As barreiras e os avanços das imunoterapias contra o câncer
Por Daniel Tabak
Em 2013, a revista Science classificou a imunoterapia do câncer como o avanço terapêutico mais significativo daquele ano e, na última década, se consagrou no tratamento de diversas neoplasias. Anticorpos conhecidos como inibidores de “checkpoint” (inibidores de pontos de controle) permitiram o reconhecimento de tumores pelo sistema imunológico de forma mais eficaz. Regressões em estágios avançados foram relatadas e trouxeram esperança para doenças refratárias ao tratamento convencional, como o melanoma e o câncer de pulmão metastático, consideradas incuráveis.
Em 2018, a Sociedade Americana de Oncologia Clínica classificou a terapia adotiva com células geneticamente modificadas como a estratégia mais promissora no tratamento do câncer. De fato, o FDA – a agência regulatória norte-americana – já aprovara o seu uso em 2017 para o tratamento de neoplasias hematológicas resistentes.
Hoje, as células CAR-T (linfócitos T que possuem receptores antigênicos quiméricos) passaram a fazer parte do nosso arsenal, inclusive no Brasil. A sua utilização no tratamento de leucemias agudas e linfomas refratários possibilitou a cura em mais de 50% dos pacientes. Respostas significativas também foram documentadas no mieloma múltiplo sem alternativas com os tratamentos convencionais. O seu uso, porém, limita-se a tumores hematológicos que possuem um marcador tumoral específico.
A utilização das células CAR-T em tumores sólidos ainda se encontra em um estágio mais inicial, pois a identificação de um alvo específico é mais complexa e é necessário vencer um microambiente inóspito, menos evidente nas neoplasias hematológicas.
O ano de 2024 se inicia com uma notícia promissora na terapia celular dos tumores sólidos. Os princípios desta nova estratégia foram estabelecidos em 1988 pelo Prof. Steven Rosenberg, no Instituto Nacional do Câncer (EUA). Foram utilizadas células de defesa (linfócitos T) derivados diretamente do tumor e amplificados no laboratório para posterior utilização, sendo chamados Tumor Infiltrating Lymphocytes (linfócitos infiltrantes de tumores) ou apenas TIL.
Ao contrário das células CAR-T, as células TIL necessitam da infusão de um imunoestimulante, a interleucina-2, para amplificar a sua atividade antitumoral no paciente. Apesar de ser uma estratégia potencialmente mais tóxica, ela foi aprovada em fevereiro de 2024 para o tratamento de pacientes portadores de melanoma que haviam progredido, após o tratamento com inibidores de pontos de controle.
Em uma análise apresentada na Sociedade Europeia de Oncologia Médica no final de 2023, os pesquisadores documentaram que cerca de 1/3 dos pacientes responderam à terapêutica. Mais de 50% permaneceram sem sinais progressão por mais de um ano. Com resultados promissores, os estudos avançam rapidamente para a aprovação do tratamento em alguns tipos de câncer de pulmão.
Os desafios para os próximos anos são inúmeros. Os mecanismos de resistência precisam ser melhor caracterizados e as limitações associadas a toxicidade precisam ser ultrapassados. Um enorme fator limitante à sua utilização, inclusive em fases mais iniciais da doença, é o custo elevado. Soluções domésticas precisam ser equacionadas para viabilizar a sua utilização de forma mais ampla em todo o mundo e, em particular, no nosso país.
*Daniel Tabak é Coordenador de Oncohematologia da Dasa no Rio de Janeiro.