O potencial do canabidiol para revolucionar a saúde pública

Por Flávia Guimarães

No Brasil, o mercado de medicamentos à base de canabidiol (CBD) tem crescido exponencialmente, com um aumento de 130% em relação ao período de 2022 para 2023, e chegando a aproximadamente 430 mil pacientes utilizando o produto, segundo o Relatório Anuário da Cannabis Medicinal. Estima-se que em breve este número possa ultrapassar um milhão, e superar um valor econômico de 20 bilhões de reais.

Embora inicialmente o CBD tenha ficado mais conhecido por sua eficácia no tratamento de tipos específicos de epilepsia, como a Síndrome de Dravet, de Lennox-Gastaut e a Esclerose Tuberosa, condições de difícil controle com os medicamentos convencionais, seu uso vem se expandindo para outras frentes. A melhoria na qualidade do sono, o alívio da ansiedade e o tratamento de dores crônicas e inflamações são algumas delas. Isso porque há uma crescente quantidade de pesquisas científicas que apontam sua aplicabilidade em diferentes áreas, o que mostra que o ativo tem o potencial de transformar a maneira como abordamos muitos problemas de saúde.

Além dos benefícios clínicos, o potencial econômico do CBD é significativo e tem despertado o interesse do setor público. Um exemplo, é o Estado de São Paulo, que em junho começou a disponibilizar gratuitamente o produto, por meio de um programa da Secretaria de Saúde do Estado, para o tratamento dos três tipos de epilepsia refratária mencionados anteriormente, possibilitando o acesso a milhares de pacientes que antes não conseguiam seguir com o uso do canabidiol por conta do custo envolvido para obtenção na rede privada.

Este cenário abre novas oportunidades para a saúde pública do país como um todo, uma vez que a incorporação de produtos à base de Cannabis pode inclusive reduzir os custos associados aos processos de judicialização para acesso ao ativo gratuitamente. Os gastos públicos para atender essas demandas alcançaram o valor de R$165,8 milhões, de 2015 até meados de 2023. No entanto, para que o CBD realize seu pleno potencial na saúde pública, algumas barreiras ainda precisam ser superadas.

A ampliação do acesso a produtos de qualidade farmacêutica é essencial, assim como a educação continuada dos profissionais de saúde sobre os benefícios e os usos corretos do ativo. Embora ainda exista um estigma relacionado à origem da substância, por ser derivada da Cannabis, este tem diminuído progressivamente. O avanço de pesquisas e a crescente padronização dos produtos disponíveis no mercado têm contribuído para essa mudança de percepção, ampliando a confiança dos profissionais no uso terapêutico do CBD.

A Anvisa, reconhecida internacionalmente por sua iniciativa com a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 327, estabeleceu um marco importante para a utilização segura de produtos de Cannabis no Brasil, em 2019. Até aquele momento, estes produtos somente eram permitidos no país a partir da importação direta pelo paciente. Embora essa via tenha sido uma alternativa importante na época, ela permitiu a entrada de produtos sem segurança sanitária, uma vez que não há garantia da qualidade farmacêutica no país de origem. Com a resolução, a Agência criou uma medida que permite que produtos de grau farmacêutico se tornem disponíveis nas farmácias de todo o país, desde que, sendo importados ou nacionais, passem pelo seu crivo sanitário, o que garante o seguimento das normas nacionais de qualidade e segurança, gerando maior confiança para médicos e pacientes.

Do ponto de vista da pesquisa, embora já existam diversos estudos sobre o ativo, ainda há muito a ser descoberto, especialmente no que diz respeito ao tratamento de condições menos exploradas. A promoção de estudos clínicos robustos e de longo prazo é essencial para consolidar o papel do canabidiol na medicina moderna, e, consequentemente, abrir espaço para ele na disponibilização pela rede pública para um número mais expressivo de regiões e enfermidades.

Além disso, é importante que essas pesquisas sejam acompanhadas por iniciativas de conscientização populacional, garantindo que tanto os profissionais quanto os pacientes estejam bem informados sobre os benefícios e os baixos riscos associados ao uso do canabidiol.

Paralelamente, ainda é essencial expandir a quantidade de programas de treinamento específicos para profissionais de saúde ligados ao uso e prescrição do ativo e a inclusão nos currículos médicos nas universidades do domínio sobre o sistema endocanabinoide, para que os estudantes possam aprender a aplicar a Cannabis Medicinal como opção terapêutica. Essas são estratégias promissoras para garantir uma adoção segura e eficaz na prática clínica.

Olhar para o futuro é enxergar um cenário em que o CBD estará mais amplamente integrado na medicina convencional, com um acesso facilitado e um número crescente de políticas públicas focadas na sua utilização. Em cinco ou dez anos, é provável que o canabidiol se estabeleça como uma solução fundamental na saúde, tanto na rede privada, quanto pública, contribuindo para o tratamento de uma maior variedade de condições e proporcionando uma nova qualidade de vida para muitos pacientes. O CBD pode realmente se tornar um pilar da medicina do futuro se começarmos a olhar para ele no presente.


*Flávia Guimarães é Gerente de Inteligência Científica na Ease Labs,

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