Um sinal de esperança no câncer de ovário resistente

Por Henrique Helber

Entre os destaques da ASCO 2025, o estudo ROSELLA iluminou um dos territórios mais áridos da oncologia ginecológica: o tratamento do câncer de ovário resistente à platina. Essa condição, historicamente associada a baixas taxas de resposta e prognóstico reservado, agora tem um novo aliado: relacorilant, um modulador seletivo do receptor de glicocorticoide.

O ROSELLA foi um estudo de fase 3 que avaliou a eficácia da combinação de relacorilant com nab-paclitaxel versus o uso isolado do quimioterápico. Os resultados foram clínicos e estatisticamente significativos: os pacientes tratados com a combinação apresentaram melhora na sobrevida livre de progressão (PFS) de 5,5 para 6,5 meses e sobrevida global (OS) de 11,5 para 16,2 meses, uma redução de 30% no risco de progressão ou morte.

Esses ganhos podem parecer modestos em números absolutos, mas, para essa população específica — com doença refratária a platina —, representam um avanço considerável. Como explicou o Dr. Bradley Monk em sua análise, o relacorilant atua ao bloquear os efeitos imunossupressores e quimiorresistentes dos glicocorticoides endógenos, o que potencializa a atividade da quimioterapia.

Um dos grandes méritos do estudo foi seu perfil de segurança. A adição de relacorilant não aumentou de forma relevante a toxicidade, mantendo a tolerabilidade do regime. Além disso, a estratégia não depende de biomarcadores complexos ou mutações específicas, o que facilita sua adoção em larga escala.

O câncer de ovário resistente à platina é um dos desafios mais cruéis da oncologia ginecológica. Após múltiplas linhas de tratamento, as opções tornam-se escassas e o controle da doença se torna difícil. O ROSELLA inaugura uma nova abordagem: modular o microambiente hormonal para restaurar a sensibilidade à quimioterapia.

Trata-se, portanto, de uma mudança sutil, mas poderosa: não se trata de substituir a quimioterapia, mas de aprimorá-la biologicamente. Essa filosofia é particularmente valiosa em tumores em que a inovação terapêutica tem sido mais lenta.

O estudo também sinaliza uma nova direção para pesquisas futuras, como a aplicação do relacorilant em outras neoplasias ginecológicas ou em combinação com imunoterapia. A integração entre modulação hormonal e resposta imune pode ser o próximo passo na busca por tratamentos mais eficazes.

O ROSELLA, portanto, não apenas traz uma nova opção terapêutica, mas representa um avanço realista, clínico e acessível, num cenário em que qualquer ganho é profundamente significativo. Para as pacientes com câncer de ovário resistente, esse estudo oferece algo raro: esperança baseada em evidência.


*Henrique Helber é oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein.

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