Radioterapia anseia a conquista da sustentabilidade econômica
O Dia do Radioterapeuta (ou radio-oncologista), comemorado no Brasil em 5 de setembro, é uma ocasião para reconhecer a grande importância dessa especialidade no contexto da Oncologia. A radioterapia desempenha um papel crucial no tratamento de pacientes com câncer, sendo utilizada em aproximadamente 60% dos casos oncológicos, seja de forma curativa ou paliativa. Nesse sentido, a especialidade é um pilar fundamental na luta contra o câncer, contribuindo significativamente para a redução da mortalidade e a melhora da qualidade de vida dos pacientes.
A história da radioterapia remonta ao final do século XIX, com as descobertas pioneiras de físico alemão Wilhelm Röntgen, que identificou os raios-X em 1895, e da física polonesa, naturalizada francesa, Marie Curie, cujos estudos sobre a radioatividade abriram caminho para a aplicação terapêutica da radiação. Marie Curie, junto com seu marido Pierre, descobriu elementos como o polônio e o rádio, que se tornaram fundamentais para os primeiros tratamentos radioterápicos. O legado de Marie Curie é um marco na história da medicina, e suas contribuições estabeleceram as bases para o desenvolvimento da radioterapia moderna.
Nas últimas décadas, a radioterapia passou por avanços técnicos significativos, que aumentaram a precisão e a eficácia do tratamento, ao mesmo tempo em que reduziram os efeitos colaterais. Tecnologias como a radioterapia conformacional tridimensional (3D-CRT), a radioterapia de intensidade modulada (IMRT), a radioterapia guiada por imagem (IGRT) e a radiocirurgia estereotáxica (SRS) permitem que os tumores sejam tratados com maior precisão, minimizando o impacto nos tecidos saudáveis circundantes. Esses avanços resultaram em melhores desfechos clínicos, o que pode impactar no aumento das taxas de controle tumoral e na redução dos efeitos colaterais do tratamento.
Apesar da sua importância, os gastos do Sistema Único de Saúde (SUS) com radioterapia correspondem a apenas 16% do orçamento do Ministério da Saúde destinados à oncologia, um valor que não reflete a necessidade crescente de expansão e modernização dos serviços de radioterapia no Brasil. Segundo a Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), aproximadamente 73 mil pacientes que necessitam de radioterapia não têm acesso a ela, o que pode atrasar o início do tratamento oncológico e impactar, negativamente, nas chances curativas. Garantir o acesso de qualidade e no tempo correto para todos os pacientes é um dos principais desafios no SUS. A demora no início do tratamento pode comprometer os resultados clínicos, especialmente em casos nos quais o câncer é mais agressivo. Além disso, a questão econômica é urgente: os valores de repasse de reembolso por procedimento radioterápico pelo SUS não cobrem nem metade dos custos reais, o que coloca em risco a sustentabilidade dos serviços e a qualidade do atendimento.
O dia do radio-oncologista é uma oportunidade para refletir sobre os avanços e os desafios da especialidade no Brasil. É fundamental que sejam adotadas medidas para aumentar o financiamento público e a acessibilidade aos serviços de radioterapia, garantindo que todos os pacientes oncológicos possam se beneficiar desse tratamento vital. Somente com investimentos adequados e políticas públicas eficazes será possível continuar avançando na luta contra o câncer e melhorar os desfechos para os pacientes em todo o país. Desejamos, no futuro próximo, poder celebrar o dia do oncologista sabendo que a conquista da sustentabilidade econômica do setor se tornou uma realidade.
*Gustavo Nader Marta é radio-oncologista, presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT) e Professor Livre-Docente pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).