Cientista francês explica como fungos podem permanecer no corpo

Infecções fúngicas invasivas, como a criptococose, continuam sendo um problema de saúde pública no mundo todo, especialmente em pacientes imunocomprometidos. Com altas taxas de mortalidade, essas infecções podem permanecer silenciosas no corpo por anos antes de se reativarem, desafiando diagnósticos e tratamentos convencionais. Essa foi a preocupação central de uma palestra realizada no Institut Pasteur de São Paulo, que recebeu o pesquisador Alexandre Alanio, referência internacional no estudo dos fungos patogênicos.

Professor na Universidade Paris Cité (Hospital Saint Louis, Paris, França), pesquisador, chefe do grupo de Micologia Translacional e vice-diretor do Centro Nacional de Referência para Micoses e Antifúngicos da França, Alexandre Alanio também leciona no curso de Micologia Médica do Institut Pasteur de Paris. No seminário, ele compartilhou descobertas que mostram como o Cryptococcus neoformans consegue “se esconder” no corpo em estados chamados de dormência e persistência. Esses estados fazem com que o fungo, mesmo vivo, não seja detectado ou combatido eficazmente, aumentando o risco de complicações tardias.

Segundo o professor Alanio, as células dormentes, descritas como células viáveis, mas não cultiváveis, podem ficar anos no organismo, abrigadas em locais como os pulmões e macrófagos (células de defesa do corpo), antes de reaparecerem quando a imunidade do paciente cai. Já as chamadas células persistentes conseguem sobreviver mesmo diante de tratamentos potentes, como a Anfotericina B, sem desenvolver resistência genética definitiva. “Essas células persistentes apresentam um metabolismo reduzido e são capazes de tolerar temporariamente o estresse causado por medicamentos antifúngicos”, disse. Esses achados ajudam a entender por que, em alguns pacientes, a doença volta mesmo após longos tratamentos.

Ele apresentou experimentos que simulam essas condições em laboratório, revelando como o fungo se adapta para sobreviver em ambientes hostis. “Por exemplo, a limitação de oxigênio e nutrientes faz com que parte das células se torne viável, mas incapaz de crescer em cultura – que desafia a microbiologia pasteuriana convencional”. Alanio também explicou que, dentro dos macrófagos, as células dormentes permanecem praticamente inertes, mas podem se reativar e proliferar novamente ao serem liberadas através de processos como a exocitose não-lítica, um achado que reforça a importância de entender a interação do fungo com as células de defesa do corpo. Ele também destacou o papel de vesículas extracelulares e de moléculas como o ácido pantotênico, que demonstraram estimular a reativação de células dormentes.

Novos caminhos para diagnóstico e tratamento

Além de explicar esses mecanismos, Alanio compartilhou pistas importantes que podem abrir caminho para novas abordagens de diagnóstico e tratamento. Uma delas é o uso de testes moleculares para detectar a expressão de genes específicos, como o QSP1, que indica a presença de células fúngicas vivas mesmo quando não são cultiváveis em laboratório – um passo essencial para monitorar pacientes com criptococose.

Ele também destacou como moléculas como o ácido pantotênico e vesículas extracelulares podem reativar células dormentes, sugerindo alvos terapêuticos potenciais. Ele relatou que essas vesículas carregam nutrientes e sinais moleculares que ajudam a reativar as células dormentes, um mecanismo que pode ser explorado para estratégias terapêuticas futuras. Por fim, enfatizou que o uso combinado de antifúngicos, como Anfotericina B com 5-FC, é mais eficaz que a monoterapia para erradicar populações persistentes – informação essencial para melhorar protocolos clínicos e reduzir recaídas.

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