com a utilização desses programas conseguimos analisar as imagens geradas pela time-lapse e aplicamos algoritmos capazes de indicar quais apresentam maior potencial de implantação. Essa análise baseada em dados complementa o nosso trabalho, contribuindo para decisões mais assertivas e personalizadas.
Outra evolução dentro dos laboratórios são os testes genéticos pré-implantacionais (PGT). Com a modernização e protocolos padronizados, hoje é possível analisar o DNA dos embriões com mais segurança e agilidade antes da transferência. Estes testes ajudam a identificar alterações genéticas que poderiam comprometer a gestação ou a saúde do bebê, e são especialmente importantes para casais com histórico de doenças hereditárias ou perdas gestacionais.
Como profissional que vive essa rotina de perto, posso afirmar que estamos diante de um novo momento na reprodução assistida. Cada avanço que chega ao laboratório não representa apenas inovação tecnológica, mas uma nova chance, uma nova possibilidade para quem sonha em formar uma família.
O futuro da fertilização in vitro está cada vez mais conectado com a precisão da ciência e o cuidado com as pessoas. É justamente essa combinação que nos permite seguir em frente com mais confiança, oferecendo não só resultados, mas também acolhimento em cada etapa do processo.
*Mariana Antunes Ribeiro é Biomédica graduada, Mestre e Doutora pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) e Especialista em Genética Médica pela Universidade de São Paulo (USP).