Os aprendizados no diagnóstico das doenças infecciosas

Por Lígia Camera Pierrotti

No dia 26 de fevereiro de 2020 foi detectado o primeiro caso de Covid-19 no Brasil e já se vão 5 anos após o aparecimento dos primeiros casos do vírus. Ainda estamos refletindo sobre a lições aprendidas para enfrentar uma pandemia tão desafiadora.

Em maio de 2023, a OMS declarou o fim da emergência de saúde pública global relacionada à Covid-19. Até essa data, segundo a Organização das Nações Unidas (OMS), mais de 760 milhões de pessoas foram infectadas e cerca de 6,9 milhões de mortes foram registradas em todo o mundo. No entanto, o SARS-CoV-2 se tornou um vírus endêmico, permanecendo como a principal causa de infecções respiratórias graves e óbito por vírus respiratório em muitos países.

Certamente, um período marcante na vida de todos nós. Com ele, percebemos cotidianamente a importância de respostas rápidas e eficazes em todas as frentes de saúde, incluindo a área de diagnóstico. Em janeiro de 2020, o genoma completo do SARS-CoV-2 foi disponibilizado para cientistas de todo o mundo, possibilitando avanços importantes nos testes para identificar o vírus. O teste RT-PCR, por exemplo, hoje considerado o padrão-ouro para o diagnóstico da Covid-19, baseado na detecção do material genético do vírus, foi criado e distribuído em tempo recorde, levando menos de um mês para ser desenvolvido depois que o genoma do vírus foi descoberto. Vi e vivi tudo isso acontecer atuando na linha de frente de combate à crise.

A implementação dessas soluções foi importante para que os avanços chegassem à população com agilidade. Inicialmente priorizado para casos graves, o diagnóstico molecular logo foi complementado por outros métodos, como os testes de antígenos, mais rápidos e acessíveis. Esses progressos ampliaram a capacidade de testagem, permitindo monitorar a disseminação do vírus e embasar políticas de saúde pública. Os testes rápidos, por exemplo, passaram a ser amplamente usados, e permitiram que muitas pessoas diagnosticassem Covid-19 sem precisar sair de casa.

Outro aspecto essencial na área do diagnóstico foi o monitoramento de variantes do vírus. Mutações na estrutura do genoma do vírus geraram novas variantes do SARS-CoV-2, como Alpha, Delta e Ômicron, que influenciaram diretamente na transmissibilidade, na gravidade dos casos e na imunidade à infecção.

A trajetória da Covid-19 é marcada por várias ondas, impulsionadas por variantes emergentes. As reinfecções se tornaram comuns com o surgimento das novas variantes, especialmente com mutações significativas na proteína Spike, como a Ômicron, devido ao escape imunológico. As variantes também impactam na eficácia das vacinas e terapia de anticorpos monoclonais, disponíveis desde 2021.

A evolução do SARS-CoV-2 destacou a necessidade de uma vigilância constante, e o monitoramento das variantes é fundamental para guiar a atualização de vacinas e tratamentos. Vi um trabalho em equipe mundial se desenvolver, no qual empresas como a Dasa estiveram entre as instituições que contribuíram para o monitoramento das variantes no Brasil, acompanhando de perto a evolução desse vírus. Comitês se formaram dentro das instituições de saúde para discutir e responder rapidamente com novas tecnologias de combate a Covid-19.

Embora avanços importantes tenham ocorrido, a pandemia também evidenciou falhas. A colaboração global foi essencial, mas desigualdades no acesso a recursos, testes e vacinas ainda existem, mostrando áreas que necessitam de melhorias urgentes. Dados da OMS apontam para a redução da expectativa global de vida e expectativa global de vida saudável, retornando aos níveis de 2012, ou seja, um retorno de uma década de avanços.

No futuro, o diagnóstico de doenças infecciosas deve se apoiar cada vez mais em tecnologias de ponta. A inteligência artificial e o aprendizado de máquina podem ajudar a identificar padrões em grandes volumes de dados, prevendo o aparecimento de novas doenças e surtos antes mesmo que se tornem epidemias. Testes portáteis e acessíveis também serão cruciais para ampliar o acesso ao diagnóstico em regiões remotas.

Cinco anos depois, a Covid-19 nos lembra que a preparação é essencial. Mesmo como um vírus endêmico, o SARS-CoV-2 e suas variantes continuam a desafiar sistemas de saúde e a sociedade. Minha experiência na linha de frente durante a pandemia reforçou minha convicção sobre a importância de diagnósticos acessíveis e tecnologias inovadoras para o avanço da saúde pública e desenvolvimento social e econômico.

O aprendizado adquirido durante a crise sanitária de 2019 será fundamental para o enfrentamento de novos desafios, que certamente virão. A pergunta não é se isso ocorrerá, mas quando. Com as lições que aprendemos, temos a responsabilidade de construir um futuro mais seguro para todos.


*Lígia Camera Pierrotti é Médica especialista em doenças infecciosas, coordenadora da Infectologia da área de Diagnósticos da Dasa e infectologista do Delboni Medicina Diagnóstica e do Alta Diagnósticos.

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