6 dicas para implementar práticas de segurança nas instituições
Por José Branco
A segurança do paciente é um pilar fundamental para a qualidade da assistência em saúde. Apesar de sua importância reconhecida, a implementação efetiva de práticas de segurança enfrenta diversos obstáculos nas instituições de saúde brasileiras. Dentro das clínicas e hospitais é possível compreender como resistência à mudança, escassez de recursos e comunicação ineficaz comprometem a adoção de protocolos fundamentais para a prevenção de eventos adversos e melhoria da segurança dos pacientes.
Além desses desafios estruturais e culturais, é importante destacar um novo aliado potencial: a inteligência artificial (IA). Com essa ferramenta, é possível transformar radicalmente a forma como identificamos riscos, prevenimos eventos adversos e melhoramos decisões clínicas. A literatura científica é clara: a maioria dos eventos adversos decorre não de más intenções, mas de falhas sistêmicas e limitações cognitivas. A IA ajuda a mitigar essas falhas ao processar grandes volumes de dados e reconhecer padrões invisíveis ao olho humano.
Para superar os desafios tradicionais e incorporar inovações tecnológicas, é preciso um esforço conjunto que envolva gestores, profissionais de saúde e todas as equipes multifuncionais. Pensando nisso, separei seis estratégias que contribuem para a melhoria e implementação das práticas de segurança:
1. Fortalecimento da Cultura de Segurança
A promoção de uma cultura organizacional que valorize a segurança do paciente é essencial. Isso implica em incentivar a comunicação aberta, o aprendizado com os erros e a participação ativa de todos os profissionais na identificação e mitigação de riscos. A substituição de uma cultura punitiva por uma abordagem de aprendizado contínuo é fundamental para engajar as equipes na adoção de práticas seguras.
Fora isso, ferramentas de IA com processamento de linguagem natural (NLP) já são capazes de analisar relatórios de incidentes e identificar padrões emocionais, fatores latentes e áreas críticas em larga escala — um apoio importante para compreender a maturidade da cultura de segurança dentro da instituição.
2. Capacitação Contínua dos Profissionais de Saúde
Investir em programas de educação permanente é importante para manter os profissionais atualizados sobre as melhores práticas de segurança. Treinamentos regulares, workshops e simulações realísticas podem aprimorar as habilidades das equipes e promover a adoção consistente de protocolos de segurança.
Nesse contexto, soluções com suporte à decisão clínica baseadas em IA estão ganhando espaço. Algoritmos podem auxiliar médicos e enfermeiros com recomendações alinhadas às diretrizes clínicas e evidências atualizadas — como, por exemplo, a escolha de um antibiótico empírico com base no microbioma local e perfil do paciente — reduzindo a variabilidade de condutas e promovendo maior aderência às melhores práticas.
3. Engajamento da Liderança Institucional
O comprometimento da alta gestão é determinante para o sucesso das iniciativas de segurança. Líderes devem participar ativamente das ações de segurança, demonstrando seu valor estratégico e incentivando a adesão das equipes. A liderança também tem papel fundamental na promoção do uso seguro e ético de tecnologias baseadas em IA, garantindo que essas ferramentas sejam utilizadas com foco no cuidado centrado no paciente.
4. Melhoria da Comunicação Interprofissional
A adoção de ferramentas padronizadas de comunicação pode reduzir falhas na transmissão de informações entre profissionais. Além disso, promover reuniões regulares e huddles diários pode fortalecer a colaboração e a coordenação das equipes. A tecnologia, mais uma vez, pode colaborar: sistemas de IA podem monitorar e rastrear dados de prontuários e identificar riscos antes que sejam comunicados formalmente.
Um exemplo prático é o uso de modelos preditivos baseados em machine learning que antecipam deterioração clínica, sepse, risco de quedas ou úlceras de pressão com horas de antecedência — permitindo intervenções clínicas proativas. O sistema Deterioration Index, da Epic, por exemplo, mostrou uma redução de 44% em paradas cardíacas em hospitais que o implementaram.
5. Implementação de Sistemas de Notificação de Eventos Adversos
Estabelecer sistemas eficazes para o relato de incidentes e eventos adversos é fundamental para identificar áreas de risco e implementar melhorias. Esses sistemas devem ser não punitivos e acessíveis, incentivando os profissionais a reportarem ocorrências sem receio de represálias.
Nesse cenário, a IA também pode desempenhar um papel decisivo. Sistemas automatizados são capazes de “ler” prontuários eletrônicos e identificar eventos adversos não notificados — como reações adversas a medicamentos ou erros de dosagem — com sensibilidade superior aos métodos tradicionais de auditoria por amostragem. Isso amplia a capacidade de vigilância e aumenta a transparência dos processos assistenciais.
6. Adequação da Infraestrutura e Recursos
Garantir recursos adequados, incluindo pessoal suficiente, equipamentos e tecnologias apropriadas, é essencial para a implementação eficaz das práticas de segurança. A escassez de recursos pode comprometer a adesão aos protocolos e aumentar o risco de eventos adversos.
Um bom exemplo de tecnologia com impacto direto é a reconciliação medicamentosa automatizada. A IA pode detectar erros de prescrição, interações medicamentosas perigosas e omissões críticas, especialmente durante transições de cuidado. Estudos mostram que esses sistemas aumentam a acurácia da prescrição em até 90% (David W. Bates, NEJM Catalyst, 2022).
*José Branco é Presidente na Sociedade Médica de Oxigenoterapia Hiperbárica, faz parte da Direção Executiva do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente, atua como Diretor Técnico do Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e é Diretor Médico da CLOUDSAÚDE.