5 recomendações do Choosing Wisely lançadas pela AMIB
A AMIB acaba de lançar no Congresso Brasileiro de Medicina Intensiva as cinco recomendações da campanha Choosing Wisely. A campanha foi lançada com o objetivo de conscientizar as especialidades médicas de que o uso de determinados procedimentos pode ser desnecessário e até mesmo maléfico para o paciente.
Para lançar as recomendações, participaram Dr. Ederlon Rezende, coordenador da iniciativa, Dr. Ciro Leite Mendes, presidente da AMIB e, apresentando as recomendações, os intensivistas Dr. Alvaro Rea Neto, Dra. Mirella Cristine de Oliveira, Dr. Marcos Knibel, Dr. Nelson Akamine e Dr. Cristiano Franke, além de mais de 100 ouvintes.
Confira as recomendações:
1) Não usar ou manter antibióticos desnecessariamente
Restringir o uso de antibióticos para pacientes com infecção, sempre observando os critérios clínicos e pelo menor tempo possível. Descalonar o espectro antimicrobiano assim que as culturas estiverem disponíveis tem se mostrado a melhor prática segundo as evidências disponíveis.
Para Dr. Alvaro Rea Neto, esse é um grande desafio, pois o fenômeno das bactérias resistentes já é considerado uma emergência mundial. De acordo com estudo encomendado pelo governo britânico e divulgado em 2014, a partir de 2050, essas bactérias matarão mais que o câncer, levando cerca de 10 milhões de pacientes a óbito ao ano.
2) Não usar sedação excessiva
Limitar o uso de sedação aos pacientes com indicação precisa, assim como utilizar a menor quantidade de sedativos possível, apenas com o objetivo de manter o conforto do paciente, utilizando escalas para avaliar sistematicamente a titulação das doses das drogas em uso mostram melhores resultados nos desfechos clínicos.
“Utilizamos muito o conceito do eCASH com objetivo de se preocupar com o conforto do paciente, não necessariamente utilizando a analgesia e sedação. O foco passa a ser uma abordagem multidisciplinar e holística. Se o paciente está confortável passa a receber outros tipos de cuidado, focados em sono, contato com familiares e abordados de maneira multidisciplinar” comentou Dra. Mirela em sua apresentação.
3) Não manter o paciente imobilizado no leito, desde que não haja indicação precisa
A imobilização de pacientes críticos está associada a maior incidência de complicações e tempo de permanência no hospital. Existem evidências de que a mobilização precoce no leito e fora dele acelera a recuperação da doença crítica e melhora a qualidade de vida durante a internação e após a alta.
“É absolutamente fundamental: o doente crítico não deve ficar imóvel no leito. No meu caso, tivemos custo zero em implementar uma política que valorizasse a mobilidade. Os fisioterapeutas do CTI estavam muito focados na ventilação mecânica, e a VM evoluiu bastante. Hoje conseguimos resultados muito melhores na ventilação e conseguimos alocar o fisioterapeuta para se envolverem mais na mobilização precoce. Isso trouxe resultados bárbaros!” comemorou Dr, Akamine, em respondendo perguntas do público.
4) Não utilizar ou manter dispositivos invasivos desnecessariamente
A indicação e a manutenção de dispositivos invasivos devem acontecer sempre de forma restritiva, respeitando critérios precisos. A vigilância rotineira é indicada para limitar ao máximo a indicação e o tempo de utilização de tubos traqueais, sondas digestivas e urinarias, drenos cavitarios e cateteres diagnósticos ou terapêuticos. Existem evidências indicando que recursos invasivos determinam infecções preveníveis e que o tempo de uso é prolongado por comodidade da equipe profissional, ou ausência de protocolos para retirada dos mesmos.
“Do ponto de vista de gestão, o que melhor funciona no Brasil para implementar a recomendação é instituir de maneira automatizada e feita por um não-médico. Criar um protocolo fará com que outros profissionais, devidamente capacitados, possam retirar dispositivos como sondas e antibióticos” comenta Dr. Akamine.
5) Não oferecer suporte avançado de vida a pacientes que não tenham possibilidade de recuperação
Evite instituir ou manter suporte avançado em pacientes graves com alta probabilidade de óbito ou sequela significativa, sem considerar a possibilidade de instituir cuidado paliativo. As decisões clinicas dentro deste contexto devem ser tomadas sempre respeitando a vontade expressa do paciente ou de seus familiares, após amplo diálogo e consenso.
“Costumamos dizer que morrer com dignidade deve ser um processo indolor, que expresse um desejo de alívio dos sofrimentos, não apenas de natureza física, acompanhado de entes queridos e, muitas vezes, envolvido com a vivência religiosa do paciente no processo, respeitando suas crenças. Nós, como médicos, temos o dever de honrar esse momento” comentou Dr. Cristiano Franke, diretor financeiro da AMIB. “Acontece que para o brasileiro, uma das prioridades para a hora da morte é viver o máximo de tempo possível. Temos esse desafio colocado e precisamos conscientizar cada vez mais sobre a qualidade na terminalidade” finaliza o intensivista
Você pode conferir todos os materiais da campanha e difundir as recomendações na UTI que trabalha, através do link: https://amorintensopelavida.com.br/choosing/