Por que o Open Health ainda não saiu do papel no Brasil?

Por Marcos Moraes

A implementação do Open Health no Brasil representa uma oportunidade transformadora para nosso sistema de saúde, porém ainda enfrenta uma série de desafios. Trata-se de um conceito que visa promover o compartilhamento de dados entre prestadores de serviços de saúde, como hospitais, clínicas e operadoras, a fim de possibilitar uma gestão mais eficiente e coordenada das informações. Com os sistemas de saúde integrados, é possível aumentar a eficiência operacional por meio de um gerenciamento mais preciso dos dados, o que destaca a relevância desse modelo para o aprimoramento do atendimento à saúde.

Entre os principais obstáculos para a adoção do Open Health no país está a padronização dos dados. No setor de saúde, cada instituição utiliza um dicionário próprio para medicamentos, exames e procedimentos, criando uma barreira para a interoperabilidade. Apesar de existirem padrões para troca de informações como a Troca de Informação em Saúde Suplementar (TISS) e a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) como repositório central de dados criado pelo governo brasileiro, muitas organizações optam por customizações específicas, dificultando o diálogo entre diferentes sistemas.

Outra questão é a segurança da informação. Quando lidamos com dados de saúde, tratamos de informações sensíveis sobre os pacientes que precisam estar seguras de acordo com as regulamentações. Sem a garantia de um sistema de proteção confiável, o Open Health corre o risco de expor dados confidenciais ao invés de cumprir o papel de uma solução segura e eficiente.

Somada a isso há a questão da adesão e resistência do mercado. A operacionalização do Open Health exige investimentos em tecnologia, adaptação de processos e uma mudança cultural. Muitas empresas do setor privado, como operadoras e hospitais, relutam em abrir mão do controle exclusivo de seus dados, temendo a perda de uma vantagem competitiva ou não identificando o valor imediato da abertura dessas informações.

Uma comparação interessante pode ser feita com o Open Finance, que avançou rapidamente no Brasil devido à regulamentação unificada do Banco Central e ao interesse comercial dos bancos. Já no caso do Open Health, a fragmentação regulatória entre diferentes órgãos, como ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) e Ministério da Saúde, e a ausência de um incentivo claro para os players do mercado dificultam sua execução. Dados de saúde são mais sensíveis do que dados financeiros, o que exige mecanismos ainda mais robustos de governança e segurança.

A interoperabilidade entre o setor público e o privado também é um ponto que precisa ser alinhado. Entretanto, em momentos de urgência, como foi durante a pandemia da COVID-19, essa colaboração se mostrou bem-sucedida, quando a RNDS permitiu que informações de vacinação fossem compartilhadas entre os setores para garantir o controle das doses em tempo real. Além da parceria público-privada, para que o Open Health funcione de maneira ampla, é necessário que tanto instituições públicas quanto privadas adotem padrões uniformes, como os protocolos Health Level 7 (HL7) e Fast Healthcare Interoperability Resources (FHIR), que já são utilizados em outros países. Ambos os padrões buscam facilitar a comunicação entre diferentes sistemas de saúde: o HL7 como um protocolo tradicional e o FHIR ao representar uma abordagem mais moderna e acessível para a troca de dados médicos.

Um exemplo disso é a Estônia, um dos países mais avançados na aplicação do Open Health. Lá, prontuários eletrônicos, prescrições e históricos clínicos são compartilhados de maneira segura entre instituições – e o paciente mantém o controle total sobre seus dados. A interoperabilidade é assegurada por uma plataforma chamada X-Road, que utiliza padrões de segurança rigorosos e identidade digital para proporcionar o acesso autorizado às informações.

Apesar de todos esses desafios, há um horizonte positivo. O Ministério da Saúde possui um plano de ação para a saúde digital até 2028 que estabelece diretrizes para a unificação dos dados de saúde no país. Iniciativas como a RNDS são passos importantes nessa direção e, com o avanço das healthtechs, há uma pressão por maior transparência e eficiência no setor.

Superar esses desafios e colocar o projeto em prática traria inúmeras vantagens, resultando em uma estrutura de saúde mais transparente, eficiente e focada no paciente. Isso possibilitaria que prestadores de serviços e usuários tomassem decisões mais embasadas, alcançando desfechos clínicos, intervenções mais rápidas e redução de custos operacionais Afinal, um sistema de saúde integrado propicia ao país progredir em direção a um modelo mais moderno e acessível para a população.


*Marcos Moraes é diretor da área de Health da FCamara.

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