Por que criamos a Academia de Educação para o Desenvolvimento Sustentável?
Por Mara Machado
O momento que vivemos hoje na sociedade, especialmente no que diz respeito à Saúde, é resultado de alguns séculos de desenvolvimento. Desde que a ciência foi reconhecida como caminho para combater doenças, promover saúde e até erradicar muitas enfermidades, grandes avanços vêm sendo realizados, com aumento na expectativa e qualidade de vida das pessoas.
Cada vez mais rapidamente, as descobertas científicas se tornam inovações com aplicações práticas na medicina, resultando em melhores tratamentos aos pacientes. Cirurgias robóticas, terapias personalizadas, moléculas complexas, medicamentos que controlam sintomas e resgatam a autonomia — existe uma infinidade de conquistas a celebrar.
Mas enquanto estávamos imersos e merecidamente orgulhosos desses avanços, talvez não tenhamos dado a devida atenção a outras questões. Hoje, os sistemas de saúde público e privado, em todo o mundo, enfrentam desafios semelhantes para que o acesso à saúde seja para todos, com a constante inclusão de novas terapias e políticas públicas eficientes de prevenção de doenças e promoção da saúde.
Em outras palavras, como manter a sustentabilidade do acesso à saúde frente ao avanço da sociedade e desenvolvimento da ciência? Existe uma enorme pressão de custos envolvida e desdobramentos complexos das decisões do setor, que não podem mais ser analisadas de maneira isolada. Médicos, cientistas e gestores da saúde precisam estar devidamente preparados para essa demanda social.
Com esse objetivo nasce a Academia de Educação para o Desenvolvimento Sustentável, uma iniciativa estruturada e articulada de maneira conjunta entre lideranças da educação e da saúde. Não queremos modificar os currículos das instituições de ensino em saúde e, sim, acrescentar disciplinas para preparar desde cedo o profissional para os desafios atuais da sustentabilidade.
É preciso considerar o conceito de cidadania global nas atividades e decisões de saúde. O impacto ambiental, por exemplo, entra neste contexto, pois existe relação direta entre poluição e saúde. Somente ano passado, cerca de nove milhões de pessoas no mundo tiveram óbito prematuro por doenças relacionadas à poluição atmosférica (The Health Policy Partnership. The nexus between climate change and healthcare. Smith, L).
É também preciso alinhar justiça social, ética e bem-estar com uma perspectiva de futuro. As nossas ações e decisões têm impacto em sistemas amplos, que vão além daquilo que observamos de imediato. Para alcançar esses objetivos, precisamos lidar diretamente com algumas questões. Por exemplo:
- A reforma educacional raramente é integrada com a reformulação do sistema de saúde;
- As políticas governamentais tendem a separar responsabilidades pela educação e cuidados de saúde;
- Resistência à ruptura do modelo de formação atual, que repercute a legitimação do atual modelo de saúde baseado em forte divisão de trabalho;
- Falta de percepção dos integrantes do sistema de saúde como atores importantes no trabalho de mudança climática e sustentabilidade;
- Uma crise lenta vem se instalando pela incompatibilidade de competências profissionais com as necessidades da população e do sistema de saúde.
O melhor alinhamento entre saúde e educação é essencial à busca por uma formação consciente sobre a necessidade de um futuro sustentável, por isso também é um dos mais importantes objetivos da Academia. Vamos construir conhecimento e conscientizar alunos e docentes sobre questões globais; pensamento crítico e habilidades analíticas; e ação para mudança social e política positiva. Almejamos que a educação para a saúde sustentável seja um aprendizado obrigatório.
Após três anos de planejamento, lançamos a Academia para reforçar a aproximação de lideranças das duas áreas, educação e saúde, e fomentar a discussão desse objetivo comum. Assumimos esse compromisso e estamos empenhados, certos de que a sociedade está cada vez mais consciente de que precisa se preparar melhor para uma saúde sustentável e acessível a todos.
*Mara Machado é Presidente do Conselho da Academia de Educação para o Desenvolvimento Sustentável.