Endometriose: uma doença que precisa ser conhecida

Por Kelley Coelho

A endometriose afeta aproximadamente 190 milhões de mulheres e meninas em idade reprodutiva no mundo todo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). O número equivale a 10% dessa parcela da população. Esta é uma doença crônica que, embora seja considerada uma condição ginecológica, pode impactar significativamente a qualidade de vida das pacientes em várias dimensões, incluindo física, emocional e social.

Por isso, entramos oficialmente no Março Amarelo, mês de conscientização e luta contra a endometriose, com data alusiva no dia 13 de março, já reconhecida por lei federal. Em todo o mundo, inclusive, centenas de mulheres saem às ruas neste mês no movimento chamado EndoMarcha, passeata que visa chamar atenção da população para a invisibilidade da doença, seja no âmbito jurídico ou social.

Para haver consciência, é preciso explicar o que é a doença e como ela se manifesta. Podemos começar dizendo que o endométrio é uma mucosa que reveste a parede interna do útero, sensível às alterações do ciclo menstrual, e onde o óvulo depois de fertilizado se implanta. Nos casos em que não houve fecundação, boa parte do endométrio é eliminada durante a menstruação.

A endometriose, portanto, constitui uma afecção (uma modificação no funcionamento normal do organismo) inflamatória, provocada por células desse endométrio fora do útero que se depositam nos ovários ou em toda cavidade abdominal, em órgãos como trompas de falópio, intestino ou bexiga.

De acordo com o Ministério da Saúde, a estimativa é de que uma a cada 10 mulheres sofra com os sintomas da doença e desconheça a sua existência. Em 2021, por exemplo, mais de 26 mil atendimentos foram feitos no Sistema Único de Saúde (SUS) e oito mil internações registradas na rede pública de saúde.

Os agentes são multicausais e ainda não estão bem estabelecidos. Entretanto, alterações no modo de vida da mulher tem favorecido o desenvolvimento e aumento na prevalência da endometriose, tais como menarca precoce, gravidez tardia, número menores de gestação, além dos fatores ambientais e genéticos.

Essa “queda” da qualidade de vida não ocorre apenas do âmbito da saúde e suas comorbidades, pois a doença também causa significativos impactos psicológicos, como estresse, depressão e ansiedade.

A abordagem tradicional para o tratamento é realizada de acordo com o grau da endometriose e, comumente, se concentra em intervenções medicamentosa para o alívio das dores e sintomas, e em casos mais graves a intervenção cirúrgica. Além disso, outros tratamentos mostram-se altamente eficazes no alívio das dores.

Para tanto, evidências destacam o papel fundamental da fisioterapia pélvica como parte integrante do manejo abrangente dessa condição, como na reabilitação pós-operatória com diferentes técnicas. Os fisioterapeutas especializados em saúde pélvica podem avaliar e tratar essas disfunções por meio de técnicas específicas, como laser, radiofrequência, técnicas manuais, biofeedback, eletroestimulação e treinamento da musculatura do assoalho pélvico.

Essas intervenções visam alívio dos sintomas, bem como restaurar a função normal do assoalho pélvico, melhorar o controle vesical e intestinal e reduzir os sintomas relacionados à disfunção sexual, melhorando assim a qualidade de vida das pacientes com endometriose.

Neste sentido, é importante destacar que a fisioterapia pélvica desempenha um papel crucial no manejo multidisciplinar da endometriose, oferecendo uma variedade de intervenções terapêuticas que melhoraram a função física, o bem-estar geral das pacientes, ajudando-as a viver uma vida mais confortável, ativa e gratificante apesar dos desafios impostos pela condição.


*Kelley Coelho é Fisioterapeuta especialista na saúde da mulher e professora da UniCesumar em Maringá (PR).

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