Estudos avaliam IA para detecção precoce do câncer colorretal e do risco cardíaco
Publicados em revistas internacionais especializadas, dois novos estudos analisam como a combinação entre inteligência artificial e técnicas avançadas de imagem pode contribuir para o diagnóstico e o prognóstico de duas das doenças que mais matam no mundo: o câncer colorretal e o infarto agudo do miocárdio. Considerando que o câncer colorretal é a segunda principal causa de morte por câncer no planeta, e os ataques cardíacos seguem entre as principais causas de óbito, as pesquisas mostram caminhos promissores para detectar essas condições com mais precisão, prever riscos com antecedência e indicar tratamentos mais eficazes.
No campo da oncologia, um artigo publicado na revista Abdominal Radiology analisou 17 estudos envolvendo mais de 6 mil pacientes com câncer colorretal. A pesquisa avaliou a eficácia da radiômica — técnica que usa algoritmos para extrair informações quantitativas de exames de imagem — na detecção da instabilidade de microssatélites (MSI), um importante biomarcador associado à resposta a tratamentos da doença. Os modelos baseados em ressonância magnética demonstraram precisão de 90%, enquanto os baseados em tomografia alcançaram 81,5%.

“Essa tecnologia ainda está em fase de desenvolvimento, mas tem grande potencial para transformar o diagnóstico e o tratamento do câncer colorretal. O avanço do nosso estudo é demonstrar que a radiômica, com apoio da inteligência artificial, pode prever a instabilidade de microssatélites com até 90% de precisão em exames de ressonância. Isso pode contribuir para facilitar a avaliação do prognóstico e potencial auxílio no futuro manejo terapêutico do paciente”, ressalta Marco Aurélio Soato Ratti, médico radiologista do aparelho músculo-esquelético do Grupo Fleury e coautor de ambos os estudos.
Já na cardiologia, uma meta-análise publicada na Clinical Imaging examinou o impacto prognóstico da tensão (ou “strain“) do ventrículo esquerdo em 3.651 pacientes que sofreram infarto agudo do miocárdio e foram tratados com intervenção coronariana percutânea (ICP). O estudo utilizou o rastreamento de características (feature tracking) por ressonância magnética cardíaca para medir o chamado strain longitudinal global (GLS) — um indicador da função do músculo cardíaco. Os dados mostraram que pacientes com redução do GLS apresentam maior risco de desenvolver insuficiência cardíaca, remodelamento ventricular adverso e até mesmo maior mortalidade. Essa avaliação precoce pode ser decisiva para identificar quais pacientes exigem cuidados intensificados após o infarto.
“O mais importante é que estamos falando de um exame disponível em muitos centros, algo que pode ser levado para a prática na rotina clínica com impacto real. Ao incluir o strain ventricular como parte do protocolo pós-infarto, podemos oferecer um acompanhamento mais preciso, com intervenções direcionadas antes que o quadro piore”, frisa o radiologista.
Os dois estudos apontam para a integração entre inteligência artificial e imagem médica – que deve se tornar cada vez mais estratégica no enfrentamento de doenças. “Embora tratem de áreas distintas da medicina, os dois estudos apontam para uma mesma direção: o uso inteligente da tecnologia para tornar a medicina mais precisa, eficiente e centrada no paciente. Com exames mais sensíveis e algoritmos mais sofisticados, os médicos podem diagnosticar mais cedo, prever riscos com mais clareza e, acima de tudo, oferecer tratamentos mais eficazes e personalizados”, conclui Ratti.