Congresso debate os avanços e desafios no acesso à radioterapia
Vitória será a sede do 27º Congresso da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), que acontece entre os dias 30 de julho e 2 de agosto de 2025, reunindo os principais especialistas da área de radioterapia para discutir avanços tecnológicos e desafios no acesso ao tratamento. Os vitorienses receberão pela primeira vez o maior evento nacional da área, com foco em destacar inovações transformadoras por meio da colaboração, com um foco especial em práticas que garantam um cuidado ao paciente cada vez mais acessível e de alta qualidade.
O Congresso, que representa a maior imersão em radioterapia também conta com a realização simultânea do 15º Encontro de Residentes Médicos em Radioterapia, da 24ª Jornada de Física Médica, do 21º Encontro de Enfermagem, do 20º Encontro de Técnicos e Tecnólogos em Radioterapia e do 6º Encontro de Dosimetristas. Para o presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), Gustavo Nader Marta, o encontro é uma oportunidade estratégica para fortalecer a radioterapia no Brasil. “É um momento de integração entre profissionais de todo o país, que permite alinhar práticas, apresentar inovações e debater soluções para garantir um tratamento mais eficaz e acessível aos pacientes oncológicos”, diz Marta.
Programação do 27º Congresso da Sociedade Brasileira de Radioterapia
A programação inicia com um workshop prático sobre delineamento de tumores torácicos e abdominais. Já o segundo dia do evento, traz debates aprofundados sobre o câncer de mama, com foco em decisões terapêuticas baseadas em escore molecular, uso de radioterapia após resposta patológica completa e abordagens modernas como o ultrahipofracionamento com destaque para a participação da professora da Universidade de Cambridge, Charlotte Coles, referência internacional no tema em radioterapia para o câncer de mama.
Também ganham espaço os desafios do atendimento oncológico pelo SUS, com uma sessão dedicada à política do Ministério da Saúde e à realidade enfrentada pelos pacientes na rede pública. A tecnologia e inovação no setor público e suplementar também estarão em pauta, incluindo uma aguardada palestra do especialista canadense Alejandro Berlin, que é radio-oncologista e pesquisador clínico no Princess Margaret Cancer Center sobre aplicações reais de inteligência artificial na radioterapia. O evento ainda contará com nomes como Fabio Ynoe de Moraes e Jay Detsky, ambos do Canadá, em sessões sobre tumores cerebrais e avanços em imagem e terapias integradas.
No terceiro dia de Congresso ganham foco nas aplicações avançadas da radioterapia e no uso de tecnologia de ponta. Entre os destaques da programação, o norte-americano Sean Collins, professor de Radiologia e diretor de Radioterapia Robótica da Georgetown University, participa de sessões sobre a radioterapia estereotáxica corporal (SBRT) robótica da próstata e critérios para drenagem pélvica em radioterapia de resgate. Já o canadense Alejandro Berlin palestrará evidências sobre o papel da hormonioterapia no risco intermediário e o uso de SBRT em câncer de rim. Na sequência, Jay Detsky falará sobre SBRT em metástases vertebrais. A alemã Stefanie Corradini, chefe de radioterapia para câncer de mama na LMU de Munique, abordará os avanços tecnológicos no tratamento desse tipo de tumor. Completando o time internacional, Daniel Moore, do Princess Margaret Cancer Center, discute o uso da ressonância multiparamétrica e da radiômica como ferramentas para personalizar a radioterapia.
O último dia será dedicado às inovações no tratamento do câncer de pulmão, com foco especial no uso da SBRT. Serão discutidas abordagens atuais da neoadjuvância no câncer de pulmão não pequenas células (CPNPC), tanto em estágios iniciais quanto avançados, além de estratégias personalizadas com SBRT para pacientes com doença oligometastática e de alto risco. As sessões também abordarão a integração da SBRT com terapias sistêmicas, buscando potencializar os resultados clínicos, e os avanços no tratamento do carcinoma de pulmão de pequenas células. De forma inivadora, a sessão de pulmão é uma parceria da SBRT e Grupo de Oncologia Torácica (GBOT) e IASLC (International Association for the Study of Lung Cancer) que contará com a presença do Prof. Puneeth Iyengar ( Memorial Sloan Kettering Cancer Center).Espírito Santo e a radioterapia
Segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), apesar de o Espírito Santo ter registrado 3.562 sessões de radioterapia em 2024, o número está aquém da demanda estimada. Segundo o INCA, o estado deve registrar 13.410 novos casos de câncer este ano, dos quais 75% — ou aproximadamente 10.057 pacientes — buscarão tratamento pelo SUS. Considerando que cerca de 60% desses casos têm indicação para radioterapia, estima-se que 6.034 pessoas deveriam estar recebendo o tratamento na rede pública. No entanto, com base nos números atuais, aproximadamente 2.472 pacientes (59%) não estão tendo acesso ao procedimento, o que reforça a urgência de ampliar a oferta e a estrutura da radioterapia no sistema público de saúde. “Esses números evidenciam a importância de fortalecer o SUS com investimentos em infraestrutura e estratégias mais eficazes de distribuição de recursos.”, explica Gustavo.
Plano de expansão da radioterapia no SUS não responde às necessidades do setor
O Plano de Expansão da Radioterapia na saúde pública (PER-SUS), instituído com o objetivo de expandir e criar mais serviços de radioterapia nos hospitais do SUS, tem enfrentado dificuldades para alcançar sua proposta inicial. Após dez anos de execução, o projeto entregou 51% das soluções planejadas, mas ainda não conseguiu resolver a principal dificuldade do setor, que é a falta de sustentabilidade econômica, agravada pela desatualização do reembolso para os procedimentos. “Apesar das boas intenções do PER-SUS, a realidade mostra que não tem sido suficiente para atender à crescente demanda e nem para garantir a continuidade dos serviços oferecidos pelo SUS. O reembolso atual não cobre os custos operacionais, o que impacta diretamente a qualidade do atendimento e a ampliação da oferta de radioterapia para a população que, entre as consequências, em muitos casos precisa percorrer longas distâncias para receber o tratamento”, finaliza o especialista.