As três principais causas de ineficiência em hospitais privados

Por Caio Moreira

Os indicadores financeiros dos hospitais privados em 2023 continuaram a gerar preocupações devido à pressão exercida pelas fontes pagadoras, de acordo com o Observatório da ANAHP (Associação Nacional dos Hospitais Privados). Os dados revelam que a liquidez dos prestadores permaneceu restrita ao longo do ano, impactada por um aumento nas glosas e nos atrasos de pagamentos, além da extensão dos prazos de recebimento.

Em 2023, observou-se aumento anual nos custos relacionados a materiais, medicamentos, OPME (Órteses, Próteses e Materiais Especiais), e honorários médicos. Além disso, a proporção dos custos com pessoal retornou a níveis históricos elevados, oferecendo oportunidades de otimização nesses hospitais.

Não é à toa que nos últimos dois anos tivemos a oportunidade de colaborar com mais de 50 projetos em hospitais no Brasil e na América Latina para aprimorar as operações e aumentar sua eficiência. Essa trajetória nos proporcionou insights valiosos, que são fundamentais para o setor.

Identificamos que as ineficiências hospitalares podem ser agrupadas em três categorias críticas: desafios no dimensionamento de equipes, gestão operacional ineficaz e a ausência de processos bem definidos e padronizados. O entendimento dessas frentes é crucial para o desenvolvimento de estratégias que efetivamente melhorem a performance hospitalar.

Desafios no dimensionamento de equipes

Nem sempre um maior número de colaboradores resulta em maior qualidade assistencial e uma experiência otimizada para o paciente. De fato, o que observamos é que o excesso de pessoal pode tornar os processos mais morosos e, frequentemente, os papeis e responsabilidades são mal definidos entre as equipes, resultando em fluxos e jornadas ineficientes e com gargalos.

O dimensionamento constitui um aspecto fundamental da gestão hospitalar, estabelecendo o quantitativo de profissionais requeridos em cada unidade assistencial, considerando variações diárias, complexidade dos casos atendidos e sazonalidade.

Mas o que encontramos nos hospitais são muitos dimensionamentos fundamentados em critérios subjetivos, sem uma base sólida de dados objetivos. É comum aqueles que se apoiam em proporções históricas de pacientes por colaborador, ignorando os avanços tecnológicos e as inovações que influenciam diretamente no tempo de atendimento.

Adicionalmente, observamos falta de consistência nesses dimensionamentos, que desconsideram particularidades de cada posto de trabalho e o nível de complexidade dos pacientes. Pacientes de especialidades específicas, como oncologia ou transplante de medula óssea (TMO), por exemplo, exigem tempos de atenção diferenciados e recursos adicionais. Nuances essenciais para garantir a alocação adequada de recursos.

Gestão operacional ineficaz

É frequente encontrarmos desafios na administração de pessoal, na gestão de horas extras e na elaboração de escalas dos hospitais. A implementação de diversas modelos de escala desalinhadas às necessidades específicas de cada serviço e uma gestão rudimentar de folgas e coberturas provoca acúmulo nas horas extras.

O efeito da alocação de recursos ineficiente é o surgimento de gargalos operacionais. A escassez de profissionais de laudos para exames, por exemplo, pode causar atrasos no pronto-socorro, elevando tempos de espera, além de aumentar a carga de trabalho das equipes assistenciais.

Um outro obstáculo recorrente é a carência de softwares especializados para a gestão de escalas e a administração de contratos, o que compromete a eficácia da gestão hospitalar.

Ausência de processos bem definidos e padronizados

A ausência de processos claramente definidos e a falta de padronização em procedimentos críticos, como a passagem de plantão, é outra frente comum em hospitais que impacta diretamente na qualidade e na eficiência, e contribui para a acumulação de horas extras. Ainda se nota uma grande variabilidade na aplicação desses procedimentos, evidenciando a necessidade de uma padronização mais rigorosa.

Nas grandes redes hospitalares, a ausência de processos padronizados entre diferentes unidades resulta em discrepâncias na qualidade do atendimento. Mesmo hospitais com complexidades e infraestruturas semelhantes podem apresentar variações significativas na proporção de colaboradores por paciente. Além disso, a tentativa de padronização, em muitas ocasiões, desconsidera particularidades locais de cada unidade.

Faltam também processos estruturados para atender às obrigações regulatórias e legislativas. Essa lacuna pode levar a consequências severas, incluindo multas e penalidades impostas por autoridades reguladoras. Falhas no cumprimento de normativas importantes, como a RDC 7 e as diretrizes do COFEN e COREN, frequentemente ocorrem pela falta de estratégias claras para a implementação dessas regulamentações.

Todas essas deficiências operacionais nos hospitais podem ser identificadas e mitigadas com a orientação de especialistas em eficiência e gestão hospitalar. Esse processo envolve um diagnóstico minucioso de todos os procedimentos de cada área funcional da unidade e seu impacto na eficácia global do hospital.

É um trabalho meticuloso, mas que traz resultados de alto valor agregado, permitindo a implementação de soluções que promovam ganhos significativos em eficiência e qualidade dos serviços. Investir em eficiência é, mais do que nunca, essencial para o futuro do mercado de saúde.


*Caio Moreira é diretor de Healthcare da A&M (Alvarez & Marsal).

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