A tecnologia ainda aguarda na sala de espera do médico
Por Ieda Jatene e Guilherme Rabello
Telemedicina, sistemas de registros eletrônicos, holter, MAPA, telecardio e assim por diante. A tecnologia aplicável à medicina, sobretudo aquela disponível para o dia a dia da prática clínica e cirúrgica e que garante desde diagnósticos mais precisos até a otimização do tempo do profissional, ainda aguarda na sala de espera. A conclusão é de uma pesquisa realizada com participantes da última edição da Arena de Inovação e Tecnologia, que integrou o 43º Congresso da SOCESP – Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, em junho de 2023. Entre os resultados, 81% não fizeram nenhum treinamento ou curso sobre tecnologia em saúde e 75,9% não pertencem a nenhuma organização ou grupo relacionado à tecnologia e inovação.
Já a telemedicina não é empregada por mais de 1/4 dos consultados (26,9%) e 33,3% utilizam o recurso raramente (uma vez por mês ou menos). Outro achado preocupante: quando o assunto é conhecimentos de prontuários eletrônicos, os que se autointitulam iniciantes ou intermediários somam quase 60%.
Dispositivos tecnológicos desenvolvidos para facilitar ou aprimorar os atendimentos não integram a rotina da maioria. Tele-eletrocardiograma, monitores digitais de bioparâmetros, polissonografia e até smartphones e telefones voltados aos atendimentos são ferramentas para apenas 1,3% dos entrevistados. Próteses impressas em 3D têm a adesão de 2,6% e só 6,4% usam o sensor de glicose. Entre os que foram inqueridos, ninguém havia empregado cirurgia robótica.
O questionário também avaliou a familiarização dos profissionais com as tecnologias emergentes, como inteligência artificial (IA) em diagnóstico e tratamento; blockchain na gestão de dados de saúde; realidade virtual (RV) para reabilitação e terapia do paciente e monitoramento remoto por meio de dispositivos de internet das coisas. E 65% admitiram não ter contato com nenhum desses sistemas.
Para 77,2%, a justificativa para esta falta de intimidade com as novas tecnologias é a ausência de treinamento e recursos e 44,3% responsabilizaram a restrição de custos e o orçamento. Já 30,4% apontaram a resistência dos colegas ou da gerência dos locais de trabalho e 22,8% atribuíram ao receio com a manutenção da privacidade dos dados.
Mas há luz no fim do túnel: apesar de, por enquanto, não serem recursos presentes na rotina clínica e cirúrgica, cerca de 85% afirmaram que gostariam de ter mais informações sobre a incorporação das novas tecnologias na saúde.
Perfil dos entrevistados
38% dos respondentes tinham entre 25 e 34 anos; 26,6% entre 35 e 44 anos; 13,9% de 45 a 54 anos e outros 13,9 de 55 a 64 anos. Os especialistas formaram a maioria com 45,6% do total; 16,5% eram estudantes de pós-graduação ou residência; 13,9% eram mestres e 8,9% universitários. Os consultados atuam em medicina, enfermagem, nutrição, educação física, fisioterapia, tecnologia e consultoria médica.
O Congresso da SOCESP de 2023 contou com 760 conferencistas dos Estados Unidos, Canadá, Itália, além de lideranças acadêmicas da Cardiologia e profissionais de educação física, enfermagem, farmacologia, fisioterapia, nutrição, odontologia, psicologia e serviço social e um grupo de estudos em cuidados paliativos em mais de 800 palestras e debates. Foram 7.684 pessoas vindas de todos os estados brasileiros, sendo 6.327 médicos, residentes e acadêmicos de medicina, 1.083 de áreas interdisciplinares da saúde e 74 de outros segmentos.
Medicina de hoje
A Arena de Inovação e Tecnologia da SOCESP contribuiu para ampliar conhecimento científico ao abordar temas de fundamental importância para o avanço da medicina. Presente no Congresso da SOCESP há duas edições, trata-se de um evento dentro do evento, com grade de programação própria e específica, com conteúdo sobre novas tecnologias aplicáveis à cardiologia em particular e à medicina em geral. ChatGPT, IA e seu impacto na cardiologia; tele monitoramento assistido; impressão 3D do coração e o ecossistema das HealthTechs foram algumas das oficinas da última edição.
As aulas da arena são verdadeiros catalisadores e proporcionam um ambiente inspirador para aprendizado, networking e divulgação do conhecimento. E isso vai de encontro à expectativa de 85% dos entrevistados, que gostariam de ter acesso a informações sobre este universo. Para este grupo, o convite da SOCESP é oportuno: o time técnico e científico da Arena de Inovação e Tecnologia já está desenvolvendo a versão 2024 do encontro. Porque o futuro já chegou e tecnologia não é ficção científica: é instrumento de trabalho do médico do século 21.
*Ieda Jatene é presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo – SOCESP (gestão 2022/2023) e Guilherme Rabello é head de inovação do Instituto do Coração (InCor) e coordenador da Arena de Inovação do Congresso da SOCESP.