Desafios e reflexões sobre a saúde mental dos psicólogos
Por Karina Stryjer
Ser psicólogo é uma jornada que envolve a gestão constante de informações emocionais complexas. A exposição contínua a problemas e conflitos dos pacientes pode gerar um grande desgaste emocional. É crucial estar atento a esses desafios para prevenir a exaustão física e mental que podem surgir durante a prática profissional.
Um dos pontos mais delicados desta atuação é o excesso de empatia. A capacidade de se colocar no lugar do outro é essencial para que o processo terapêutico ocorra de forma genuína e fluida. No entanto, quando essa empatia ultrapassa os limites saudáveis, pode ocorrer a fadiga por compaixão – um estado de exaustão que resulta do excesso de cuidado. Esse desequilíbrio compromete não só a qualidade do atendimento, mas também a saúde mental do próprio psicólogo.
Outro risco constante é o burnout, um esgotamento profundo causado por cargas de trabalho excessivas, agendas lotadas sem pausas adequadas, falta de apoio ou expectativas irrealistas sobre o progresso dos pacientes. Além disso, a pressão para manter uma imagem de “super-herói” ou de perfeição pode ser avassaladora. É imprescindível que o psicólogo entenda seus próprios limites, pratique o autoconhecimento e estabeleça uma rotina saudável de autocuidado.
Os sintomas de burnout incluem exaustão emocional, despersonalização – a sensação de distanciamento ou desumanização dos pacientes – e uma percepção de baixa realização pessoal e ineficácia. O maior desafio é manter o compromisso com a ética profissional. É preciso praticar constantemente o que é pregado, pois os profissionais que cuidam da saúde mental e bem-estar lidam com a expansão e o desenvolvimento da consciência.
O apoio por meio da supervisão e do suporte de colegas experientes é uma ótima saída, não só para compartilhar experiências sobre os pacientes, mas também para processar as próprias vivências. O autoconhecimento deve ser priorizado e é essencial incluir práticas de relaxamento, respiração e um equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional.
A terapia pessoal também é fundamental para que o psicólogo não se confunda com as questões de seus pacientes, permitindo que compreenda seu próprio momento de vida. É necessário que o psicólogo reconheça que, para cuidar do outro, precisa antes cuidar de si. Isso requer planejamento, além de criar e priorizar espaços na agenda para momentos de autocuidado. Dessa forma, o cuidado com os pacientes se torna mais leve e eficaz.
Quando notamos que algo está além do nosso controle, é importante aumentar os momentos de pausa, incorporar técnicas de relaxamento e meditação – que auxiliam no foco e na atenção plena – e incluir atividades físicas na rotina, o que pode ajudar na gestão do estresse. Além de melhorar a saúde física, essas práticas possibilitam novas conexões sociais e momentos de lazer.
O perigo surge quando o psicólogo acredita ser imune às questões do adoecimento emocional e se nega a buscar ajuda. A supervisão, que oferece suporte técnico e emocional, é vital. Ela cria um espaço seguro para o compartilhamento e aprendizado, permitindo processar experiências desafiadoras e prevenir o burnout, garantindo assim uma maior qualidade no atendimento ao paciente.
Por fim, é preciso reforçar a importância de fazer terapia, estabelecer limites claros entre vida pessoal e profissional, participar de supervisão regular, manter uma rede de suporte e, acima de tudo, respeitar seus próprios limites. Como dizia Carl Gustav Jung: “Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta”.
*Karina Stryjer é Psicóloga e Líder de Projetos de Saúde Emocional na Telavita.