Busca por ‘TDAH’ no Google cresceu 576% nos últimos cinco anos
De acordo com dados do Google Trends, a busca pelo termo “TDAH” teve um crescimento de 576% em 2024, comparado a cinco anos atrás. As regiões que mais pesquisaram pelo tema foram Rio Grande do Sul, Sergipe e Ceará, com destaque para os assuntos relacionados: “Teste TDH”, “CID 11 – Livro por Organização Mundial de Saúde” e “Terapia”. O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade ganhou destaque após vídeos publicados em redes sociais, como Instagram e TikTok, que apresentam sintomas de falta de atenção de forma lúdica. Muitas pessoas se identificaram com os comportamentos apresentados nas publicações e se autodiagnosticaram com o distúrbio.
Para Isabela Santana, psiquiatra da Telavita, clínica digital de psicologia e psiquiatria, a busca por conhecimento técnico através das redes sociais tem alto risco de levar a distorções criadas por conceitos errôneos, já que nem todo conteúdo disponível na internet é confiável. “Além disso, a vivência de um transtorno mental é muito individual, e o diagnóstico nunca deve ser baseado em impressões pessoais sobre o transtorno, o que vem acontecendo muito, pois ‘influencers’ têm aberto seus diagnósticos na rede com o objetivo de desestigmatizar os transtornos mentais, mas acabam levando as pessoas que os acompanham a interpretar seus sentimentos e emoções através de diagnósticos que não existem e a terem dificuldade em aceitar isso depois, durante uma avaliação mais criteriosa”, completa a especialista.
A psiquiatra acredita que os principais riscos associados ao autodiagnóstico de transtornos mentais são diagnósticos errôneos ou incompletos, automedicação, abuso e até dependência de psicotrópicos — substâncias que têm ação no sistema nervoso central. Em dez anos, a importação e a produção de metilfenidato, mais conhecido como Ritalina, cresceram 373% no Brasil. A maior disponibilidade do medicamento impulsionou um aumento de 775% no consumo, principalmente para o tratamento de TDAH, segundo pesquisa do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
“Todos sabemos que o uso de medicações deve ser sempre aconselhado por um médico porque não é isento de riscos, e isso se aplica ainda mais ao uso de psicotrópicos, já que atuam no sistema nervoso central. Essas substâncias podem alterar nossa percepção, emoção e comportamento, o que, quando adequadamente orientado, pode ser muito benéfico, mas, em situações de uso inadequado ou indiscriminado, pode levar a complicações clínicas e psíquicas. Os principais sinais de que o processo está sendo prejudicial são a persistência ou piora dos sintomas, o aparecimento de sintomas físicos ou psíquicos que antes não existiam, a piora da insônia ou sonolência excessiva, o prejuízo da capacidade para realizar as tarefas diárias, a necessidade de aumento da medicação para que se tenha o mesmo efeito de bem-estar obtido no início do uso e até o pensamento de que morrer poderia ser uma solução para o fim desse sofrimento psíquico”, diz Isabela.
Diversos elementos devem ser considerados para um diagnóstico seguro e para a definição de um tratamento adequado. “Para exemplificar, duas máximas do exercício médico e da psiquiatria podem nos ajudar a compreender: ‘Quem não sabe o que procura não sabe interpretar o que acha’ e ‘O diagnóstico psiquiátrico é sempre de exclusão’. Ou seja, é essencial um vasto conhecimento para um diagnóstico médico bem-feito, e não basta saber acerca dos sinais e sintomas de um transtorno mental, é preciso que se conheçam todas as outras condições de saúde que possam se ‘confundir’ e afastá-las, para que somente depois sejam atribuídos a história, sinais e sintomas apresentados a um transtorno mental”, reforça a psiquiatra.
Existe uma série de medidas comportamentais que são extremamente seguras e podem ser muito benéficas caso a pessoa queira, primeiramente, tentar evitar ou adiar a ida ao psiquiatra. A busca por um bom serviço de psicologia, aliada a uma rotina de exercícios físicos regulares, técnicas de meditação e uma alimentação balanceada, pode fazer diferença e evitar a necessidade de tratamento medicamentoso em casos considerados leves ou iniciais. A telemedicina, já regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina, é um caminho para auxiliar esse tratamento. O baixo custo, aliado à facilidade de acesso à consulta psiquiátrica, independentemente da região em que o indivíduo esteja, são características da telemedicina extremamente benéficas. Quando realizada por um serviço comprometido com a seleção de seus profissionais pela excelência em sua formação e atuação técnica e ética, é uma alternativa importantíssima para diminuir a prática do autodiagnóstico e da automedicação.