Técnica pode reduzir o número de cirurgias de câncer de mama

A mamotomia, método restrito, até então, à biópsia para diagnóstico de lesões malignas, é apresentada como uma inovação no tratamento de câncer de mama. A partir de um estudo inédito conduzido pelo mastologista Henrique Lima Couto, coordenador do Departamento de Imagem da Mama da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), a combinação da técnica com um procedimento chamado shaving pode determinar, com segurança, a não necessidade de cirurgia em pacientes que apresentem lesões menores que 1,5 centímetro de diâmetro, sem sinais de células doentes nas axilas, qualquer que seja o tipo de tumor mamário.

Os resultados preliminares da pesquisa coordenada por Henrique Lima Couto, da SBM, foram apresentados no Eusobi, congresso anual da Sociedade Europeia de Imagem Mamária, realizado em outubro de 2024, em Lisboa. O estudo envolveu 75 mulheres submetidas ao procedimento, que demonstrou elevada taxa de sucesso.

Como método de biópsia diagnóstica, a mamotomia, ou excisão assistida a vácuo, vem sendo realizada desde 1996. Em uma explicação simplificada, a técnica que utiliza aparelho de ultrassom consiste em retirar através de uma agulha fragmentos da lesão por meio de aspiração. Esses fragmentos são submetidos à análise criteriosa de um patologista para identificar células cancerígenas ou não.

Pioneiro na realização da técnica em 2008, em Belo Horizonte (MG), o mastologista Lima Couto lembra que na época os equipamentos para o procedimento eram rudimentares se comparados aos aparelhos que surgiram em 2016. “A partir desse ano começou a acontecer algo bastante curioso”, destaca. O especialista notou entre as mulheres submetidas à mamotomia um aumento no número de pacientes que iam para a cirurgia e não mais apresentavam o tumor visto no exame. “Aparentemente, o tumor havia saído todo na biópsia”, diz.

O fato intrigou Lima Couto, que passou a revisar a partir de 2017 todos os casos de pacientes que tiveram tumores com no máximo 1,5 centímetro removidos pela mamotomia em sua clínica.

A constatação do sucesso com a excisão assistida a vácuo estimulou o mastologista a aprimorar o método. Entre 2021 e 2023, Lima Couto e uma equipe de pesquisadores brasileiros agregaram à mamotomia uma técnica chamada shaving. “Neste procedimento, primeiro tiramos o nódulo e, quase na mesma hora, voltamos com a agulha para descascar o que ficou na área onde tumor estava”, explica. O sistema a vácuo, então, corta e puxa o tecido submetido ao shaving.

“A grande inovação é a técnica de avaliação das margens associadas à excisão assistida a vácuo”, afirma o especialista da SBM. “Por meio do método é possível prever se o tumor foi completamente ressecado e dar segurança ao mastologista para prescindir da cirurgia no futuro. Até o momento estamos com 100% de ressecção completa, quando a avaliação das margens é satisfatória e negativa.”

Além de considerar a possibilidade da não realização da cirurgia para retirada do tumor, a mamotomia não exige internação e permite ser feita por especialista em qualquer localidade onde haja um equipamento de ultrassom disponível. “Pode ser facilmente realizada até dentro de um barco, atendendo mulheres em populações ribeirinhas na Amazônia”, exemplifica.

Na próxima etapa, o estudo brasileiro pretende investigar um número maior com pacientes randomizadas. Cientistas britânicos estão na fase final de uma pesquisa semelhante que deve ser apresentada até 2028. “Este trabalho dos estudiosos estrangeiros, porém, não inclui o shaving e, por precaução, só considera a técnica para mulheres após a menopausa que apresentem tumores com baixa agressividade, que se repliquem devagar e que tenham receptores hormonais”, explica.

No Brasil, os cânceres de mama são diagnosticados com tumores de 1,4 centímetro de diâmetro, em média. Se hoje a técnica da mamotomia aprimorada por Henrique Lima Couto estivesse plenamente testada e aprovada, 25% das cirurgias para retirada de tumores poderiam ser evitadas. Junte-se a isso o perfeito funcionamento do rastreamento precoce, que permitiria detectar precocemente a doença e reduzir pela metade a necessidade de procedimentos cirúrgicos no tratamento do câncer de mama no País.

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