Estratégias inovadoras para reduzir a fila de espera no SUS
Por Carlos Lima
Como apontado em diversos estudos e reportagens, as filas de espera no SUS representam um gargalo que precisa ser urgentemente resolvido. A demora para conseguir um atendimento pode agravar quadros clínicos, dificultar o diagnóstico precoce de doenças graves e, em casos extremos, levar a óbitos que poderiam ser evitados. Essa situação gera sofrimento para os pacientes e suas famílias, além de sobrecarregar o sistema de saúde como um todo.
Uma das estratégias mais promissoras para enfrentar esse desafio é a utilização da infraestrutura de prestadores de serviços de saúde da rede suplementar, ou seja, de clínicas e hospitais privados, em horários estratégicos, como o período noturno. Grande parte desses estabelecimentos já atende pacientes do SUS, mas essa parceria pode ser expandida e otimizada.
Imagine a seguinte situação: um hospital privado que atende pacientes de planos de saúde durante o dia, mas que possui uma capacidade ociosa durante a noite. Essa estrutura pode ser utilizada para realizar consultas, exames e até mesmo cirurgias eletivas para pacientes do SUS, mediante um acordo com o governo. Essa medida permitiria aumentar a oferta de serviços de saúde sem a necessidade de grandes investimentos em novas construções e equipamentos.
As parcerias público-privadas (PPPs) são um instrumento fundamental para viabilizar essa estratégia. Através de contratos bem estruturados, é possível garantir que os prestadores privados sejam remunerados de forma justa e que os pacientes do SUS tenham acesso a um atendimento de qualidade. É importante ressaltar que essa não é uma privatização do SUS, mas sim uma forma inteligente de utilizar os recursos disponíveis para atender às necessidades da população.
Além da utilização da infraestrutura privada, a saúde digital surge como uma ferramenta poderosa para mitigar as filas de espera no SUS. A telessaúde, por exemplo, permite que pacientes sejam atendidos remotamente, através de suas diversas modalidades, tais como: teleconsultoria, teleinterconsulta, telediagnóstico, teletriagem, telemonitoramento e teleorientação. Esse componente é especialmente útil para pacientes que vivem em áreas remotas, difícil acesso ou que têm dificuldades de locomoção.
A inteligência artificial (IA) também pode ser utilizada para otimizar o agendamento de consultas, priorizando os casos mais urgentes e evitando que pacientes com quadros clínicos simples precisem se deslocar até um hospital ou posto de saúde. A IA também pode auxiliar no diagnóstico de doenças, através da análise de exames de imagem e dados clínicos.
O big data, por sua vez, pode fornecer informações valiosas para a gestão eficiente dos recursos de saúde. Ao analisar dados sobre o perfil dos pacientes, a demanda por serviços e a disponibilidade de leitos e profissionais, é possível tomar decisões mais assertivas e alocar os recursos de forma mais eficiente.
A combinação da utilização da infraestrutura da saúde suplementar com as ferramentas da saúde digital representa uma estratégia eficaz para reduzir as filas de espera no SUS. Ao aproveitar a capacidade ociosa dos hospitais privados e utilizar a tecnologia para otimizar o atendimento, é possível garantir que os pacientes tenham acesso aos serviços de saúde de forma mais rápida e eficiente.
É fundamental que o governo, as empresas e a sociedade civil trabalhem juntos para implementar essas soluções. É preciso investir em infraestrutura, capacitar os profissionais de saúde e criar um ambiente regulatório favorável à inovação. Somente assim será possível transformar a realidade da saúde pública no Brasil e garantir que o direito à saúde seja efetivamente cumprido.
A crise do SUS é um desafio complexo, mas que pode ser superado com criatividade, planejamento e colaboração. Ao adotar estratégias inovadoras, como a utilização da infraestrutura da saúde suplementar e a saúde digital, podemos construir um futuro mais saudável e justo para todos os brasileiros.
Lembrando sempre, a saúde é um direito fundamental, e todos merecem ter acesso a um atendimento de qualidade, sem filas e sem burocracia.
*Carlos Lima é Head de Inovação e Transformação Digital e especialista em Saúde Digital, Administração Hospitalar e Serviços de Saúde.