Dia do Hospital: Quem cuida também precisa ser cuidado
Hospitais são mais do que prédios com equipamentos e profissionais em plantão. São estruturas vivas que operam diariamente no limite para garantir o cuidado de milhões de brasileiros. Neste 2 de julho, Dia do Hospital, é necessário mais do que celebração: é preciso reconhecer os desafios profundos enfrentados por essas instituições e, acima de tudo, os caminhos possíveis para fortalecê-las.
No imaginário coletivo, o hospital é o lugar da urgência, da cirurgia, do nascimento e da recuperação. Mas, na prática, ele também é o ponto de chegada de um sistema que muitas vezes falha em garantir atenção básica resolutiva, acompanhamento de doenças crônicas e acesso ágil a exames. O resultado é previsível: unidades sobrecarregadas, filas crescentes e equipes que fazem muito com pouco.
Apesar de sua importância, os hospitais convivem com um cenário de subfinanciamento persistente, insegurança regulatória, alta rotatividade de normas e exigências burocráticas que dificultam a gestão eficiente. Em muitas cidades, especialmente no interior, a unidade hospitalar local é a única referência de cuidado e, mesmo assim, sobrevive com margens financeiras apertadas, contratos defasados e pressões crescentes.
É preciso tratar essa realidade com seriedade. Valorizar os hospitais não é defender interesses corporativos. É reconhecer que não existe acesso digno à saúde sem serviços estruturados, profissionais valorizados e financiamento compatível com a complexidade da assistência. É compreender que sustentabilidade hospitalar não se resolve apenas com repasses pontuais ou medidas de curto prazo, mas com políticas públicas consistentes, diálogo federativo e foco em qualidade e resultados.
Também é hora de rever a forma como regulamos e contratualizamos os serviços. Precisamos de pactos mais justos entre gestores públicos, operadoras, prestadores e sociedade. E, acima de tudo, de escuta qualificada para que quem está na linha de frente possa contribuir com soluções.
Neste Dia do Hospital, o melhor gesto que governos, legisladores e formadores de opinião podem fazer é olhar com atenção para quem sustenta a assistência na prática. Cuidar dos hospitais é cuidar de quem cuida da população. Que este seja um ponto de partida para um debate mais sério, menos retórico e mais comprometido com a saúde como direito e não apenas como promessa.
*Anis Ghattás Mitri Filho é presidente da AHOSP (Associação de Hospitais e Serviços de Saúde do Estado de São Paulo).