Telemedicina: conectividade como peça-chave para os atendimentos
Por João Romano
A conectividade está cada vez mais presente em todos os setores de serviços públicos, inclusive na medicina. Durante o auge da pandemia de Covid-19, a telemedicina emergiu como uma ferramenta crucial para evitar o colapso do sistema de saúde no Brasil, tornando-se indispensável para o setor.
Por meio da telemedicina, os médicos podem atender os pacientes em plataformas online, eliminando a necessidade de encontros presenciais. Isso possibilita a realização de muitos exames no conforto do lar do paciente, com os resultados sendo enviados através de ferramentas digitais. Esse processo não apenas otimiza os procedimentos burocráticos, mas também facilita o acesso ao atendimento para pessoas com dificuldades de mobilidade.
A telemedicina foi regulamentada em maio de 2022 e conforme dados da ABRAMGE (Associação Brasileira de Planos de Saúde), desde o começo da pandemia até meados de abril de 2022, cerca de 5 milhões de consultas virtuais foram realizadas somente pelas operadoras da associação, que somam 9 milhões de beneficiários.
Segundo um estudo realizado pela AMA (Associação Médica Americana), 75% das visitas a serviços médicos regulares ou de emergência são desnecessárias. Uma outra pesquisa mostrou ainda que pacientes que usaram a telemedicina tiveram 31% menos internações hospitalares, 48% menos dias totais de hospital e estavam mais preocupados com seus cuidados de saúde.
É crucial destacar a segurança integral do processo de atendimento virtual, assim como a questão da adesão ao tratamento, uma vez que as novas tecnologias incentivam os pacientes a prosseguirem com seus tratamentos. Além disso, do ponto de vista dos médicos, acompanhar a jornada do paciente torna-se mais ágil e eficiente, estabelecendo uma proximidade significativa entre o paciente e o especialista. Essa interação humanizada aprimora consideravelmente o atendimento e o cuidado oferecidos.
Também vale mencionar o acesso à informação médica de grandes centros às pequenas clínicas, ao diagnóstico remoto e ao encaminhamento somente dos casos que realmente necessitam de urgência, além, é claro, da otimização dos processos, redução de custos e segurança da informação, promovendo, assim, a sustentabilidade do segmento de saúde, que vem uma escalada de altos custos de acesso.
Mas esse fato convoca a sociedade na busca de solução para duas questões urgentes: aumentar a velocidade de incorporação de tecnologias nos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) e estabelecer parcerias com o setor privado, no sentido de aproveitar o seu esforço criativo e de investimento na digitalização dos serviços públicos de saúde.
A digitalização também trouxe a possibilidade de conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que entrou em vigor em setembro de 2021, já que, trabalhando com plataformas tecnológicas e eliminando o papel, é possível garantir toda a rastreabilidade de documentos.
Especificamente na rede pública, o CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” tem oferecido esse serviço via SUS (Sistema Único de Saúde) em algumas das unidades gerenciadas. A iniciativa teve início em abril de 2023, em parceria com a prefeitura da capital paulista, através de um projeto piloto realizado na UBS Jardim São Bento, e tem se expandido progressivamente. Em São Paulo, cerca de 34 unidades gerenciadas por nós, já disponibilizam esse serviço à população.
Atualmente, já foram realizadas mais de 140 mil consultas em diversas modalidades, ampliando significativamente o acesso à saúde para as populações mais vulneráveis. Além disso, estendemos nossa metodologia para outros municípios onde atuamos, como a Santa Casa de São Roque e essa expansão evidencia nosso compromisso contínuo. Este ano inclusive, participamos do 37º COSEMS/SP (Congresso de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo), onde apresentamos nossas experiências bem-sucedidas na implantação do serviço de telemedicina.
Certamente, ainda existem desafios importantes a serem enfrentados para garantir que o uso da tecnologia seja tanto legal quanto ético. Um desses desafios consiste em assegurar que a telemedicina seja acessível a todos, independentemente da localização geográfica ou da capacidade financeira. Além disso, é fundamental conscientizar a população sobre a importância dessa ferramenta, não apenas para aliviar a alta demanda nos prontos-socorros, mas também para reduzir o tempo de internação, aproximar os diversos serviços ao paciente, promovendo uma melhor gestão dos recursos de saúde e proporcionando um atendimento mais eficiente e ágil.
A implementação eficaz da telemedicina enfrenta diversos desafios, alguns dos quais relacionados à infraestrutura de conectividade e acesso a dispositivos móveis acessíveis. Dependendo das políticas públicas, é crucial garantir amplamente acesso à internet gratuita ou a preços populares em todo o país, assim como tornar os smartphones mais acessíveis para a maioria dos brasileiros.
É importante reconhecer que o acesso universal à telemedicina enfrenta obstáculos, como o analfabetismo digital, que pode dificultar a utilização eficaz dessas tecnologias, especialmente para grupos vulneráveis ou menos familiarizados com o uso de dispositivos e serviços online. Portanto, é essencial desenvolver iniciativas educacionais e programas de inclusão digital para superar essa barreira e garantir que todos tenham acesso equitativo aos benefícios da telemedicina.
Vivenciamos também uma resistência cultural na preferência pelo contato presencial. Superar essa barreira requer esforços para demonstrar a eficácia e segurança da abordagem virtual, além de educar e tranquilizar os pacientes sobre os benefícios oferecidos pela telemedicina. Essa transição é essencial para garantir igualdade de acesso aos cuidados de saúde, independentemente das preferências culturais tradicionais.
Outro desafio significativo é a necessidade de aumentar os investimentos e priorizar essa agenda dentro das organizações de saúde, além de explorar possíveis parcerias com healthtechs, que oferecem uma alternativa importante para acelerar o processo a um custo mais acessível.
A evolução da telemedicina também requer uma integração eficaz das informações médicas. A tecnologia, sem dúvida, veio para transformar o cenário da saúde, facilitando a comunicação entre especialistas e instituições, sejam elas públicas ou privadas, em todos os níveis de atenção, desde a primária até o diagnóstico e a hospitalização, quando necessário. No entanto, é importante ressaltar que a telemedicina não substitui integralmente o atendimento presencial, mas sim oferece uma opção adicional para acesso aos cuidados de saúde.
Como gerente executivo de uma Organização Social de Saúde, tenho o compromisso de liderar iniciativas que promovam a implementação ética e equitativa da telemedicina, garantindo acesso universal aos serviços de saúde digitalizados. Através de parcerias estratégicas, investimentos em infraestrutura e educação digital, estamos comprometidos em superar os desafios e aproveitar todo o potencial da tecnologia para melhorar a qualidade e a acessibilidade dos cuidados de saúde para todos os cidadãos.
*João Romano é gerente executivo do CEJAM.